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Bancos tradicionais são favoritos das MPMEs, mas digitais predominam entre MEIs

Publicado em: 18/06/2025

Bancos tradicionais ainda são os favoritos do segmento de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), enquanto bancos digitais e adquirentes (as donas das “maquininhas”) vêm conquistando espaço e já são predominantes entre microempreendedores individuais (MEIs).

Isso é o que aponta a pesquisa “Desafios Financeiros para atender Micro, Pequenas e Médias Empresas”, feita pela consultoria Oliver Wyman e disponibilizada antecipadamente ao Valor.

O levantamento, realizado entre abril e maio deste ano, traz um panorama dos desafios financeiros das MPMEs, e das dificuldades dos bancos tradicionais e fintechs para atender às demandas desse segmento, que representa 26,5% do Produto Interno Bruto (PIB), e foi responsável pela criação de 72% dos empregos formais em 2024, somando 1,2 milhão de novos postos de trabalho.
A pesquisa foi feita com base na consulta de mil MPMEs de todas as regiões do Brasil que estão em atividade há menos de um ano, há cinco anos, ou mais de 10 anos. Foram compilados dados de empresas dos mais diversos setores, como comércio, indústria, agricultura, tecnologia e telecomunicações.

“Micro, pequenas e médias empresas são um segmento de cliente em que os bancos buscam focar, atender bem e pensam em como reter e servir. O estudo serve para personificar os diferentes arquétipos de clientes que estão distribuídos nesse segmento”, diz André Mascarenhas, diretor da prática de capital privado e serviços financeiros da Oliver Wyman.

Quando analisado o porte das MPMEs, a representatividade dos grandes bancos (classificados como S1 pelo Banco Central) é mais alta nas empresas maiores, enquanto os bancos digitais têm forte presença nos empreendedores individuais.

Entre MEIs, o volume de empreendedores com a conta principal em bancos digitais chega a 41%, parcela que chega a 58% quando somadas as adquirentes, enquanto os bancos S1 têm 37%. A situação se inverte nas pequenas e médias, que têm a conta principal em grandes bancos em 68% e 73% dos casos, enquanto bancos digitais representam 17% e 15% delas, respectivamente.

Como principal razão para essa divisão, Mascarenhas destaca a explosão da criação de novos MEIs, que somaram 3 milhões de novas contas só no ano passado.

“O ‘boom’ de novas contas digitais em fintechs e em bancos digitais aconteceu no mesmo período. Então, isso não significa necessariamente que os grandes bancos estão perdendo clientes, por exemplo. Só que os bancos digitais estão sendo capazes de capturar o nascimento de novas contas e estão tendo algum sucesso em manter esse tipo de cliente dentro do seu ecossistema”, afirma.

A longevidade das empresas também é fator fundamental na escolha entre instituições financeiras. Para 50% das empresas com menos de um ano, os bancos digitais são os principais meios de relacionamento e onde possuem conta corrente ativa. Já 65% das empresas com mais de dez anos de atuação têm como principal canal de serviços os bancos tradicionais.

“Uma hipótese que a gente pode trabalhar é que quanto maior a empresa, ela acaba sendo mais antiga, e a sofisticação dos produtos financeiros que elas buscam só existe em um banco maior (…) Uma modalidade de crédito privilegiada, um limite um pouco maior e conseguir renegociar dívidas, por exemplo”, diz.

A pesquisa também mediu a fidelidade do setor de MPMEs e apontou que 97% dos empreendedores têm a conta principal na mesma instituição financeira que usavam no ano passado, e 90% têm como conta de crédito a mesma instituição da conta para movimentação diária. Além disso, 83% têm como principal, para fazer investimentos a mesma instituição que usam para movimentações.

Apesar disso, o levantamento mostrou que pelo menos um terço tem intenção de trocar de banco.

Na conta principal, 33% têm propensão alta ou média para mudar, e os três principais motivos são juros ou custos menores (56%), acesso a crédito ou limite maior (29%) e rentabilidade mais atrativa (26%).

Para as instituições principais na oferta de crédito, há propensão alta ou média de 35% e juros e custos menores (72%) são o fator mais decisivo, seguido por limite maior (37%) e melhores condições de pagamento (17%).

Considerando as instituições de investimentos, 38% têm propensão média ou alta para mudar, e a rentabilidade melhor (51%) é o principal atrativo, junto com custo menor (39%) e melhores condições de investimento (26%).

