No dia 3 de outubro aconteceu, em São Gabriel da Cachoeira (AM), a inauguração do Centro de Aprendizagem Indígena para Transição Energética Justa. O projeto é de autoria da Unicamp, em parceria com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e com o Instituto ANABB, dentro do projeto Sollar Rio Negro.
O Instituto ANABB foi representado pela Direg Terezinha Silva, que destacou o potencial transformador da iniciativa. “Eu fiquei impressionada com a competência e dedicação de todos os envolvidos. O Centro está lindo, todo estruturado. Esse projeto vai dar bons frutos, não tenho dúvida. Se depender dessa turma, vai dar muito certo”.
A vice-presidente Graça Machado, que trabalhou diretamente com o projeto, apontou que o projeto combina pilares essenciais para o futuro que o Instituto ANABB deseja construir, dentre eles, inovação, inclusão e sustentabilidade. “Uma iniciativa social que une saberes ancestrais e ciência moderna em prol de uma transição energética justa e sustentável para os povos indígenas da Amazônia. Esse é o projeto Ciência Indígena e Justiça Climática: transição energética na Amazônia, um modelo inédito de pesquisa colaborativa que coloca o protagonismo indígena no centro das soluções climáticas”.
Segundo o presidente do Instituto ANABB, Nilton Brunelli, “ao apoiar este Centro, o Instituto ANABB investe na transformação social e na sustentabilidade da Amazônia. A colaboração com a Unicamp e as comunidades indígenas prova que é possível aliar tecnologia de ponta com o respeito à floresta. É um projeto de longo prazo que garantirá luz, renda e dignidade para as futuras gerações”.
O Centro de Aprendizagem Indígena é resultado de anos de articulação entre a FOIRN e instituições de ensino e pesquisa.
Em seu discurso de abertura do Centro, o professor Luiz Carlos Pereira da Silva, coordenador do Centro Paulista de Estudos da Transição Energética (CPTEn), enfatizou a importância das parcerias para os projetos da Universidade, destacando o papel do Instituto ANABB. Segundo ele, a iniciativa de colaboração partiu da própria entidade. “A diretora da ANABB, Graça Machado, encontrou o projeto na internet e entrou em contato conosco imediatamente, buscando fazer parte. Ela conheceu a história do Arlindo e da iniciativa e, a partir daí, decidiu aderir”, relatou o professor. Arlindo Baré é um estudante indígena, que cursa Engenharia Elétrica na Unicamp, e que é um dos idealizadores do projeto Sollar Rio Negro. Ele saiu de sua aldeia, buscou o conhecimento e, agora, tem a oportunidade de aplicar os aprendizados à sua comunidade.
A fala do professor Luiz Carlos no evento reforça o que ele já havia destacado em entrevista concedida em agosto, na qual contextualizou a urgência do projeto ao apontar que cerca de um milhão de brasileiros na Amazônia ainda vivem sem fornecimento adequado de eletricidade. “Nosso compromisso é fazer com que o conhecimento desenvolvido na universidade chegue à sociedade. Projetos como este são parte desse esforço”, afirmou na ocasião. A entrevista pode ser assistida na íntegra neste link.
De acordo com o Arlindo, foi a primeira vez que gerentes do Banco do Brasil participaram do evento. Jacqueline Fernandes, gerente geral do BB, parabenizou a iniciativa: “Foi uma honra poder participar e conhecer um projeto tão importante que carrega a marca e os valores do nosso BB. O evento foi muito emocionante”.
Desde o dia 28 de setembro, lideranças e jovens indígenas participaram de uma semana de formação continuada, que incluiu desde rodas de conversa sobre epistemologias indígenas e justiça climática, até oficinas práticas de montagem e manuseio de painéis solares. O cronograma contemplou também debates sobre gestão comunitária de energia e o papel das microrredes solares no enfrentamento à dependência do diesel, realidade ainda predominante em muitos territórios amazônicos.
No sábado (4), a programação encerrou-se com uma “excursão ancestral”, passeio cultural que conecta o aprendizado técnico ao fortalecimento das tradições locais.
Projeto Sollar Rio Negro
O Sollar Rio Negro visa trazer energia sustentável às comunidades indígenas do local. Tem como meta capacitar lideranças indígenas de diferentes etnias para a instalação, gestão e manutenção de sistemas de energia solar em suas comunidades. A proposta é que, no futuro, essas populações alcancem autonomia energética, reduzindo a dependência de geradores a diesel e garantindo acesso à energia limpa e contínua.