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Drex poderá melhorar distribuição de auxílios e verbas do governo, diz BB

Publicado em: 09/11/2023

Conforme o desenvolvimento do Drex avança, os bancos brasileiros têm se esforçado cada vez mais para pensar em possíveis usos de caso para a moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês). No caso do Banco do Brasil, um dos focos de estudo no momento envolve a aplicação da versão digital do real para aumentar a eficiência de operações envolvendo verbas públicas.

É o que explicam Rodrigo Mulinari, CTO do Banco do Brasil, e Julierme de Souza, gerente-executivo de TI do banco, em uma entrevista exclusiva para a EXAME como parte do Especial: Real Digital. Nela, eles destacaram os esforços do banco público para se adaptar à expansão da tecnologia blockchain que a CBDC deverá gerar, com todas as consequências esperadas e imprevisíveis.

Por outro lado, eles pontuam que ainda é difícil pensar em casos de uso mais concretos para o projeto, em especial devido à possibilidade de muitas aplicações demandarem alterações nas atuais leis do Brasil para viabilizar a aplicação da CBDC, suas tecnologias e da nova plataforma que o Banco Central pretende criar.

Casos de uso do Drex

Segundo Mulinari, o sistema financeiro brasileiro tem vivido nos últimos anos um movimento de digitalização que foi acelerado pela pandemia. O Drex se insere nesse processo como um próximo passo a partir da tokenização, que segundo o CTO é a “evolução da digitalização. A gente vai poder tokenizar qualquer ativo e então negociá-lo”.

Para o executivo, esse processo deve resultar em uma maior democratização de diferentes produtos que são oferecidos atualmente no mercado graças a funcionalidades como o fracionamento de ativos e a implementação de garantias por contratos inteligentes. Com isso, as transferências de bens e ativos deverão ser facilitados, assim como “a vida do cidadão”.

“O Pix se propôs a tornar mais eficiente, fácil e padronizada a intermediação financeira. O Drex tem a mesma ideia, em especial para trocas mais complexas, como compra e venda de bens, que envolvem vários bens na cadeia, envio e programabilidade do dinheiro, que é um potencial muito importante. É algo que vai revolucionar, porque tem muitas opções a partir disso”, projeta Mulinari.

A expectativa, explica, é de uma popularização da tokenização e de todo do seu potencial, abrangendo tanto os produtos bancários tradicionais que são oferecidos pelo Banco do Brasil e outras instituições quanto algumas operações mais específicas do BB. É o caso da “entrega de benefícios e outras soluções governamentais”.

Como exemplo, ele cita o repasse de verbas governamentais: “Hoje, tem uma escola que precisa receber um valor, aí abre conta, designa responsável, cria ata para registrar isso, é todo um trâmite para isso e de prestação de contas. Com o Drex você poderia programar isso, definir quem tem direito, a região em que vai usar, os tipos de empresas em que vai usar e lastrear o dinheiro para o repasse”.

Já Julierme de Souza avalia que o grande avanço da CBDC deverá ser a popularização do uso da tokenização: “No futuro, vai ter uma gama de ativos e bens representados em uma rede digital na forma de ativo digital em um token, essa distribuição vai atingir um número maior de clientes. Porque vai poder fracionar ativos que muitas vezes tem um valor de face maior do que a pessoa consegue arcar”.

Ele destaca ainda as operações de compra e venda, explicando que “hoje, tem uma série e participantes na operação que tornam o processo um pouco demorado e ineficiente, e portanto caro. Quando refina os processos, diminui a participar de agentes, você barateia o custo e ganha o cliente na outra ponta”.

Em resumo, ele acredita que o Drex dará “acesso a uma operação de forma mais simples e baratas, produtos que antes eram inacessíveis. E produtos que devem nascer com a tokenização”. “No futuro, pode ter recursos transitando entre os clientes com destinação própria para uso, como um benefício sendo destinado e a utilização ser conforme o benefício regulamenta, como usar apenas para alimentação”.

Entretanto, Mulinari aponta que, apesar do potencial muito grande, o projeto também exige um “arcabouço regulatório que precisa andar em paralelo para que a gente possa usufruir de tudo”. Mesmo assim, ele projeta que “a simplificação de pagamentos aliada ao Pix vai ser imediata. Os demais [benefícios] vão ser percebidos conforme a regulação também ande, porque envolve vários entes, toda uma regulamentação por trás”.

Piloto e desafios

Na avaliação do CTO do Banco do Brasil, o estágio atual do piloto do Drex – em que o Banco do Brasil participa – é de “validação do ambiente, do arcabouço tecnológico que vai suportar o Drex. É o grande desafio e no que mais está envolvido. A combinação de segurança e privacidade é a maior questão, o maior desafio desse processo”.

Quanto aos próximos passos, ele diz que o processo deverá ser semelhante ao do Pix: “Simplificar o que está ligado à tecnologia, que hoje a gente demora para explicar, mas acredita que vai ser possível essa abstração, mostrar muito mais o que faz do que o como. Acredito que o cronograma é factível, até pelas primeiras entregas. E é algo que mexe com o mercado inteiro, então todo o mercado precisa estar preparado”.

Julierme pondera que a meta definida pelo Banco Central de lançar o Drex junto à população até o início de 2025 é “um desejo, daqui até lá tem muitos desafios a serem superados. Em um primeiro momento, talvez os clientes não vejam o Drex já em circulação, porque o foco inicial vai ser o atacado, o interbancário. No primeiro momento, será mais dos bancos que dos clientes. Mas com a regulação avançando, consegue estruturar negócios para opções de varejo de clientes”.

Ele avalia ainda que o projeto possui desafios que “vão desde a cadeia de tesouraria, em que os processos de reserva bancária vão ter que ser modificados, enxergando o Drex como ativo de movimentação, e o desafio de conectar o Drex aos negócios tradicionais. Mas o caminho da economia tokenizada é sem volta, é o futuro e está sendo uma realidade em todo mundo. O Brasil está caminhando para isso e os bancos tem que encarar”.

Fonte: Exame

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