Na visão do diretor da Oliver Wyman, a predominância da busca por propostas de menor custo e juro se daria por três motivos, um macroeconômico e dois de percepção dos empresários.

“Tem a questão dos juros, porque, querendo ou não, as entidades financeiras precisam remunerar o capital que estão alocando para poder operar. Tem também a noção do empresário de sempre estar buscando uma melhor condição para crédito, rentabilidade e investimentos, o que acho natural, até mesmo do brasileiro. E também tem um fato que a gente escutou por muito tempo, de que instituições financeiras cobravam muitas taxas. Ainda que talvez, no cenário de hoje, isso já não seja mais verdade, já que as grandes instituições pararam de cobrar a maioria das suas taxas”, diz.

De acordo com a pesquisa, capital de giro é a maior necessidade financeira das MPMEs, apontado por 38% delas. Recursos para investimentos foram apontados por 37%. Inovação e experiência do cliente (33%), aquisição de clientes (21%) e redução de dívidas (20%), fecham as cinco principais prioridades. Treinamento de funcionários (10%) e seguros (7%) completam a lista.

Segundo o levantamento, entre as empresas mais jovens (com menos de um ano), o crédito é o principal desafio, apontado por 52% delas, ante 30% das MPMEs com 6 a 10 anos.

Quando avaliado o porte, 49% dos MEIs colocam a obtenção de crédito como principal desafio, índice que vai para 22% nas empresas de médio porte. Recurso para investimentos é o principal desafio entre as empresas do setor de agricultura, com 61% das respostas, o que se repete para 30% das empresas do setor de atividades profissionais ou de comércio consultadas pela Oliver Wyman.

Mais de dois terços (71%) das MPMEs contratam atualmente alguma modalidade de crédito, sendo a antecipação de recebíveis e o crédito rotativo as mais acessadas, ambas com 59% de presença entre os respondentes. Financiamento com garantia (55%), capital de giro (44%), microcrédito (33%), consórcio (28%) e financiamento imobiliário (23%) completam a lista.

O setor de agricultura é o com mais tomadores de crédito, com 84% recorrendo a essa modalidade. Quanto maior o porte, maior a proporção de MPMEs com crédito, variando de 50% entre as MEIs a 84% nas empresas de médio porte. O estudo ressalta que o acesso ao crédito é um desafio importante para as empresas mais jovens, pois apenas 40% das que têm menos de um ano de existência conseguem crédito.

Investimentos e serviços financeiros contratados

De acordo com a Oliver Wyman, 78% das MPMEs possuem investimentos, com poupança e CDBs sendo os produtos mais citados entre os entrevistados, com 63% e 49% de presença respectivamente. Fundos de investimento (40%), tesouro direto (27%), crédito privado (23%) e consórcio (23%) vem na sequência como escolhas citadas.

Há também um total de 38% de empreendedores que têm ações do mercado financeiro como investimento e 32% ficaram na categoria “outros”, que inclui fundos imobiliários, commodities, moedas estrangeiras e criptoativos, por exemplo.

Questionado se o perfil do empreendedor surpreende ao mostrar um apetite maior por investimentos de risco, Mascarenhas diz que a proximidade da pessoa física com a pessoa jurídica em MPMEs explica a opção por ações e também a predominância da poupança como investimento mais citado.

“A gente está falando de um universo de clientes que pode acabar misturando bastante a vida pessoal com a vida financeira (…) Os clientes falam que eles têm uma sobreposição da vida pessoal com a vida de empresário. Ainda que a gente tente deixar claro o tempo todo que é sobre a empresa, eles acabam colocando até as finanças pessoais como as finanças da empresa”, diz o diretor da Oliver Wyman

Além disso, a maturidade da empresa influencia diretamente. Segundo o levantamento, mais de 80% dos empreendimentos com mais de 4 anos de atividade têm algum tipo de investimento, enquanto apenas metade das empresas com 1 ano têm alguma aplicação.

O estudo também aponta que os serviços para receber pagamentos, como adquirência, são essenciais e contratados por mais de 85% das MPMEs. O setor de comércio, em particular, utiliza quase a totalidade dos serviços de adquirência.

Outros serviços financeiros amplamente contratados incluem a emissão de boletos (63%), seguros (61%), serviços fiscais (61%), cartão de crédito corporativo (59%), gestão da folha (52%) e gestão da cobrança (51%).

Fonte: Valor Econômico