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Era unânime ouvir do mercado que o BB não cobrava dívidas, diz CEO

Publicado em: 25/09/2025

A presidente do Banco do Brasil (BB), Tarciana Medeiros, afirmou que o banco mudou de forma radical sua postura em relação a garantias e cobrança de dívidas. A declaração aconteceu nesta quarta-feira (24) no Investor Day do BB, evento em Nova York que reúne investidores institucionais e analistas de mercado.

“Era quase unânime ouvir do mercado que o Banco do Brasil não buscava garantia, que o Banco do Brasil acabava não cobrando. Isso mudou e mudou radicalmente. A gente busca garantia e a gente tem cobrado, sim, de forma intensiva”, disse a executiva.

Segundo Medeiros, 2025 tem sido “um ano de ajustes” para o banco, diante de uma trajetória de inadimplência atípica. “Tivemos crescimento de inadimplência a partir de abril de 2025 completamente fora do que tínhamos visto anteriormente”, afirmou.

No agro, acrescentou, o cenário incluiu “um movimento diferente em recuperação judicial”, que exigiu medidas adicionais. Entre as ações adotadas, a executiva destacou a revisão dos modelos de risco e a unificação das esteiras de cobrança. “Fizemos ajustes nos nossos modelos de risco e uma revisão completa na nossa esteira de cobrança”, disse.

Ela ressaltou ainda o uso de inteligência artificial (IA) na concessão de crédito. “A expertise em concessão de crédito, agora intensificada com IA, faz com que tenhamos ganho exponencial”, afirmou, ao citar que o banco passou a adotar um modelo de crédito seletivo, com preço ajustado ao perfil de cada cliente.

Medeiros também lembrou a decisão de suspender o “guidance” (projeções) no início do ano, após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre. “Percebemos um descolamento da inadimplência em relação ao que havíamos planejado. Foi uma decisão difícil, mas estrategicamente necessária”, disse.

Correção de rota

Durante o Investor Day, Felipe Prince, vice-presidente de controles internos e gestão de riscos do Banco do Brasil (BB), afirmou que o banco está preparado para enfrentar a inadimplência no agronegócio. “O banco, ele demonstra muita resiliência para enfrentar esse ciclo de baixa do agronegócio de uma forma bastante robusta. E isso, inclusive, pela absorção que nós estamos fazendo durante 2025 no volume de provisões atreladas a esse segmento”, disse.

O executivo afirmou que, em 2025, o risco “extrapola” o ponto entendido como ótimo para o banco para geração do risco-retorno, mas que esse risco deve diminuir à frente. “Todas as medidas estão sendo adotadas para que a gente possa trazer novamente esse risco para a nossa média, que está ali em torno de 2,7% e 3%. A gente já estima para 2025 esse risco mais elevado, ou seja, o risco da carteira, ele deve ficar entre 4,7% e 5%”, disse.

Prince ressaltou que aquilo que está “machucando o risco” hoje é a carteira de agronegócio, e ainda que 75% dos clientes inadimplentes nunca haviam atrasado com o banco. “O que mostra que efetivamente tem um comportamento novo em função do cenário, mas parte também em função de medidas como a recuperação judicial, que nós entendemos que não é a mais saudável e não é a que traz perenidade e sustentabilidade para a atividade do campo.”

Para enfrentar o cenário, Prince disse que o BB reforçou garantias e cobranças. “Nós reforçamos a nossa esteira de cobrança para que a gente possa ser mais agudo, mais incisivo, ativando processos de execução e também reforçando as garantias na concessão, notadamente com a migração gradativa do portfólio”, disse.

“É isso que nos dá confiança para que a gente enfrente esse momento e possamos fazer a recuperação, inclusive, dos nossos clientes.”

Prince disse ainda que a crise de crédito no agronegócio tem se espalhado para outras carteiras, atingindo inclusive pessoas físicas. Segundo ele, como os produtores financiam veículos, tomam empréstimos para diversas finalidades e utilizam cartão de crédito, as dificuldades no campo acabam contaminando outros segmentos.

Apesar disso, Prince destacou que o impacto é “pequeno e bem administrado, mesmo a gente enfrentando a maior crise de crédito do agronegócio dos anos recentes”.

Atualmente, produtores rurais representam 6% da carteira de pessoa física do banco, mas concentram 29% da inadimplência desse segmento.

O executivo disse ainda que o BB vem promovendo ajustes para corrigir a rota e ampliar a geração de margem líquida dos portfólios. Ele reforçou que a prioridade do banco é manter a rentabilidade, garantindo que a receita seja compatível com os riscos assumidos.

A presidente do BB afirmou que as Medidas Provisórias (MPs) de renegociação de crédito rural anunciadas pelo governo terão impacto além do banco. “É importante a gente lembrar que o Banco do Brasil tem 50% desse mercado, mas há 50% no mercado como um todo. Então, a medida vem beneficiar todo o mercado financeiro”, disse.

Ela ressaltou que os produtores atendidos também operam em outras instituições. “Esse cliente não é cliente só do Banco do Brasil, ele opera no mercado financeiro. Esse trabalho também, em parceria com as demais instituições, é importante para que a gente evite que esse produtor entre numa nova situação de inadimplimento nos próximos anos”, afirmou.

O vice-presidente de agronegócios, Gilson Bittencourt, disse que a expectativa é de melhora gradual. “A partir de outubro, quando as duas medidas estiverem já completamente em vigor, nós vamos estar entrando numa nova fase. Nós não esperamos um resultado efetivo em 2025, por isso que a gente está destacando muito a recuperação a partir de 2026”, disse.

Bittencourt disse que o banco tem expectativa de captar entre 40% e 50% dos recursos previstos na Medida Provisória (MP) 1.314, de R$ 12 bilhões em crédito. “A nossa expectativa é ficar entre 40% e 50% desses 12 bilhões virem para o Banco do Brasil”, afirmou.

A linha, afirmou, deve beneficiar sobretudo grandes produtores que já operam a taxas livres, enquanto os recursos subsidiados atenderão agricultores de municípios afetados por perdas climáticas. “O banco hoje tem algo em torno de 20 bilhões de inadimplência no crédito rural e cerca de 57 bilhões de operações prorrogadas nos últimos anos”, disse Bittencourt.

Ele destacou que, apesar do nível de inadimplência, mais de 96% dos produtores estão pagando em dia. “Nesses primeiros dois meses e meio, a gente já desembolsou cerca de R$ 45,2 bilhões para o setor rural, dos quais R$ 39,2 bilhões em crédito rural e CPR [Cédula de Produto Rural]”, disse.

Sobre a próxima safra, o executivo avaliou que a perspectiva é positiva, com estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de novo recorde em milho e soja. “Essas questões ligadas à inadimplência não são do agro como um todo. O agro continua produzindo, continua avançando”, afirmou.

Fonte: Valor Econômico