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Bancos aceleram a entrada na tokenização em busca de liquidez

Publicado em: 05/01/2023

Falar em token não tem nada a ver com a cotação do Bitcoin. Não para os bancos, que enxergam na tecnologia de ativos digitais um potencial enorme para criar novos instrumentos financeiros em seus braços de investimentos. O pulo do gato é poder fracionar ativos, ou seja, dividir um bem ou contrato em partes menores, o que amplia a liquidez dos títulos de investimento. O setor está otimista com a tecnologia, mas apreensivo com a regulação. O vácuo regulatório em que se encontra a tokenização no Brasil tem deixado alguns produtos em compasso de espera. Atualmente, a maior movimentação é interna, com a criação de divisões nos grandes bancos focadas em ativos digitais para se preparar para uma demanda futura.

Não há estatísticas oficiais no momento sobre a adesão dos bancos brasileiros à tokenização. Mas a reportagem do Estadão/Broadcast bateu de porta em porta e encontrou respostas positivas em praticamente todos os bancos procurados.

A promessa de ampliação de liquidez ao se fracionar opções de investimento por meio dos tokens foi o que chamou a atenção de Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Santander, que neste ano anunciaram sua entrada na tokenização.

“A inserção da população nesse universo não vai ser a partir das instituições financeiras e dos dos players que tokenizam. A necessidade de tokenização vai vir da nova geração, ela vai vir do hábito”, diz Guto Antunes, diretor do Itaú Digital Assets, uma unidade de negócios voltada para o desenvolvimento de tokens, criada em julho passado.

Ele defende que a grande vantagem da tokenização é seu poder de democratizar os investimentos. “Você acessa uma base de investidores muito mais ampla, porque consegue criar frações digitais do ativo”, afirma Antunes. “Em vez de precisar de mais de R$ 10 mil para investir, por exemplo, pode fracionar em lotes de R$ 15, R$ 20.”

Courtnay Guimarães, cientista chefe da Avanade Brasil, prevê que o sistema financeiro brasileiro pode se destacar no cenário global da tokenização. “Acredito que em dois anos o Brasil será um dos líderes mundiais nisso, do ponto de vista bancário”, afirma Guimarães. Mas para que a tokenização tenha sucesso, alerta o especialista, é preciso colocar outros players não bancários na mesma estrutura tecnológica, de modo a evitar concentração.

Mesmo assim, Portilho estima que até 30% do mercado vai estar tokenizado nos próximos cinco anos. “Vejo outros agentes do mercado desenvolvendo pilotos e realizando testes. A ficha caiu de que o caminho é esse”, conta o executivo, que aguarda avanços regulatórios quanto aos tokens e se diz otimista com o Projeto de Lei cripto aprovado.

Segundo Bruno de Freira Gomes, superintendente de Securitização, Investimentos Estruturados e Agronegócio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o sandbox regulatório, que terá uma nova edição no próximo ano, busca trazer a tecnologia blockchain para dentro do mercado de capitais a fim de atualizar sua infraestrutura, possibilitando que os ganhos de eficiência da tokenização sejam aproveitados em um ambiente regulado.

Gomes pondera que hoje o mundo do token não conversa bem com o mercado tradicional, uma vez que a exigência legal de depósito, registro, custódia e escrituração mingua os ganhos de eficiência provenientes da tokenização. “Não é acabar com o depósito, a custódia ou o registro. Essas funções não vão desaparecer, elas só vão ser mais eficientes e mais baratas, traduzindo em captações mais baratas para o mercado como um todo”, afirmou, em evento no último dia 15, promovido pelo escritório Pinheiro Neto Advogados e com participação também da Anbima.

Neste mês, o Santander Brasil finalizou a sua primeira tokenização de um instrumento financeiro regulado. Por meio do sandbox regulatório da CVM, o banco realizou uma emissão para captar recursos para um cliente institucional. “Retemos muitos dos projetos em laboratório com receio da segurança jurídica. A lei aprovada (o PL cripto) é um avanço, mas ainda há muita coisa a ser definida”, diz Jayme Chataque, superintendente executivo de Open Finance, Ativos Digitais e Blockchain no Santander.

De toda forma, tokenização de ativos é uma tendência clara na visão do banco espanhol, frisa o executivo. Embora o braço europeu tenha começado os testes com tokenização em 2018, Chataque enxerga com bons olhos a posição do Brasil, onde participa do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (Lift) do Banco Central (BC) para o Real Digital. “Não diria que a Europa está mais avançada do que o Brasil. Nem do ponto de vista legislativo, tampouco na disponibilização da tecnologia para o cliente”, afirma.

O Bradesco também está desenvolvendo estudos e soluções em blockchain por meio de uma equipe interna, composta por áreas de negócio e áreas técnicas. Atualmente, o banco tem experimentado internamente a tokenização de alguns ativos regulados em parceria com startups. Em 2020, por exemplo, a Bitz, carteira digital do banco, adquiriu a 4ward, fintech especializada em soluções em blockchain para instituições financeiras. “O banco acompanha este mercado [de tokenização] de maneira próxima, visando extrair as principais oportunidades que estejam relacionadas à evolução dos negócios financeiros”, informou em nota.

A tokenização também está na mira dos bancos públicos. A Caixa Econômica Federal informou que criou um grupo de trabalho com o objetivo de desenvolver projetos relacionados ao real digital, tokenização de ativos e a prospecção de oportunidades de novos produtos financeiros.

E o Banco do Brasil anunciou um investimento estratégico – por valor não revelado – na plataforma de intermediações financeiras e serviço de pagamentos Bitfy, que atua como carteira digital de criptomoedas. “O BB acredita que a tendência de tokenização ampliará opções de investimento e adicionará fontes interessantes de financiamento para empresas. Por este motivo, buscamos o investimento estratégico na Bitfy, para acelerar o desenvolvimento de soluções neste sentido”, afirmou o presidente do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro, por meio de nota.

Já a federação dos bancos, a Febraban, avalia como positivo o avanço do setor rumo à tokenização. Entre os seus projetos para adicionar a tokenização aos meios bancários, a entidade se tornou uma das participantes do Lift Challenge, projeto idealizado pelo BC em conjunto com a Fenasbac para desenvolvimento e implementação do Real Digital. No laboratório de inovação, a Febraban propõe a negociação de ativos financeiros digitalizados – ou seja, tokens – usando o método de pagamento contra entrega (DvP), que só é possível em uma rede blockchain. A proposta é que através da tecnologia DvP as transações financeiras de pagamento aconteçam instantaneamente.

“A Febraban está investindo em um primeiro protótipo que utiliza os princípios de Deliver vs Payment (DvP) com liquidação automática para ativos financeiros. Este protótipo tem o objetivo de testar as características e robustez da infraestrutura, facilidade de programação e segurança da informação, permitindo que possamos adotar o melhor protocolo para um piloto em 2023?, conta Leandro Vilian, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Febraban. (Reportagem de Beatriz Capirazi, Gabriel Tassi, Maria Lígia Barros e Zeca Ferreira)

Fonte: Terra

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