2017, o ano em que a JBS abalou o país

Publicado em: 28/12/2017

Este ano, os irmãos Batista foram presos, as empresas do grupo J&F perderam valor, receberam multas bilionárias, venderam ativos e renegociaram dívidas

São Paulo – O dia 17 de maio foi um dos mais marcantes para o ano, pelas suas consequências para a política e economia. As reviravoltas se estendem até hoje, por conta de uma gravação feita por um dos maiores empresários do país até então.

Joesley Batista, que na época era o presidente da JBS, teria gravado o presidente Michel Temer (PMDB) dizendo a ele “tem que manter isso, viu?”, sobre mesada milionária ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), preso.

A gravação, que vazou na noite de 17 de maio, fazia parte de documentos entregues à Procuradoria Geral da República, em delação premiada no âmbito da Lava Jato. Na ocasião, Temer negou que tenha pedido ou autorizado pagamentos para conseguir o silêncio de Cunha.

Ele não foi o único envolvido na delação de Joesley. O irmão Batista disse que seu grupo empresarial pagou, “nos últimos anos”, 400 milhões de reais em propina a mais de 1.800 políticos e servidores públicos. A lista, segundo ele, inclui senadores, deputados e presidentes da República.

Depois que a notícia foi publicada, uma avalanche atingiu a empresa, o mercado e a política.

Nos meses que se seguiram, Temer foi denunciado por corrupção passiva pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, os irmãos Batista foram presos, as empresas do grupo J&F perderam valor, receberam multas bilionárias, venderam ativos e renegociaram dívidas.

Para entender as consequências desse episódio para a JBS e sua holding, a J&F, o site EXAME fez um breve resumo. Confira abaixo.

Quedas vertiginosas
As consequências da delação foram imediatas. Em um só dia, depois do vazamento da gravação, a JBS perdeu 2,5 bilhões de reais em valor de mercado. A bolsa abriu em queda de mais de 10% e as negociações chegaram a ser paralisadas.

Porém, a empresa tentou lucrar com quedas vertiginosas. De acordo com denúncias, a JBS teria comprado dólares em grandes quantidades antes do fechamento do mercado e ganhado com a súbita desvalorização do real.

As denúncias sobre essas atitudes irregulares, de manipulação de preços e uso de informação privilegiada, são alvo de diversos processos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A JBS desmente a manipulação de mercado.

Renúncias
Poucos dias após a delação, os irmãos Wesley e Joesley deixaram diversos cargos nas empresas do grupo. Outros executivos e membros dos conselhos também saíram das companhias.

O chairman Vincent Trius e Joesley renunciaram como membros do conselho de administração da Alpargatas. Wesley deixou a presidência do conselho de administração da Pilgrim’s Pride. Joesley também renunciou à presidência do conselho de administração da Vigor (onde foi substituído por Gilberto Xandó). Mais tarde, a presidência da JBS também mudou de comando.

Outras investigações
Ainda que a delação premiada que abalou o país tenha sido feita no âmbito da Operação Lava Jato, ela não é a única investigação na qual a JBS e sua controladora, J&F, foram envolvidas.

A Carne Fraca, deflagrada em abril deste ano, investigou mais de 63 alvos, para apurar a denúncia de que fiscais teriam recebido propina para emitir certificados de qualidade de diversos frigoríficos e empresas de alimentos processados. No âmbito dessa operação a JBS confirmou que três unidades produtivas foram investigadas, mas que “no despacho da Justiça, não há menção a irregularidades sanitárias da JBS”.

O frigorífico é o principal investigado da Operação Bullish, que investiga fraudes e irregularidades na liberação de apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à JBS, de mais de 8 bilhões de reais entre 2007 e 2011.

A Operação Greenfield investiga subornos e transações fraudulentas envolvendo fundos de pensão de estatais. A Sépsis apura sobre pagamentos de propinas para liberação do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), mantido com recursos do trabalhador e gerido pela Caixa.

A Cui Bono, verifica a cobrança de propina na própria Caixa. A JBS e sua holding, J&F, negam qualquer irregularidade investigadas nessas operações.

A Polícia Federal também deu início a Operação Tendão de Aquiles, que investiga uso de informação privilegiada para lucrar indevidamente no mercado de ações e de câmbio, e que foi finalizada em outubro.

