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Banco do Brasil vai vender fundos fora das suas agências

Publicado em: 22/05/2019

Maior gestora de recursos brasileira, com quase R$ 970 bilhões sob seu guarda-chuva, a BB DTVM pretende defender seu quinhão e não ceder fatias de mercado à concorrência das assets independentes que ganharam o mundo com o avanço das plataformas de investimentos.

Segundo Carlos André, o novo executivo-chefe, o plano é aumentar a capacidade de gestão com fundos de maior valor agregado. Em outra frente, a casa planeja se projetar para fora da sua rede bancária e ofertar alguns de seus fundos por meio de distribuidores externos.

As estimativas para o crescimento da divisão de gestão de recursos de terceiros neste ano estão entre 7% e 12%. Isso significa que em algum momento neste ano, a BB DTVM vai ultrapassar a simbólica marca do R$ 1 trilhão, uma cifra e tanto. Pelos números apresentados na semana passada junto com as demonstrações financeiras da instituição, no primeiro trimestre a gestora teve um incremento de 4,4% no seu patrimônio.

Independentemente dos estudos dentro do governo para dar um novo destino para a BB DTVM — que cogita a venda da gestora ou a listagem da empresa na bolsa, a exemplo da BB Seguridade —, André diz que seu mandato é tocar o negócio da melhor maneira possível e continuar gerando valor para o BB.

“Essas eventuais discussões relacionadas a qualquer movimento mais estratégico envolvem o conselho diretor do BB e da BB DTVM. Se necessário, vamos ser chamados para contribuir, mas não tem nada definido até agora”, diz. “Para a indústria de fundos como um todo, receitas de prestação de serviços são um componente importante do resultado. Essa é uma receita que não consome capital.”

Aos 55 anos, André é o tipo de executivo que pode ser chamado de “prata da casa”. Ingressou no Banco do Brasil há mais de três décadas na agência Cinelândia, no centro do Rio. Antes de chegar à BB Securities em 2000, trabalhou em diversas áreas do BB, incluindo a diretoria de finanças, mercado de capitais, negócios Internacionais e a própria BB DTVM (entre 1992 e 2000).

Essa segunda passagem começou em 2009, como diretor de gestão de fundos. Passou a acumular o cargo de executivo-chefe em dezembro, com a aposentadoria de Paulo Ricci, sendo confirmado no posto, já na gestão do novo presidente do BB, Rubem Novaes, em fevereiro.

Junto com André, uma nova diretoria assumiu em fevereiro. Marcelo Marques Pacheco, que era gerente executivo de fundos multimercados e offshore, passou a ser o novo diretor de gestão de ativos; Aroldo Salgado de Medeiros Filho, o novo diretor comercial de produtos, enquanto João Vagnes de Moura Silva permaneceu como diretor de administração de fundos e gestão da empresa.

Linha de defesa

No comando da gestora, uma das linhas de defesa de André, num mercado em que vê em rápida transformação, é rechear a grade com estratégias ativas, com potencial de trazer retornos acima dos referenciais de mercado, como o CDI (que acompanha o desempenho da taxa Selic) ou o Ibovespa (principal indicador da bolsa brasileira) — e com mais risco também.

Multimercados de crédito privado, fundos que combinam a gestão de ativos locais com a alocação no exterior e a estratégia “long-biased” — que calibra a exposição em ações conforme o cenário — são exemplos que começaram a ser testados ao longo do ano passado. Com volatilidade média de 6% (a estimativa de quanto a carteira pode ganhar ou perder num único dia), os novos fundos atraíram cerca R$ 300 milhões, nos últimos dez meses, calcula o executivo.

Na área de renda variável, a BB DTVM tem pensado em fundos setoriais e temáticos. Um deles, lançado em setembro, para os clientes afortunados do private banking e da segmentação de alta renda, tem como foco empresas que valorizam a equidade de gênero em posições de comando. A carteira faz um mix entre ações de companhias brasileiras e estrangeiras que sejam signatárias dos princípios de empoderamento feminino da Organização das Nações Unidas (ONU). De lá para cá, o portfólio atraiu cerca de R$ 170 milhões.

Comparativamente ao gigantismo da BB DTVM, os multimercados, com R$ 18,6 bilhões, ainda representam uma pequena fração da gestora. Os fundos de ações, por sua vez, reuniam R$ 51,7 bilhões ao fim de março.
“O mercado, de fato, passou por uma revolução e o ponto fundamental, talvez o principal catalisador da indústria de fundos, tenha sido a mudança da taxa básica de juros. Caminhamos para mais de dois anos de juros no menor patamar histórico. Isso vem contribuindo para a mudança de mix da indústria de investimentos, e em especial para a de fundos”, resume André.

As carteiras de renda fixa representam a maior parte do bolo da BB DTTVM, com mais de R$ 600 bilhões. Questionado se a ideia é dar um maior equilíbrio à composição do mix sob gestão, o executivo diz que o importante é estar preparado para essa transição que o investidor brasileiro, de todos os portes, tem feito, em busca de maior diversificação.

Com a Selic em dois dígitos, não havia razão para sair da zona de conforto das aplicações atreladas a juros de mercado. Agora, com a taxa básica da economia em 6,5% ao ano, e com chances de se manter nesse patamar, a história muda de figura.

Concorrência dentro de casa

Paralelamente, o BB, num trabalho conjunto com a BB DTVM, vem abrindo a sua plataforma para fundos de terceiros para a segmentação Estilo, com renda mensal a partir de R$ 10 mil.

Começou em julho do ano passado com gestoras especializadas em multimercados, como Bahia Asset, Gávea e SPX Capital, ampliando a lista em maio último com Truxt Investimentos e Adam Capital. André diz que esse é um movimento natural do banco, que há anos tinha o chamado modelo de arquitetura aberta restrito ao private banking.

A intenção, agora, é fazer a mão contrária e oferecer fundos de gestão da BB DTVM em plataformas de investimentos externas, caminho que já começou a ser testados por concorrentes como Itaú e Bradesco. O executivo diz que a casa ainda não bateu o martelo de que fundos podem ser oferecidos da porta para fora, mas que tem uma lista de candidatos em avaliação.

“A ideia é ter produtos que, na prática, representem soluções diferenciadas numa relação risco/retorno em relação à média do que as plataformas oferecem”, resume. “É um exercício interessante identificar onde nos diferenciamos de casas independentes, talvez duas a quatro estratégias dentro de uma gama enorme e avaliar quais têm chances de se destacar”, afirma André.

A pré-seleção inclui de multimercados a fundos de ações e de renda fixa, “produtos com algum valor agregado e boa consistência de retornos”.

Na avaliação do executivo da BB DTVM, olhando anos à frente, a diferença entre as diversas plataformas acessadas pelo investidor não vai estar na grade e sim na experiência que o setor vai entregar para o aplicador. Para ele, o casamento da abordagem digital com a assessoria financeira, para, de fato, dar o melhor aconselhamento para o investidor, é que vão pesar nas escolhas.

Questionado se haveria alguma mobilização na instituição para baratear fundos com altas taxas de administração, ele diz que à medida que percebe perda de competitividade, a gestora cria produtos com custos melhores.

“A tendência é que estratégias tradicionais tenham alguma compressão de taxas. Não vai ser do dia para noite, vai ser um movimento gradativo”, afirma André. “A gente procura lançar soluções que sejam boas alternativas para produtos menos competitivos na grade.”

Fonte: Valor Investe

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