Suportar a pressão à custa de muita energia e antidepressivos?

Publicado em: 20/04/2017

No nosso cotidiano o mais comum não é um vendaval de pressões e estresse, mas as várias pequenas situações que vão se somando e que transformamos em um vendaval

Você conhece a fábula “O bambu e o carvalho”, do escritor grego Esopo? Aquela que nos ensina que devemos ter mais flexibilidade e cuidar de nossas emoções no dia a dia. Se já a conhecia, vale a pena lê-la novamente. Senão, leia-a com muita atenção.

– Condoo-me de você, disse orgulhoso o carvalho a um caniço de bambu. Mal sopra branda aragem e aí está a inclinar-se, a tremer, a humilhar-se e dobrar-se. Faça como eu. Por mais rijo que sopre o furacão, oponho-me altivo, obrigo-o a quebrar-se de encontro a mim, a desviar-se.

— Quisera fazer assim, mas não posso, respondeu o caniço. Você é robusto e eu, fraco. Suas raízes enterram-se rijas pela terra adentro. As minhas espalham-se pela superfície.

O carvalho sorriu, desdenhoso e sobranceiro.

Subitamente levanta-se uma formidável ventania, um furacão. O carvalho quer resistir. Porém, com o seu ímpeto, o furacão o arranca pelas raízes. O caniço, porém, havia vergado, havia se inclinado até o chão e, quando passou o tufão, reergueu-se sem ter sofrido dano algum.

Que lições podemos tirar da flexibilidade do bambu, que apesar da sua fragilidade, comparada à robustez do carvalho, sobrevive ao furacão, enquanto o frondoso carvalho é arrancado com raízes e tudo? Como podemos utilizar essa metáfora em nosso dia a dia e, com sabedoria, termos a flexibilidade do bambu para passar ilesos pelo vendaval?

Diante das pressões do dia a dia, a nossa tendência natural é tentar resistir à pressão. Tentamos suportar, ser mais fortes do que ela, lutar contra ela com todas as nossas forças. Essa estratégia muitas vezes funciona. Mesmo às custas de muita energia, terapia e antidepressivos.

Isso acontece porque quando somos submetidos à pressão, geralmente, ativamos o “modo sobrevivência”, e tentamos lutar ou fugir.

No nosso cotidiano, se pararmos para observar, o mais comum não é um vendaval de pressões e estresse. Mas as várias pequenas situações de estresse que vão se somando e se parecem com um vendaval. Por exemplo, ao sair de casa, você se depara com o trânsito congestionado e o transporte público lotado. Se olharmos esse fato isoladamente, ele não tem o potencial de gerar grandes desconfortos. É desconfortável, mas o que incomoda realmente é o acúmulo de todas as tensões e pequenos desconfortos como a cara feia de um colega de trabalho, o filho que vai mal na escola e por aí vai.

Para lidar com tudo isso, precisamos separar alguns momentos em nosso dia para refletir sobre qual é a importância que estou dando para cada um desses fatos. Pergunte-se: Esse fato isolado, que significado tem? Será que não estou dando uma importância maior do que ele realmente tem?

Precisamos separar alguns momentos em nosso dia para cuidar da nossa saúde emocional. E cuidar dela é algo que exige treino, dia após dia. Não é algo que possamos comprar. É algo que cultivamos dentro de nós.

Esses momentos para cuidar de nós próprios são como o curvar do bambu diante da ventania. O primeiro passo é reservar um momento para perceber e se perguntar: Quais emoções eu vivi hoje? Quantas dessas foram negativas? E ao se dar conta disso existe um jeito rápido de começar a mudar a percepção e a reação a eles.

Mude o foco – Em vez de ficar remoendo o problema, tome uma respiração profunda e procure olhar para a solução. Passe a relembrar os momentos alegres que teve no seu dia. O sorriso do seu filho, um abraço da companheira(o), uma conversa produtiva com um colega do trabalho…

Direcione o foco para as qualidades que você já tem. Coragem, iniciativa, sinceridade, carinho, amor, compaixão, altruísmo, benevolência, cooperação – mesmo que você não pratique isso o tempo todo. Certamente, existe na sua história de vida momentos em que você agiu com bondade. E se você foi capaz de fazer isso uma vez, você é capaz de repeti-lo.

Ao mudar o foco e relembrar desses momentos positivos, começamos a construir um estado emocional melhor. E, acredite, podemos fabricar qualquer emoção que quisermos viver. Basta seguir a fórmula que irei passar nos artigos subsequentes. E a mudança de foco é uma parte importante desse processo.

Não podemos evitar momentos dolorosos, mas viver em sofrimento é uma opção. E você pode escolher viver na abundância e felicidade. Você merece!!!

Marcelo Katayama – Médico e terapeuta da Núcleo Ser Treinamento e Consultoria.