Multa recorde
Por conta dessas investigações e delações de corrupção, a J&F firmou um acordo de leniência com o Ministério Público Federal no Brasil, com multa de 10,3 bilhões de reais.

A multa é a maior já fixada para um acordo desse tipo no país e no mundo e inclui fatos que são investigados por procuradores da República em cinco operações: Greenfield, Sépsis, Cui Bono, Bullish e Carne Fraca.

Já uma ação coletiva foi aberta contra a JBS nos Estados Unidos por investidores que compraram ações da empresa entre 2 de junho de 2015 e 19 de maio de 2017, informou nesta sexta-feira o escritório de advogacia Vincent Wong.

O Tribunal de Contas da União (TCU) também responsabilizou Joesley, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho por um prejuízo de 126 milhões de reais causado ao banco público em operação para a compra do frigorífico americano Swift, em 2007.

Venda de ativos
O grupo é conhecido por ter crescido por meio de aquisições. Em uma década, as compras somaram 20 bilhões de dólares e transformaram seu matadouro familiar na maior produtora mundial de carnes.

No entanto, para conseguir pagar uma multa bilionária recorde e arcar com as consequências das investigações da CVM, a holding J&F adotou rapidamente uma nova estratégia: vender ativos. O plano era levantar mais de 7 bilhões de reais em desinvestimentos.

O primeiro passo dessa estratégia foi dado no dia 6 de junho, quando a JBS vendeu por 300 milhões de dólares a totalidade das ações de suas subsidiárias detentoras das operações de carne bovina na Argentina, Paraguai e Uruguai para subsidiárias da Minerva.

A Alpargatas mudou de mãos logo depois. A fabricante de calçados foi vendida pela J&F no dia 12 de julho para a Itaúsa (holding de investimentos do Itaú), Cambuhy Investimentos (fundo da família Moreira Salles) e Warrant Administração de Bens e Empresas, por 3,5 bilhões de reais. A mexicana Lala abocanhou a participação da J&F e da JBS na Vigor por cerca de 5,7 bilhões de reais.

A processadora de carne de frango norte-americana Pilgrim’s Pride comprou a Moy Park da brasileira JBS, em um negócio avaliado em cerca de 1 bilhão de dólares. No entanto, essa operação tem uma reviravolta: a empresa compradora é, na verdade, uma subsidiária da própria JBS, com cerca de 78% de participação na americana.

A Eldorado, empresa de celulose, atingiu o maior valor de venda: 15 bilhões de reais. O comprador foi o grupo holandês Paper Excellence, que assinou a compra em setembro.

Negociar dívidas
Além das vendas de ativos, a JBS também negociou suas dívidas com bancos. Cerca de 17 bilhões de reais foram renegociados com credores como o Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander, HSBC e Citi.

Em julho, ela também firmou um acordo para preservar suas linhas de crédito com os bancos e, assim, assegurar a continuidade de suas operações. Por 12 meses, a partir de julho, 20,5 bilhões das dívidas das empresas foram estabilizadas.

Prisões e volta do patriarca
Depois de terem firmado acordos de delação premiada, os irmãos tiveram prisões preventivas decretadas por violação do mesmo acordo. Joesley Batista e Ricardo Saud, do grupo J&F, se entregaram na sede da Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo, no dia 13 de setembro, por ocultar informações dos promotores.

Wesley foi preso logo depois, como parte de um inquérito sobre uso de informação privilegiada, ou seja, a própria delação premiada, para ganhar dinheiro no mercado financeiro. Ambos negaram diversas vezes terem cometido qualquer irregularidade.

Com a ausência dos dois executivos, a família Batista decidiu indicar o patriarca José Batista Sobrinho, 84, para substituir Wesley Batista na presidência da companhia. O anúncio foi feito em setembro e ele irá cumprir o mandato do filho, que vai até 2019.

O pai, conhecido como Zé Mineiro, é fundador do Grupo JBS, que leva suas iniciais, e foi escolhido com o argumento de que dará “estabilidade” à companhia.

Wesley Batista Filho, primogênico de Wesley, também foi catapultado à diretoria da JBS. Com 26 anos, ele assumiu o comando da JBS na América do Sul e tomou assento no conselho de administração da empresa.

