As seguradoras do Banco do Brasil e Mapfre cuidam dos últimos detalhes para assinar o contrato definitivo da nova parceria até o fim do primeiro semestre. As conversas, que começaram em meados do ano passado, tiveram como objetivo principal realinhar o apetite de risco das duas instituições e resultaram em uma cisão parcial dos negócios. Na configuração atual, com vigência até 2031, a parceria é feita por meio de duas joint ventures. Na primeira, batizada de SH1 e que concentra as operações de seguros de vida, habitacional e rural, a Mapfre ficou com uma fatia de 25% e o BB, com os outros 75%. A segunda, SH2, reúne basicamente seguros patrimoniais e de automóveis, e o capital é dividido igualmente entre as duas instituições.
Nas duas subsidiárias, os produtos são vendidos com as duas marcas e por dois canais diferentes. A marca BB sai via canal bancário e a Mapfre, pelo canal de mesmo nome, que inclui corretores, meios digitais, varejistas. E aí consiste a mudança: a nova parceria reunirá apenas as vendas dos produtos via canal bancário, em uma joint venture de 75% da brasileira e 25% da espanhola. Para isso, a seguradora independente pagará um preço para operar sozinha tudo o que passar pelo canal Mapfre. Além disso, o BB deixará de emitir apólices de automóveis e grandes riscos, o que passa a ser totalmente operado pela parceira, ficando apenas com a venda dos produtos no seu balcão. A Mapfre não revela o valor do pagamento.
“Com dois canais diferentes de distribuição sob o mesmo modelo de gestão, tudo era uma discussão: os investimentos, as prioridades, a promoção [dos produtos]. Agora, cada um vai seguir o seu processo, ter o apetite de risco que quiser. Nós [da Mapfre] poderemos nos associar e fazer novas parcerias, enquanto seguimos sócios do BB no canal bancário”, afirmou ao Valor o presidente da Mapfre no Brasil, Wilson Toneto.
A saída do Banco do Brasil dos ramos de auto e grandes riscos mostra o apetite diferente das instituições na hora de assumir riscos. Toneto esclarece que a lógica operacional de um banco é diferente da de uma seguradora global. “O tempo que você leva para reorganizar um produto de seguro nem sempre é o mesmo que o de um banco. Aqui, vendemos produtos com precificação feita hoje e exposição a riscos futuros, diferente de ter um custo inicial definido e já sabendo a margem. Dependemos de como o mercado vai se comportar em relação ao esperado”, afirma.
A Mapfre atua em outros ramos como resseguro, atende clientes globais e isso, de alguma maneira, pode compensar ou gerar mais atrativos em relação ao banco, segundo o executivo. “Apetite ao risco vai muito do capital que eu quero investir, retornos que eu espero, disposição ao risco que eu pretendo ter.”
Depois da assinatura do contrato definitivo, são esperadas as aprovações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o que não deve demorar, segundo o presidente, uma vez que se trata de uma cisão parcial, e não fusão. Após esse processo, a Mapfre sai da briga pela primeira posição em participação de mercado junto com o BB, passando para o quarto ou quinto lugar, estima o executivo. A operação será financiada pela espanhola em parte com recursos disponíveis em caixa e uma fatia adicional será enviada pela matriz, no exterior. O grupo não tomará nenhuma dívida no Brasil.
A estratégia e os investimentos adicionais que a Mapfre fará no Brasil confirmam a visão positiva do grupo no longo prazo para o país, na opinião do presidente. “Do ponto de vista macroeconômico, estamos melhores do que há três anos. O seguro depende muito do crescimento orgânico da economia, do nível de investimento, da infraestrutura, geração de empresa e estabilidade no cenário. Já começamos a ver os sinais de retomada do crescimento”, completa.
Uma das apostas da companhia é o ramo do agronegócio, que tem sustentado o país nos últimos anos, nas palavras de Toneto. O alcance ainda é baixo – cerca de 12% do setor contrata seguro – e o foco estará em todos os componentes da cadeia, passando inclusive por maquinário, implementos agrícolas, propriedades, seguro de vida. Seguro de vida e prestamista é outra vertente que deve trazer resultados adicionais para a seguradora. Prestamista já está em uma tendência de melhora, com a volta do crédito, e vida tradicional terá retomada mais lenta, acompanhando o ritmo do mercado de trabalho.
Em 2017, a atividade da Mapfre no Brasil cresceu 3,5% e gerou €4,5 bilhões (cerca de R$ 16,6 bilhões) em prêmios, representando 20% das operações do grupo no mundo. O lucro líquido somou €128 milhões (R$ 465,7 milhões), uma queda de 11% decorrente do aumento do índice de sinistralidade na carteira de autos e do menor volume de vendas no segmento de vida do canal bancário.