A melhora esperada para o agronegócio brasileiro neste ano, com previsão de safra recorde de grãos no ciclo 2024/25 e recuperação das margens dos produtores rurais, mantém o Banco do Brasil, líder em crédito rural, otimista com o desempenho no setor. “Após cinco anos de boom do agronegócio, a safra 2023/24 foi um momento de reacomodação, com adversidades climáticas que afetaram a safra e o retorno dos preços a patamares de normalidade. Entende-se que o setor volte para uma situação mais conjuntural, de níveis históricos”, avalia o vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do banco, Luiz Gustavo Braz Lage, em entrevista exclusiva.
“Há oportunidades no agronegócio nacional. A perspectiva é positiva, de maneira geral no setor, com os grãos em um cenário mais equilibrado e boas expectativas para as cadeiras de pecuária, café, açúcar e suco de laranja. O dólar também contribuiu para recompor a margem do agronegócio exportador e ajuda na precificação interna das commodities”, acrescentou Braz Lage.
Volume financiado
Como mostrou a Coluna do Broadcast Agro, o BB já liberou R$ 138 bilhões em financiamentos ao agronegócio na safra 2024/25, dos R$ 260 bilhões previstos. O resultado no acumulado da safra é 2,5% maior na comparação com igual período do ano-safra anterior. A cifra inclui empréstimos de crédito rural, financiamentos para a cadeia de valor do agronegócio e títulos agrícolas.
Do montante total, R$ 98,769 bilhões foram desembolsados pelo BB em linhas de crédito rural no primeiro semestre da safra 2024/25, que representaram 71,36% do total. O valor é 5% menor que o reportado em igual período do ano-safra anterior, mas ainda uma queda inferior à do mercado em geral, que foi de 20% de julho a dezembro, segundo dados do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor/BCB) do Banco Central.
No período, o banco registrou crescimento de 33% nos financiamentos contratados por agricultores familiares e de médio porte, que representaram 70% das operações firmadas pelo banco. Outro destaque foi o incremento de 16% nas linhas de crédito para investimento.
O Banco do Brasil recebeu R$ 60,2 bilhões em recursos equalizados no Plano Safra 2024/25. O banco já aplicou 60% do total na concessão de financiamentos aos produtores rurais com taxas de juros menores, ou seja, parte subvencionada pelo Tesouro. O banco, que é líder em crédito rural no País, abocanhou, no acumulado da safra, 50% de todo o volume equalizado em crédito rural.
Dentro do crédito subsidiado, a participação de mercado do BB cresceu nos principais programas de financiamento, como o Programa de Financiamento a Sistemas de Produção Agropecuária Sustentáveis (Renovagro), o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). “Há um trabalho de reconquista de clientes. Há uma avenida de oportunidades para apoiar os produtores rurais, em biocombustíveis, em descarbonização, em agricultura de precisão”, resume Braz Lage.
Para o executivo, o desempenho do banco em desembolsos ao agronegócio até o fim do ano-safra, em junho, vai depender também do apetite dos produtores rurais por novos investimentos em meio ao cenário de reacomodação das margens e elevação dos juros.
“É inevitável (impacto dos juros ao produtor), mas estamos bem posicionados em relação à taxa de juros, já que respondemos por uma fatia importante dos recursos equalizados, com taxas atrativas e competitivas. Nesse cenário em que o produtor está fazendo contas e buscando as melhores alternativas, a precificação dos bancos ante a concorrência vai ser crucial”, observou.
“Sabemos que o produtor está mais cauteloso, com alguns tendo investido de forma agressiva nos últimos anos e agora precisando recompor a questão financeira, adequando a capacidade de pagamento a esse novo cenário (de juros). Mas seguimos otimistas quanto ao posicionamento do banco”, acrescentou o vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do BB.
Monitoração da inadimplência
Em meio à perspectiva de uma conjuntura mais favorável ao agronegócio, o Banco do Brasil enxerga também sinais de normalização da inadimplência do setor. Ao fim de setembro de 2024, números mais recentes divulgados, a inadimplência da carteira de agro alcançou 1,97% ante 0,7% de igual mês do ano anterior. No histórico, a média gira em torno de 1,7%.
O aumento da inadimplência do setor é, em parte, reflexo das adversidades climáticas que atingiram a safra passada e da queda da lucratividade de algumas cadeias agropecuárias. “É um indicador que acompanhamos muito de perto, reforçando a cobrança, reforçando os bunkers regionais e também com o monitoramento dos financiamentos. Assim, 98% dos produtores seguem pagando as dívidas em dia”, explicou o executivo.
Por meio de inteligência analítica de dados, o BB monitora o cronograma de vencimento das operações e identifica se há sinais de eventual dificuldade nos pagamentos.
Outra estratégia para blindar a carteira agropecuária é a própria diversificação da carteira em mais de 200 atividades, em todos os elos da cadeia produtiva e em 5,4 mil municípios e também pela mitigação de riscos da carteira. “Aproximadamente 60% dos financiamentos de custeio possuem mecanismos de mitigação de risco, como o seguro. O próprio fundo garantidor é um instrumento importante para manter a qualidade da carteira. A nossa carteira é muito resiliente”, detalhou.
Conscientização sobre recuperação judicial
O banco acompanha também o comportamento das recuperações judiciais do agronegócio – movimento concentrado sobretudo em Mato Grosso e Goiás. Os números de pedidos de recuperações judiciais de produtores rurais deferidos, no mercado de forma geral, mostram desaceleração no último trimestre de 2024, após o aumento observado ao longo do ano.
“Temos feito um trabalho de conscientização junto aos produtores e lideranças do setor, porque a RJ é uma ruptura no relacionamento e existem outros mecanismos para renegociação das dívidas. Alertamos que a RJ pode não ser o melhor caminho ao produtor”, pontuou Braz Lage.
De acordo com o executivo, o banco tem atuado de forma proativa junto aos clientes, mostrando que há condições para renegociação de financiamentos com aumento de prazos, condições de carência e ajustes na capacidade de pagamento.
Atualmente, o BB detém uma fatia de mercado de aproximadamente 57% junto aos produtores rurais pessoa física e de cerca de 50% na carteira ampliada. Ao fim de setembro, o saldo da carteira ampliada de agronegócio do banco somava R$ 386,6 bilhões, incremento de 13,7% em 12 meses, em linha com o guidance do banco. Os resultados anuais do BB serão divulgados em fevereiro.