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Novos fundos de previdência se multiplicam e prometem retornos melhores

Publicado em: 02/12/2022

Na medida em que o mercado de capitais evolui, cresce também a quantidade de produtos disponíveis, sempre tentando se adaptar ao gosto e perfil dos investidores. Embora a indústria de fundos como um todo esteja aquecida, os de previdência vêm se destacando. O número de fundos da categoria saltou 79% de 2019 para 2022, contra 40% dos fundos multimercados, 68% nos fundos de ações e apenas 17% na renda fixa.

A indústria de previdência privada alcançou em setembro a marca de R$ 1,14 trilhão de patrimônio líquido, o dobro da cifra de cinco anos atrás, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A categoria representa hoje 20% de toda a alocação na indústria de fundos do Brasil.

Nos últimos anos, os fundos de previdência vêm se renovando. Eles caminham para tentar reverter a má fama de produtos ruins, engessados e que frequentemente perdem para a inflação. As adaptações para atender aos investidores cada vez mais exigentes ainda estão em curso, mas já apontam para uma evolução percetível da previdência privada.

O que mudou?

Mudanças regulatórias permitiram o lançamento de fundos novos mais arrojados, com a possibilidade de gestão sofisticada em ativos diversos. A classe conseguiu se expandir para além da monotonia da renda fixa. Com o aumento da concorrência, as taxas de carregamento, entrada e saída que tornavam os fundos de previdência privada pouco atrativos e minavam a rentabilidade foram sendo reduzidas e, em muitos casos, eliminadas.

“A competitividade não é somente nas taxas, o fato de poder escolher mais opções melhora a composição da carteira previdenciária, possibilitando diversificação e adequação ao perfil de cada um”, afirma Tiago Roque, diretor de investimentos da PREVES, fundo de pensão dos servidores públicos do Espírito Santo.

A partir das atualizações das regras, os gestores passaram a ter mais flexibilidade para montar as carteiras. Por exemplo, antes havia muitas travas para alavancagem dos fundos, além de um limite rígido na parcela investida no exterior e em ações. Ainda há uma camada de proteção para esses fundos, mas ela está mais maleável.

Após os avanços, tornou-se possível alavancar um pouco mais e investir até 100% dos recursos em ações e 40% em ativos do exterior em fundos destinados a investidores qualificados (aqueles com mais de R$1 milhão investido ou profundo conhecimento de mercado). Para os demais investidores, de varejo, os limites são mais conservadores, de até 20% para ativos no exterior e 70% em ações no caso dos fundos de previdência.

O vice-presidente de produtos da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), Sandro Bonfim, explica que as mudanças contribuíram para que casas e gestores independentes tivessem mais interesse em lançar produtos previdenciários.

“O marco inicial de mudança foi a resolução Nº 4.444 do Conselho Monetário Nacional (CMN), em 2015. De lá para cá, o mercado se modernizou bastante, o que levou a esse ‘boom’ que vemos agora. Na medida em que o mercado ganha escala, mais gente vem comprando plano e mais seguradoras entraram no mercado. Hoje existem fundos muito competitivos em qualquer seguradora e a preços bastantes interessanres”, diz Bonfim.

Diversificação de gestores e estratégias

A assessora de investimento Luciana Ikedo destaca um outro mecanismo importante no desenvolvimento dessa “previdência privada 2.0”: a possibilidade de replicar estratégias de fundos comuns, já famosos e consolidados.

“Você tem uma espécie de réplica daquele fundo na previdência. Dessa forma, os gestores podem utilizar a mesma estratégia e o investidor pode se beneficiar bastante com as benesses fiscais dos fundos de previdência. Eles não têm come-cotas. A incidência de imposto de renda é somente no resgate. Isso tem muito impacto a longo prazo”, diz.

O come-cotas é o desconto de imposto de renda dos fundos, realizado automaticamente a cada seis meses. Sem essa tributação antecipada, o montante investido se torna maior e favorece o investidor na matemática dos juros sobre juros.

