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Câmara debate precarização das condições de trabalho no BB

Publicado em: 04/12/2025

A Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados realizou, no dia 1º de dezembro, audiência pública para tratar da precarização das condições de trabalho no Banco do Brasil. A reunião, presidida pela deputada Érika Kokay (PT-DF), destacou a importância da discussão sobre o tema, em face das condições enfrentadas pelo corpo funcional do BB, que vem sofrendo permanente assédio promovido pela política de gestão do banco, que vai na contramão do que o governo federal tem desenvolvido em relação às relações de trabalho e ao desenvolvimento do Brasil.

A primeira expositora foi a professora da Universidade de Brasília Ana Magnólia Mendes, que apresentou resultados de pesquisas realizadas pelo Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da UnB. Ela analisou os dados qualitativos e quantitativos da pesquisa, os quais mostram que há uma gestão que se impõe pelo medo. “O medo é o que vai aparecer em todas as pesquisas a nível nacional, regional e local”, destacou.

Magnolia denunciou que está em curso o desmonte da gestão de pessoal dentro do BB, como resultado do uso de tecnologia a partir da Inteligência Artificial, que tem por objetivo eliminar as pessoas em seus postos de trabalho.

“O medo da exclusão e de perder comissionamentos tem provocado grandes riscos psicossociais, levando a uma degradação do ambiente de trabalho”, disse a pesquisadora da UnB. Para a professora, há a imposição de uma política de gestão pela direção do BB que incentiva conflitos e desconfianças no local de trabalho, denominada por ela de modelo “tecno-feudal”.

PESQUISA – O presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Eduardo Araújo, lembrou que a postura da direção do BB não é de ataque apenas aos funcionários, mas também ao Brasil. A legislação obriga a direção do BB a prestar contas semestrais à Câmara dos Deputados, mas isso não tem sido feito, desrespeitando o Parlamento. A estratégia do banco tem sido favorecer os acionistas, não os interesses da instituição.

“Será que os acionistas, aqueles que têm compromisso com a empresa pública, sabem que a busca do lucro está semeando pavor, sangue e sofrimento entre a categoria?”, questionou. “Os funcionários têm sido tratados com ódio”, denunciou Araújo.

Ele lembrou que os bancários que deveriam ter contato com a clientela estão sendo substituídos por “robôs” ou terceirizados (via correspondentes bancários), com a direção causando enormes transtornos para a categoria. Com a imposição do aumento de jornada para 8 horas a partir de 5 de janeiro, esperam-se novos descomissionamentos e momentos difíceis, como aconteceu em 1995.

Araújo apresentou o resultado de pesquisa realizada pelo Sindicato com os 1.660 funcionários do BB, mostrando que a imensa maioria dos bancários não vê compromisso com a instituição ou com a categoria por parte da direção do banco. A maioria dos entrevistados com mais de 11 anos na instituição entende que a atual gestão está na direção errada e não está comprometida com o banco.

Os dados mostram que a imensa maioria da categoria enfrenta ataques, refletidos na pesquisa. O Sindicato fez inúmeras denúncias no MPT contra o assédio moral imposto aos trabalhadores pela direção do banco. “Os causadores de assédio moral, mesmo depois da condenação e de darem prejuízo ao banco, são promovidos”, denunciou o presidente do Sindicato.

PAPEL ESTRATÉGICO – Rodrigo Lopes Britto, presidente da Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN), alertou que o BB, por ser uma instituição pública, deve prezar pelo serviço público.

“O Banco do Brasil tem tido, historicamente, papel fundamental no desenvolvimento da economia brasileira, especialmente em momentos críticos, como o ocorrido durante a crise em 2008, atuando fortemente para que a crise mundial não atingisse o País, exercendo um papel estratégico para manter um equilíbrio no sistema financeiro”.

O presidente da Fetec-CUT/CN disse que, em menos de 45 dias após o golpe em 2016, com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, o BB deu uma guinada em sua estratégia corporativa, abandonou sua função social, deixou de apoiar a parcela da população excluída do sistema financeiro, abandonou seu papel público e se tornou um banco de mercado com espírito público.

“Logo após essa mudança, vieram profundos ataques à categoria, com a Lei 13.429/2017 (Liberalização das Terceirizações e Contratos Temporários) e a reforma trabalhista (Lei 13.467/2017), que trouxeram os grandes problemas que enfrentamos”, afirmou Britto.

E completou: “A partir daquele momento, iniciou-se uma gestão no banco que privilegiou a competição (mascarada de meritocracia), atacando o trabalho colaborativo e impondo uma aberração chamada de “Performa”, com quatro faixas de remuneração para a mesma função”. Essa política de gestão levou a uma redução de pessoal, com grande precarização do trabalho. “O adoecimento tem levado a mortes de funcionários, com enfartos, AVCs e tentativas de suicídio”, denunciou.

Jeferson Meira, dirigente da Contraf-CUT, reafirmou a denúncia sobre os ataques que os trabalhadores do BB têm enfrentado da atual gestão, que se deterioraram completamente de 2016 a 2022. “Havia a expectativa de que haveria diálogo a partir de 2023, mas isso não ocorreu. Os problemas têm se acentuado desde o início da atual gestão”.

UMA ÚNICA VOZ – Vários dirigentes sindicais dos bancários de Brasília e de Mato Grosso do Sul relataram as dificuldades enfrentadas no dia a dia do banco. Os deputados Reimont (PT-RJ) e Bohn Gass (PT-RS) ressaltaram a importância da defesa da categoria bancária e do Banco do Brasil.

A audiência encaminhou a realização de uma reunião da Frente Parlamentar em Defesa dos Bancos Públicos para tratar da questão específica que a categoria enfrenta no BB. A deputada Erika Kokay propôs formar uma comissão de parlamentares e ir à presidência do BB para debater as questões apresentadas na audiência, que mostraram a grave situação enfrentada pela categoria.

Também foi sugerida a realização de uma reunião com a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho) e a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho para debater o adoecimento e o sofrimento impostos à categoria bancária no Banco do Brasil.

Fonte: Associação Nacional das Magistradas e Magistrados da Justiça do Trabalho