O Ibovespa teve uma sessão marcada por verdadeira instabilidade. Em dia de vencimento de opções sobre o índice, os investidores que apostam contra e a favor da bolsa cravaram uma queda de braço nos preços, o que fez o índice tentar uma aproximação dos 97 mil pontos e voltar aos 95 mil pontos em uma única sessão.
No fim do dia, o Ibovespa caiu 0,34%, aos 95.842 pontos. Ao longo do pregão, o índice chegou a cair 0,81%, aos 95.389 pontos. Na máxima, atingida pela manhã, o Ibovespa subiu 0,66%, aos 96.804 pontos. O giro totalizou importantes R$ 15,4 bilhões, em um movimento que ganhou tração justamente após as 15h, horário em que os preços do exercício de opções são definidos.
O vencimento de opções do índice fez com que corretoras grandes movimentassem grandes lotes de ações, acima do negociado nos últimos dias — e os bancos foram o pivô desse movimento. A disputa entre os que apostam a favor e contra a bolsa cresceu nesses papéis porque, por serem líquidos, eles ajudam os investidores a balizar o Ibovespa e colocá-lo no patamar mais adequado a cada posição montada na renda variável.
“Os vendidos [que apostam na queda] tentam ‘travar’ o índice e impedir maiores baixas, enquanto os comprados [que apostam na alta] querem trazer o preço mais para cima. É uma dinâmica que existe sempre na bolsa, mas costuma crescer em dias de vencimento para que o investidor possa conseguir exercer suas opções”, diz um operador.
No setor bancário, Bradesco ON encerrou em baixa de 0,84%, enquanto Bradesco PN caiu 1,55%. Já Itaú Unibanco PN recuou 2,28%, ao passo que Banco do Brasil ON cedeu 2,27%.
Já as empresas mais ligadas ao ambiente internacional ajudaram o Ibovespa a não aprofundar as baixas. No caso da Vale e da Petrobras, por exemplo, houve ganho de tração depois da abertura positiva das bolsas americanas, que deu fôlego à negociação de ativos de renda variável globalmente e garantiu fluxo aos emergentes.
A Vale ON subiu 2,69%. A Petrobras ON ganhou 2,37%, enquanto a PN da estatal avançou 1,28%. No caso da petroleira, o fato de a ON, preferida no geral pelos investidores estrangeiros, ter subido mais do que a PN, muito negociada por fundos locais, é um indício do efeito que o exterior teve hoje no mercado local.
Já em relação à Vale, os investidores também operam as ações de olho no nível de desconto do papel, sobretudo após as intensas perdas das duas últimas semanas. A ação tem tentado respeitar os fundamentos da companhia e encontrar um ponto de equilíbrio, depois de sucessivas quedas por causa do rompimento da barragem da empresa em Brumadinho (MG). Os investidores ponderam, de um lado, a capacidade produtiva da mineradora e, de outro, os efeitos da tragédia para as operações da empresa.
Outro pano de fundo dos negócios é a expectativa quanto à reforma da Previdência. Relatos nas mesas de operação mostram que os investidores seguem confiantes de que a reforma sairá, mas ainda há dúvidas de qual será a idade mínima para liberação das aposentadorias. De um lado, o mercado confia que o ministro da Economia, Paulo Guedes, lutará por um ajuste mais agressivo, enquanto o presidente Jair Bolsonaro sinaliza idades diferentes para homens e mulheres. A saída do presidente do hospital hoje reforça o debate e mantém o tema como prioridade das agendas.
Na cena corporativa, a BRF ON ficou entre os destaques negativos da sessão, em queda de 3,22%. A detecção de um tipo de bactéria salmonela levou a companhia a anunciar um recall de lotes de carne de frango in natura produzidos, entre outubro e novembro de 2018, no abatedouro de Dourados (MS).
A CCR ON, por sua vez, até tentou aliviar as perdas, mas também voltou para as maiores baixas do Ibovespa, ao ceder 3,10%. Os investidores repercutem a notícia de que a empresa superfaturou contratos de prestação de serviço com construtoras em 2012 em aproximadamente R$ 13 milhões, a valores de hoje, para abastecer esquema de caixa dois. A informação consta em depoimentos de ex-executivos da companhia ao Ministério Público Federal de São Paulo aos quais o Valor teve acesso.