Na opinião do historiador José Ricardo Sasseron, especialista em Previdência, ex-presidente da Associação Nacional de Participantes de Fundos de Pensão e de Beneficiários de Planos de Saúde de Autogestão (Anapar) e diretor de Seguridade da Previ, os governos brasileiros deixaram de investir na capacidade do Banco do Brasil como ferramenta de transformação do país.
Por isso, Sasseron e outros bancários da instituição, aposentados e na ativa formaram um Comitê de Luta em Defesa do Banco do Brasil. “Ele surgiu da necessidade de defender o banco como empresa pública porque nos dois últimos governos houve um forte processo de desvalorização do BB, uma destruição do seu papel”, afirma.
Os números falam por si mesmos. Conforme aponta Sasseron, desde o golpe em 2016, mais de 1.400 agências do BB foram fechadas, “principalmente em cidades pequenas e nas periferias”, destaca. Com isso, houve a perda de 23 mil funcionários no mesmo período – um prejuízo não só para os trabalhadores da instituição, mas também para a população. “Há cerca de duas mil cidades sem uma única agência bancária”, informa Sasseron. “Às vezes, o BB é a única agência em um muncípio e ao fechá-la, o governo opta por dificultar a economia dessa localidade, com fortes prejuízos à população”, enfoca o bancário.
Dificuldades na obtenção de crédito para os mais pobres
Ao privilegiar localidades mais abastadas para manter agências, a diretoria do Banco do Brasil, nomeada pelo governo federal, causa um grande problema: ela dificulta o acesso dos mais pobres ao crédito e aos serviços bancários. Na opinião de Sasseron, isso é ainda mais grave quando se trata de uma das principais vocações do BB: o financiamento agrícola.
“O Banco do Brasil vem reduzindo a porcentagem de crédito que dá à agricultura familiar. E, por outro lado, vem aumentando a parcela para o agronegócio”, critica. No mesmo sentido, Sasseron explica: “O agronegócio produz para exportação e a agricultura familiar para alimentação. Com isso, os preços dos alimentos vêm subindo”.
A situação ocorre na contramão da expertise do banco público e da qualificação dos trabalhadores do BB. “O BB sempre teve atuação muito forte na área. Chegou a dominar 70% no crédito agrícola e hoje atinge 50%”, aponta. “A agricultura é imprescindível para o desenvolvimento do País”, explica.
“O Brasil não precisa de mais um Itaú”
“O Brasil não precisa de mais um Itaú ou Bradesco”, afirma Sasseron. “Precisa de um banco com atuação no fomento das pequenas empresas e da agricultura familiar”. Essa necessidade é compartilhada com parte dos funcionários do banco, segundo Sasseron. Com a perda do papel público do BB, o banco viraria apenas mais um banco de varejo, assim como os grandes bancos privados.
A solução para isso, além da mobilização dos empregados e da sociedade, passa pela escolha de um novo governo. “A linha de atuação do banco depende muito da orientação do governo, já que ele nomeia o presidente, os conselheiros e dá a orientação”, explica.
Dessa forma, com a manutenção do governo Bolsonaro, por exemplo, o que os bancários esperam é que o banco continue sendo privatizado aos pedaços e que sua função social não tenha peso algum. Já com a eleição de um governo progressista, os participantes do comitê têm esperança de que as coisas mudem.
Contudo, o período eleitoral é apenas parte da solução. “O comitê vai continuar existindo depois das eleições porque se elegermos um governo como o atual, o BB seguirá sob ataque. A eleição de Bolsonaro pode significar de fato a privatização. Já num governo progressista, o banco pode exercer um papel fundamental na economia e nós manteremos o comitê e para cobrar de um próximo governo que mude a orientação e compra seu papel social”, finaliza.