Porém, a decisão de manter membros da família no comando não agradou o BNDES, segundo maior acionista da empresa com participação de 21%.

Em outubro, os irmãos viraram réus por manipulação de mercado, quando o juiz federal João Batista Leite, da 6.ª Vara Federal, em São Paulo, aceitou a denúncia do Ministério Público Federal contra os empresários. Já em novembro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), negou pedidos de liminar em habeas corpus impetrados em favor deles.

Incertezas
Ao fim de um ano bastante turbulento, as incertezas sobre a companhia ainda não acabaram.

Uma das dúvidas é se a empresa conseguirá honrar suas dívidas. O pagamento de cerca de 20 bilhões de reais foi adiado até julho de 2018, mas não há garantias de que a empresa irá conseguir uma nova negociação – ou mesmo pagar o montante.

O comando da empresa também está nebuloso. Desde agosto o BNDES, segundo maior acionista da JBS, compra briga com a família Batista para afastá-la do comando, em um processo de arbitragem.

Outra questão é a continuidade das empresas que sobraram na holding, depois das vendas de ativos. Uma delas é o banco Original, que tem uma proposta de ser totalmente digital, sem agências físicas. Lançado em 2016, o banco perdeu o rumo e a credibilidade por conta da turbulência, além de acumular prejuízos.

A turbulência causada pela companhia ainda pode impactar o ano de 2018.

Fonte: EXAME

Em novos anexos, JBS afirma que ex-presidente do BB pediu R$ 5 milhões

Publicado em: 06/09/2017

Novos anexos da delação premiada da JBS afirmam que, em 2013, o então presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, foi à resistência do executivo Joesley Batista para pedir 5 milhões de reais emprestados. Segundo os anexos, Bendine fez a solicitação alegando a compra de um imóvel e nunca devolveu o dinheiro.

Joesley entregou ao Ministério Público Federal (MPF) planilhas com valores e datas de pagamento. Segundo o delator, Bendine foi pessoalmente à J&F, holding dos irmãos Batista que controla a JBS, acompanhado de um homem de cerca de 50 anos, e pediu parte dos 5 milhões de reais.

O empresário contou que Bendine afirmou que não beneficiaria o empresário no Banco do Brasil, pois o sistema de governança da instituição impediria atos ilícitos. Segundo o delator, Bendine declarou que se esforçaria pra atender a pedidos da JBS, não necessariamente no banco. Joesley disse que concordou em emprestar os milhões porque Bendine era influente no governo.
Lava Jato

Bendine presidiu o Banco do Brasil entre 17 de abril de 2009 e 6 de fevereiro de 2015, e foi presidente da Petrobras entre 6 de fevereiro de 2015 e 30 de maio de 2016. Ele foi foi preso no dia 27 de julho, na Operação Cobra, 42ª fase da Operação Lava Jato. O MPF denunciou o executivo pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, embaraço à investigação e organização criminosa.

Ele é acusado de exigir 17 milhões de reais em propinas da Odebrecht. Segundo a investigação, Bendine recebeu 3 milhões de reais em três parcelas de 1 milhão entre junho e julho de 2015 enquanto ocupava a Presidência da Petrobras.

Fonte: Veja.com

Bancos não querem descontar promissória de operações com a JBS

Publicado em: 01/06/2017

Mudança no modelo de pagamento pela principal empresa compradora do setor – JBS, falta de concorrência, queda nos preços da arroba, e apreensão dos quanto à liquidez de algumas indústrias, são apenas alguns dos problemas enfrentados pelos pecuaristas no curto espaço de tempo.

Desde que a JBS se tornou uma das protagonistas do escândalo de corrupção no Brasil, as vendas à vista foram suspensas. Sem alternativa ou precisando fazer caixa, o pecuarista se via obrigado a entregava suas animais, solicitar a NPR (Nota Promissória Rural) e realizar o desconto junto à instituição financeira, mas esse tipo de operação também está cada vez mais rara.

Segundo relatou Luis Fernando Conte, vice-presidente da Acrimat (Associação dos Criadores do Mato Grosso), os bancos não estão aceitando fazer a desconto. No estado, há relatos de tentativas no Banco do Brasil, Sicredi e Bradesco, todas sem sucesso.

