O Sistema Financeiro Nacional (SFN) pode levar três anos para se recuperar da crise do novo coronavírus. O cálculo é do Banco Central (BC), que fez um teste de estresse para quantificar o impacto da Covid-19 nos bancos brasileiros e informou, nesta quarta-feira (29), que esse foi um dos testes mais severos da história. O BC explica que a pandemia vai reduzir a rentabilidade e ainda pode exigir um reforço de capital de R$ 70 bilhões das instituições financeiras nacionais.
Divulgado através do Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central, o teste de estresse realizado pela autoridade monetária explica que a desaceleração econômica causada pelo novo coronavírus pode comprometer a capacidade de pagamento de mais de 170 atividades econômicas. Atividades que já têm uma dívida de R$ 556 bilhões com os bancos brasileiros e ainda podem prejudicar a capacidade de pagamento dos seus funcionários e dos seus fornecedores, ampliando o risco de calote nas instituições financeiras.
“Dos R$ 500 bilhões que o sistema financeiro tem aplicado nessas empresas, R$ 200 bilhões entrariam em default (calote). E isso contaminaria os dependentes desses setores. Os empregados diretos dessas empresas teriam R$ 50 bilhões de impacto, a cadeia de fornecedores mais R$ 100 bilhões de impacto e os empregados da cadeia de fornecedores mais R$ 25 bilhões. Então, chegamos em um impacto total de R$ 395 bilhões”, revelou, em coletiva de imprensa, o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza.
O risco de R$ 395 bilhões de calote apresentado pelo BC também considera o risco de reclassificação de risco dessas empresas e de contágio interfinanceiro. E, segundo Oliveira, é fruto de um trabalho feito com “bastante conservadorismo”, com o intuito de calcular o “impacto mais severo” da pandemia do sistema financeiro nacional.
O impacto de fato é grande. Considerando esse cenário, o BC calcula que os bancos teriam que elevar o seu capital regulatório em R$ 70 bilhões, o equivalente a 7,2% do patrimônio de referência do sistema financeiro, para voltar às condições de estabilidade e liquidez registradas antes do coronavírus. “Para ter ideia, quando fizemos o impacto dos efeitos dos setores envolvidos na Lava-Jato, em 2015, esse aumento era de R$ 3,4 bilhões, ou 0,4% do PR (patrimônio de referência)”, revelou Oliveira.