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Bons ventos a favor do BB e Petrobras; mas vem aí a ventania eleitoral

Publicado em: 23/02/2022

Os ventos externos têm sido extremamente favoráveis às ações de exportadoras, dentre elas a Petrobras, e bancões, incluindo o Banco do Brasil. Os mesmos que levam inflação e juros para cima, trazem dólares ao país por esses dois canais. No caso das vendedoras de matérias-primas são vistas como proteção ao terem receitas turbinadas pelo rali de preços que tira o sono dos banqueiros centrais. Já as vendedoras de crédito são potencialmente beneficiadas por linhas de empréstimos mais caras, em linha com o aperto monetário global.

Os papéis da petroleira estatal, no embalo da alta de 17% dos preços do petróleo no mercado internacional, acumulam em 2022 até aqui ganhos pouco abaixo dos 18%. Já os do banco público subiram 22% no acumulado de 2022, com a Selic já prometendo andar dos atuais 10,75% ao ano para os arredores de 12% até junho. “Pelo menos”, de acordo com o Banco Central (BC), perigando ser necessário ir além, a depender do ritmo de alta dos juros americanos e do nível de ataque as contas públicas.

Tudo muito bem, tudo muito bom, ventos externos favoráveis. Mas haverá fôlego bastante para Petrobras e Banco do Brasil manterem o ritmo, quando a campanha eleitoral pegar fogo? “Digamos que haja um ringue no mercado”, diz Paloma Brum, analista da Toro Investimentos. “De um lado, há aqueles que defendem o investimento em estatais, apesar da alta exposição política, e de outro há quem prefira ficar de fora.” Mas de que lado ela está? Oras num, oras noutro.

“Gosto muito de operar estatais em janelas de oportunidade. Prefiro, por exemplo, quando esses papéis já estão mais esticados [ou seja, com preços já próximos do alvo ou além], colocar o pé no freio e sair desses papéis, observando o cenário político. Mesmo se o panorama se mostrar estável, não tem porque ficar carregando o papel, esperando uma novidade chegar para realizar os lucros, porque ela sempre vem, cedo ou tarde”, diz Brum.

De acordo com Brum, esse raciocínio fica mais claro quando se compara com as ações privadas. No caso dos bancos privados, por exemplo, diz que até é possível segurar um pouco papéis já nas proximidades do preço-alvo ou além deles. Já com o Banco do Brasil, não vale a pena o risco.

“O valor de mercado considerado justo para uma estatal tende a ser menor do que o das companhias privadas. Logo, se está próximo desse patamar, é hora de pular fora e aguardar. Quando vier uma forte correção, em geral ligada ao noticiário político, aí é hora de recomprar esses papéis, aproveitando a onda vendedora e depois esperar, de novo, outra janela de venda se abrir lá na frente.”

No caso do Banco do Brasil, a janela antes observada por Brum acaba de se fechar, dado o salto das ações no pós-balanço rumo às proximidades do preço alvo de R$ 36. Já no caso de Petrobras, a janela está quaaaase fechada. “Vejo como preço justo para os papéis da Petrobras as proximidades dos R$ 37, e já estão muito perto disso.” As preferenciais (PN), com preferência por dividendos, estão orbitando os R$ 33; as ordinárias (ON), com direito a voto em assembleias, estão a um triz de chegar lá.

Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais, está no time sendo levado pelos ventos externos. Ou seja, entende que o cenário macro global tende a preponderar no rumo das ações do Banco do Brasil e Petrobras, frente a ventania eleitoral.

“Por incrível que pareça, acho que é muito mais barulho o risco político em jogo do que qualquer outra coisa prática”, diz. “Temos visto a maior dificuldade para se interferir nos preços dos combustíveis, a não ser com redução de impostos. Mas mexer com a paridade internacional [que faz os preços praticados pela companhia oscilarem ao sabor do dólar e dos barris vendidos no mercado futuro londrino] parece algo fora de questão.”

“Se olharmos para o passado recente, com estais sendo usadas para controlar a inflação, incentivar o consumo, esse momento parece superado por causa de fatos recentes que condenam essas práticas. No caso da Petrobras, está claro que acompanhar o mercado internacional é essencial para não afugentar investimentos de outras companhias em óleo e gás, como aconteceu no governo Dilma. Já no caso do Banco do Brasil, tem hoje uma estrutura formada internamente, por funcionários de carreira, e não mais por ordens políticas como foi durante quase todo o seu passado.”

Um cavalo de pau nessas diretrizes, na visão de Bandeira, parece agora pouco viável, ainda que candidatos A, B ou C ameacem virar o volante de maneira brusca na campanha.

“Além do mais, investidores hoje estão correndo atrás de empresas maduras, com boa governança, geradoras de dividendos, é o caso de Petrobras e Banco do Brasil hoje. Então acaba que não deve ter grande efeito em seus preços o ruído político, ainda que com algum ou outro solavanco conforme candidatos tragam propostas mais ou menos polêmicas. Claro, o risco de confirmação dessas ameaças de interferência sempre existe, mas vejo hoje muito menor do que já foi no passado.”

Mas nem todo mundo no mercado tem tanta certeza assim de que essas águas são passadas. Aline Cardoso, estrategista da EQI Research, prefere aproveitar os ventos externos favoráveis para exportadoras e bancões empinando outras pipas no céu.

“Por enquanto, a questão do fluxo estrangeiro tem sobressaído. Mas acho que, chegando mais perto das eleições, os riscos políticos vão começar a pesar mais”, diz. “Mesmo hoje, com bons desempenhos, as ações das estatais já estão ficando um pouco para trás em relação a concorrência. Diria, portando, que esse risco político já está começando a ser embutido nos preços.”

Para dar cor ao que diz Cardoso, vale destacar aqui o desempenho das ações da Petro Rio, com alta de 22%, acima dos 18% da Petrobras. Já contra os 22% do Banco do Brasil existem os 24% acumulados em 2022 pelo Itaú Unibanco Holding. “Para surfar na onda global, me parece mais negócio comprar essas ações, privadas, que as das estatais brasileiras”, diz.

Para o sócio-fundador da 3R Investimentos, Tomás Awad, é verdade que a Petrobras esteja mais blindada do que noutros carnavais. “Além disso, os números da empresa são gritantes, e têm ajudado até o governo via distribuição de dividendos, ou seja, pode não ser tão interessante assim do ponto de vista do controlador acabar com a política de paridade”, diz.

Mas, contudo, no entanto, todavia… “À medida que a eleição começar a andar, dificilmente o desempenho da ação ficará tão imune assim ao risco de intervenções.”

Com o Banco do Brasil, entende Awad, existe mais risco de o investidor dar com os burros n’água do que em relação à petroleira. E não apenas pelo fato de ser um banco público. Mas porque, seja ou não, o setor tende a deixar de ser o alicerce de sustentação da alta de 8% e uns quebrados do Ibovespa até aqui em 2022, conforme a cena eleitoral for tomando cada vez mais a atenção do mercado.

Fonte: Valor Investe

 

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