O sinal de alerta continua ligado no Banco do Brasil para o avanço das recuperações judiciais no campo e o impacto desse movimento nos resultados da instituição financeira. Em setembro deste ano, eram R$ 6,6 bilhões de operações de 928 clientes com pedidos de recuperação judicial.
Mesmo que sejam parte minoritária do índice de inadimplência do BB, que bateu recorde de 5,34% no fim do terceiro trimestre e ainda não deu sinais de alívio até novembro, as recuperações judiciais têm impacto “significativo” e imediato nas provisões de caixa e no balanço, disse o vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do Banco do Brasil, Gilson Bittencourt, em conversa com jornalistas.
O avanço das recuperações judiciais demanda um arranjo legislativo ou judicial para definir e esclarecer o alcance dos processos, afirmou. O executivo vê a questão em fase de aprendizado e maturação, já que a lei que permitiu a recuperação judicial de produtores rurais é de 2020, mas a definição de um entendimento harmônico sobre o tema pode limitar o impacto não só nas instituições financeiras, mas na cadeia agroindustrial, avaliou.
“Só a Justiça vai nos dar [uma orientação] à medida em que a própria Justiça conseguir entender o que está acontecendo e definir melhor os limites. Todos colocam que precisa haver mudanças. Se vai ser por meio de uma interpretação jurídica ou mudança no Congresso, aí é a definição mais política que vai nos dizer nos próximos meses”, indicou Bittencourt.
Algumas operações de clientes em recuperação judicial ainda nem estão em atraso superior a 90 dias para serem consideradas inadimplentes, mas a instituição financeira já é obrigada a fazer um provisionamento de recursos para amparar uma possível perda. No caso das recuperações, 75% do valor total está provisionado. “O aumento da inadimplência não é exclusividade de RJ, mas elas têm impacto mais significativo”, disse Bittencourt. Sobre a carteira de crédito rural do BB, de R$ 361 bilhões no fim do terceiro trimestre, havia R$ 19,3 bilhões em atrasos superiores a 90 dias e R$ 32,8 bilhões de provisionamento de perdas.