No Mato Grosso do Sul, o pecuarista e conselheiro da Famasul (Federação de Agricultura do Mato Grosso do Sul), Janes Bernardino Onório Lírio, contou ao Notícias Agrícolas, que nem mesmo o Banco Original [também pertencente à Companhia J&F, dona da JBS] estaria aceitando descontar a nota promissória.

Esse cenário trouxe grande apreensão à ponta inicial da cadeia, já que nem mesmo uma empresa do Grupo estaria dando credibilidade a operações com a JBS. Para o vice-presidente da Acrimat, é possível que os bancos estejam aceitando apenas operações de volumes menores, nas quais os riscos são igualmente inferiores. “Pode ser que eles [bancos] também tenham um limite de crédito para essas operações, não dá para saber, porque antes as movimentações eram pequenas.”

Mas, além de ter poucas chances de conseguir descontar a NPR, aqueles que efetivamente têm sucesso na operação, ainda correm sérios riscos financeiros.

“Antigamente quem vendida para a processadora, poderia pedir a antecipação do pagamento – porque há anos a empresa já não tem preço à vista -, mediante ao desconto de 3,1%”, explica Conte. Nesse caso, o produtor estava resguardado, uma vez que descontado a ‘multa’, não havia nenhum outro risco financeiro.

“O problema é que com a NPR precisarmos endossar a nota promissória junto à instituição financeira. Se chegar no dia do vencimento e o frigorífico não pagar, temos que arcar com a dívida no banco”, acrescenta Lírio.

De qualquer forma, os pecuaristas que necessitam vender têm poucas opções. Buscar indústrias menores, que em sua maioria já estão bem escaladas; entregar para unidades mais distantes; se render a JBS, recebendo com 30 dias; ou então tentar descontar a NPR, nas poucas instituições que ainda aceitam, sem garantias.

Até o fechamento dessa reportagem nenhuma instituição financeira se posicional a respeito.

Fonte: Notícias Agrícolas

BNDES e Caixa perdem R$ 3,4 bi com queda nas ações da JBS

Publicado em: 26/05/2017

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal perderam R$ 3,4 bilhões com a queda das ações da JBS neste ano até terça-feira. Segundo levantamento da empresa de informação financeira Economática, as duas instituições detêm, juntas, 26,24% de participação na companhia, que tem como sócio Joesley Batista – delator de denúncias contra o presidente Michel Temer.

No período, a JBS perdeu 42% de seu valor de mercado – ou R$ 13 bilhões, passando de R$ 31 bilhões para R$ 17,8 bilhões, segundo a Economática. Só na segunda-feira, as ações ordinárias da companhia despencaram 31%. Nos últimos dois dias, porém, a empresa conseguiu recuperar pequena parte dos prejuízos. Apesar disso, os papéis estão sob forte volatilidade por causa do conteúdo das delações.

A JBS fazia parte das empresas escolhidas pelos governos Lula e Dilma Rousseff para participar da política das “campeãs nacionais” em alguns setores da economia. Isso significava ter acesso a empréstimos e financiamentos de bancos públicos a taxas menores, o que ajudou o grupo a ocupar a posição de maior processadora de proteína animal do mundo.

Para se ter ideia, segundo informações constantes na delação de Joesley, o grupo conseguiu nos últimos anos R$ 15 bilhões de empréstimos e aportes de capital do BNDES e da Caixa. O levantamento da Economática corrobora a informação. De acordo com o trabalho feito com base nos formulários de referência encaminhado pela empresa à Comissão de Valores Mobiliários, de 2007 até 2014, a participação das duas instituições públicas mais que dobrou, de 12,95% para 34,66%.

A Caixa só passou a ser acionista da companhia em janeiro de 2013, quando adquiriu 10,07% de participação na JBS. Nesse mesmo período, o BNDES reduziu sua fatia na empresa na mesma proporção, de 29,92% para 19,85%. De 2014 para cá, os dois bancos públicos reduziram suas posições no grupo, mas continuam sendo grandes acionistas na empresa. Hoje a Caixa detém 4,92% de participação e o BNDES, 21,32%.

Fonte: Estadão