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BB e Caixa fazem varredura em empréstimos concedidos à JBS após delação de Joesley Batista

Publicado em: 26/05/2017

Os bancos oficiais estão fazendo uma varredura interna sobre as operações com o grupo J&F (dono da JBS) e já avaliam que será preciso elevar o valor de suas provisões para créditos duvidosos (espécie de reserva para se proteger do risco de calote), diante das incertezas sobre o futuro da companhia. Ao mesmo tempo, o presidente Michel Temer vem sendo aconselhado por auxiliares diretos e líderes dos partidos da base aliada a fazer um pente-fino nas instituições federais. O objetivo é trazer a público as condições dos empréstimos concedidos à JBS, numa espécie de retaliação aos donos da empresa, que delataram esquema de corrupção envolvendo a classe política.

A ideia é envolver também a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), exigindo rapidez nos processos de investigação de eventuais irregularidades cometidas pela empresa no mercado. Os defensores da operação alegam que a sociedade deve tomar conhecimento dos benefícios concedidos ao grupo pelos bancos oficiais. Numa postura mais radical, há quem proponha, inclusive, a suspensão de operações já engatilhadas.

“Há uma percepção por parte dos empresários de falta de isonomia”, disse um auxiliar do presidente, acrescentando que a JBS teve tratamento privilegiado.

Empréstimo de R$ 2,7 bilhões

Fontes ligadas ao Banco do Brasil informaram que a instituição fez várias transações com o grupo, bem como com seus fornecedores, mas que elas são “defensáveis”, pois foram realizadas dentro dos padrões de mercado. O mesmo acontece com a Caixa Econômica Federal. Mas há receio de prejuízo, devido ao grau elevado de exposição dos bancos públicos ao grupo J&F. A situação do BNDES também é complicada, porque o banco tem participação na empresa.

A Caixa criou um grupo de trabalho para levantar todas as operações de crédito concedidas à holding J&F, inclusive por intermédio do fundo de infraestrutura do FGTS (FI-FGTS). Uma das orientações é conversar também com outros bancos, inclusive privados, para traçar uma ação conjunta.

Os parlamentares estão trazendo à tona, por exemplo, um empréstimo concedido pela Caixa à J&F entre 2015 e 2016 no valor de R$ 2,7 bilhões para aquisição da empresa Alpargatas S.A. O banco público financiou 100% da operação e ainda deu prazo de carência de dois anos. A transação está sendo investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Oficialmente, os bancos não comentam o assunto sob alegação de que os dados dos seus clientes são sigilosos. “A Caixa informa que já instaurou procedimento de apuração interna e está em contato permanente com as autoridades, prestando irrestrita colaboração com os trabalhos, atuação que continuará sendo adotada pela empresa”, disse o banco em nota.

Segundo uma fonte da equipe econômica, o governo não pode interferir diretamente nos bancos federais, seja para liberar ou segurar empréstimos. Sobre as operações já realizadas, os bancos federais estão cumprindo determinação do BC, que é reexaminar a classificação de risco de toda empresa que entra em situação de dificuldades financeira, como está acontecendo com a J&F. Com isso, o crédito ficará mais restrito, e o aumento da provisão para créditos duvidosos é uma consequência, disse a fonte, lembrando que as ações da JBS caíram mais de 30% na segunda-feira.

Em março de 2017, a JBS era a segunda maior devedora da Dívida Ativa da União, com débito de R$ 2,34 bilhões, segundo lista divulgada pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Atualmente, conforme o site da PGFN, a empresa tem R$ 121,9 milhões em dívidas previdenciárias inscritas e R$ 2,8 milhões em dívidas tributárias não previdenciárias, totalizando R$ 124,8 milhões. A Receita Federal informou que os dados de débitos tributários que ainda estão sendo questionados são sigilosos.

A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara deve aprovar hoje um requerimento para que os presidentes do Banco Central, Ilan Goldfajn, e da CVM, Leonardo Pereira, além do diretor-presidente da BM&F, Celso Finkelstain, prestem esclarecimentos sobre a JBS. No Senado, Ataídes Oliveira (PSDB/TO) começou ontem a recolher assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar, no prazo de 180 dias, os danos causados pelo grupo JBS ao mercado financeiro. A empresa teria se aproveitado de informações privilegiadas para lucrar com a compra de dólares, beneficiando-se das operações cambiais feitas às vésperas de o escândalo estourar.

Fonte: Época Negócios

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