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Por que estrangeiros estão comprando Banco do Brasil enquanto brasileiros vendem

Publicado em: 19/12/2025

Enquanto muitos investidores brasileiros reduziram ou zeraram posição no Banco do Brasil (BBAS3) após a forte deterioração dos resultados recentes, o movimento dos investidores estrangeiros segue na direção oposta. Em encontros com grandes fundos internacionais, o banco estatal brasileiro voltou ao radar como uma oportunidade clássica de valor, impulsionada principalmente pela forte assimetria entre preço e fundamentos.

O BBAS3 negocia atualmente com desconto relevante em relação ao valor patrimonial, refletindo um cenário de pessimismo elevado no mercado doméstico. Esse descolamento chamou atenção de fundos globais, especialmente os especializados em ciclos econômicos e mercados emergentes.

Para esses investidores, o atual nível de preço não reflete apenas resultados fracos recentes, mas embute um prêmio excessivo de risco, principalmente político e setorial.

Agronegócio sustenta a tese: posição estratégica segue intacta

Um dos pilares centrais da tese dos investidores estrangeiros é o agronegócio brasileiro, que permanece como um dos setores mais competitivos e estratégicos da economia nacional. O Banco do Brasil é, historicamente, o principal financiador do agro, com presença dominante no crédito rural.

A leitura dos fundos internacionais é que o ciclo negativo recente no setor — marcado por inadimplência pontual e compressão de margens — tem caráter cíclico, não estrutural. Na visão desses investidores, a normalização da qualidade da carteira pode ocorrer nos próximos anos, devolvendo parte da rentabilidade histórica do banco.

Essa percepção sustenta a expectativa de recuperação gradual dos resultados, mesmo que o curto prazo ainda seja desafiador.

Eleições de 2026 entram no radar e ampliam a assimetria

Outro fator que impulsiona o interesse estrangeiro é o cenário político de 2026. Estatais brasileiras tendem a oscilar fortemente em períodos pré-eleitorais, justamente pela sensibilidade a mudanças de governo e diretrizes estratégicas.

A pergunta que ronda os grandes fundos é direta: quanto o Banco do Brasil poderia valer caso o risco político diminua?

Uma eventual vitória de um candidato de centro ou uma mudança na percepção institucional poderia provocar uma reprecificação rápida dos múltiplos, reduzindo o desconto histórico e destravando valor para os acionistas.

Esse mesmo movimento já foi observado em ciclos anteriores, tanto no Banco do Brasil quanto em outras estatais relevantes do mercado brasileiro.

Possível venda da BB Seguridade em 2026 levanta dúvidas estratégicas

Além do movimento dos estrangeiros, outra informação ganhou força no mercado: a possibilidade de o Banco do Brasil vender parte de sua participação na BB Seguridade em 2026. Atualmente, o banco detém cerca de 66% da seguradora, que é uma das principais fontes de receita recorrente via dividendos.

A eventual venda teria impactos relevantes:

Pontos positivos

  • Entrada expressiva de caixa
  • Reforço de capital
  • Possibilidade de redução de alavancagem
  • Maior flexibilidade para investimentos ou distribuição extraordinária

Pontos negativos

  • Redução direta do fluxo recorrente de dividendos
  • Enfraquecimento de uma das unidades mais rentáveis do conglomerado
  • Dúvidas sobre a estratégia de longo prazo
  • Risco de execução em ano eleitoral

Para investidores focados em renda passiva, a leitura tende a ser mais negativa, já que a BB Seguridade é responsável por uma parcela relevante da previsibilidade dos resultados do Banco do Brasil.
Resultados pressionados e rentabilidade em queda explicam o pessimismo local

O ceticismo do investidor brasileiro não é infundado. Os números recentes mostram uma queda acentuada na rentabilidade do banco:

  • Retorno sobre investimento (ROI) despencou nos últimos 12 meses
  • Lucro apresentou retração anualizada superior a 60%
  • Margens pressionadas pelo ciclo do crédito e pelo agro
  • Dividendos seguem sendo pagos, mas com menor conforto operacional

Esses fatores explicam por que muitos investidores enxergam o papel como uma ação “em carrego”, que pode levar tempo para voltar a entregar retornos mais robustos.

Visão de longo prazo: empresa centenária em ciclo adverso

Na visão de investidores estrangeiros, o Banco do Brasil atravessa mais um ciclo adverso, algo recorrente em sua história de mais de dois séculos. O banco já enfrentou crises econômicas, políticas e setoriais profundas e, ainda assim, conseguiu se manter relevante e lucrativo ao longo do tempo.

A aposta é que, passada a fase mais dura do ciclo atual, a combinação de:

  • desconto elevado
  • normalização do agro
  • redução do risco político
  • pode criar uma janela rara de valorização

Vale a pena investir agora no Banco do Brasil?

O cenário atual exige análise cuidadosa. Para quem já possui BBAS3 na carteira, o momento pede uma revisão da tese, considerando:

  • tolerância ao risco político
  • horizonte de investimento
  • dependência de dividendos no curto prazo

Para quem pensa em entrar, a decisão passa por entender o tempo de recuperação, o custo de oportunidade frente a outras ações e a capacidade de conviver com volatilidade até que os fundamentos voltem a melhorar.

O Banco do Brasil segue pagando dividendos e ocupa posição estratégica na economia brasileira, mas os próximos meses serão decisivos para confirmar se o pessimismo atual representa risco estrutural ou apenas mais um ciclo negativo em uma história longa e resiliente.

Fonte: A Revista