De acordo com a analista de fundos e previdência Luciana Seabra, os investidores de longo prazo podem se beneficiar ainda mais da política de incentivo fiscal para produtos de previdência. Isso porque o imposto pode chegar a 10% no resgate na tabela regressiva, quando a aplicação dura mais de 10 anos. Nos fundos tradicionais, a alíquota mínima só vai até 15%.

“De uns cinco anos pra cá, começaram a nascer fundos muito bons, com gestores independentes que já tinham o produto fora da previdência, mas perceberam que na previdência a tendência é ter menos resgate nos momentos de estresse. Então gestoras como SPX, Ibiúna e Verde aperfeiçoaram os produtos”, explica.

Para o gestor da Ace Capital, Maiko Carvalho, o fato de agora a regulamentação permitir a cobrança de taxa de performance também contribui para tornar o produto mais interessante. “Antes, só podia ser cobrada taxa de administração, mas não de performance. Havia um incentivo para ser pouco ou zero agressivo. Agora, tenho um incentivo de correr mais risco nessa classe de fundos e ser premiado quando conseguir bons resultados”, afirma.

A taxa de performance só é cobrada sobre o valor que exceder a referência do fundo, o chamado ‘benchmark’, na linguagem do mercado. Por isso, se um fundo tem como referência o CDI – certificado de depósito interbancário que acompanha a taxa básica de juros (Selic) – o gestor ganha um percentual sobre tudo que render mais que o CDI no período. Se a performance for apenas dentro do esperado ou abaixo disso, o gestor não recebe o dinheiro extra.

Carvalho explica que a Ace só se interessou em lançar produto de previdência depois das mudanças regulatórias da Resolução n° 4.769 de 2019 do Banco Central. A partir de então, passou a ser permitida uma alocação mais significativa em ativos sujeitos à variação cambial.

“A gente começou com essa linha em 2020, já com o regulamento novo. Antes disso, as gestoras independentes não tinham muito interesse [em previdência], porque havia muitas travas que impossibilitavam uma gestão ativa com boas opções. Por isso, só os bancos ofereciam produtos, que eram indexados e com taxas altas. Era um produto caro por falta de competição”, completa.

Os grandes bancos tentam acompanhar a tendência e também lançam novos produtos. Eles não querem perder uma fatia da indústria que só tem a crescer na medida em que a população envelhece e se torna mais consciente sobre as finanças. Para o especialista de portfólio da Santander Asset, Clayton Calixto, a reforma da Previdência Social em 2019 também serviu para evidenciar a importância da previdência privada.

“Adaptamos o portfólio a essa demanda nova do investidor em que ele busca mais risco e mais diversificação. É um mercado que tende a crescer muito, ele vai entender que vai cada vez mais precisar de uma poupança de aposentadoria”, diz. Segundo o executivo, a nova leva de fundos da gestora supera o CDI, mesmo os mais conservadores.

Atenção para os produtos ruins

E não é que os fundos ruins, que há anos perdem até para inflação, foram extintos. Eles continuam nas prateleiras e são ofertados por bancos ainda hoje. A diferença é que agora há mais diversidade na mesa para escolher. Mas muitos investidores não sabem disso e ainda deixam de ganhar mais com dinheiro investido nesses produtos. Há bilhões de reais alocados em fundos de baixíssima rentabilidade.

“O ruim continua existindo e, paralelamente a ele, nasceu um novo bom. Os maiores produtos de previdência brasileiros ainda são muito ruins. Rendem apenas uma fatia do CDI há mais de 10 anos. São caros perto do que fazem, sem qualquer sofisticado de gestão. Lamento que ainda existam e sejam tão grandes”, afirma a analista Luciana Seabra.

Da mesma forma, entre os fundos novos, nem todos são bons. Para Carvalho, gestor da ACE, é preciso ficar atento na hora de escolher. “Assim como na indústria convencional, você tem fundos que vão bem e fundos que vão mal. É a realidade. Há uma oferta maior de produtos e dentro dessa oferta você passa a ter melhores opções, mas o trabalho de selecionar bons fundos faz diferença no longo prazo”, diz.

Fonte: Valor Investe

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