Até o fim do ano, o Banco do Brasil poderá ter ultrapassado os 10% de agências com contratos firmados para o abastecimento com energia solar. Na semana passada, saíram os vencedores das licitações de mais três projetos. Com isso, passará a ter agências abastecidas por energia solar no Distrito Federal (30 unidades), Pará (39) e Goiás (mais 39). Agora, o prazo estimado para a homologação do processo é de 120 dias, contados a partir da fase de habilitação documental. Somando-se as agências mineiras, da primeira fase, são 296 até agora.
A instituição financeira começou a investir nessa fonte no ano passado. Em dezembro, sua primeira fazenda solar será inaugurada em Minas Gerais, em Porteirinha, e irá cobrir 88 agências. Já a segunda, em Araçuaí, vai atender a 100 agências e começa a operar em março de 2020.
Com as cinco usinas (duas de Minas, mais DF, Pará e Goiás), o banco espera chegar a uma economia acumulada em 15 anos de R$ 250 milhões, aproximadamente. A previsão era chegar a R$ 20 milhões nas três novas usinas, recém anunciadas, mas como a disputa de preços foi grande no leilão eletrônico, esse valor deve ficar acima de R$ 50 milhões.
José Ricardo Fagonde Forni, diretor de Suprimentos, Infraestrutura e Patrimônio do Banco do Brasil, conta que, em média, os últimos projetos devem levar oito meses para sair do papel e começar a abastecer as agências. “O Porteirinha levou mais tempo para estar pronto porque ainda era uma fase de aprendizado para a instituição, tanto pra gente quanto para o mercado”, diz.
Segundo Forni, o BB decidiu ampliar seu projeto de fontes alternativas por duas razões. Primeiro porque os gastos com energia elétrica estão entre os maiores do banco. Entre as despesas administrativas, está em sétimo lugar. No ano passado, as despesas com a conta de luz somaram cerca de R$ 460 milhões. Além disso, pesou a decisão de o BB estar mais próximo dos temas sustentáveis.
No caso das duas fazendas de energia solar de Minas, o valor total dos contratos é de R$ 88,3 milhões, mas esse número poderá aumentar em função de eventuais aditivos. A economia esperada é de 58% ao se levar em consideração o ciclo de vida dos contratos, de 15 anos.
Minas atraiu a área de planejamento do banco porque tem uma atratividade grande para quem investe na produção de energia fotovoltaica e por conta do valor da energia e a isenção de ICMS para fontes renováveis, o que acaba em um peso adicional nas despesas.
Custos na balança A área responsável por esses projetos no BB leva em consideração na composição da fórmula de viabilidade que define o mapa de expansão dos projetos de energia solar, por exemplo, o custo do valor do terreno que será adquirido para a construção da fazenda de energia solar.
“Temos apetite para expandir o projeto para o Brasil inteiro. Mas é preciso levar em consideração a análise de uma série de características para definir por onde seguir. Em São Paulo, por exemplo, estamos em uma fase bem adiantada do projeto, mas sabemos que o preço do terreno pesa muito e isso também tem de entrar na conta”, diz Forni.
Os contratos feitos até agora preveem uma validade de 15 anos. As usinas não são de propriedade do banco. São construídas e administradas pelo vencedor da licitação, que pode, se quiser, ampliar o projeto e atender a outros clientes, mas sem deixar de entregar o que foi contratado pelo banco. Com a previsibilidade de entrada de dinheiro em caixa por um período longo, por meio do pagamento de um aluguel, o projeto se torna mais atraente, segundo o diretor do BB.
Além de São Paulo, a equipe técnica está em fase de análise para expansão das fazendas de energia solar na Bahia e no Ceará. Como estão em etapas adiantadas, em fase de prospecção de valores, até o final do ano, acredita Forni, esses três estados serão licitados.
Segundo dados divulgados referentes ao segundo trimestre de 2019, o BB conta com 4.711 agências e 1.832 postos de atendimento. Apesar da velocidade, Forni não acredita que mais algum estado entre em licitação para o abastecimento por fazendas solares ainda em 2019.
Forni explica que o que está acontecendo com a energia fotovoltaica em Minas exemplifica o interesse crescente das empresas por essa fonte alternativa. “Do lado do mercado, a demanda está muito ativa. Mas pesa nas decisões a questão do ambiente regulatório. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pode acelerar ou desacelerar esses projetos”, pondera o executivo. Ele não é específico no comentário, mas a declaração foi feita na semana em que o órgão regulador fez uma alteração importante no setor.
Além do projeto das fazendas de energia solar, o BB começou a investir em outras fontes. Em junho de 2018, o banco assinou um contrato com a EDP para a migração de 24 de suas grandes unidades consumidoras para o mercado livre de energia elétrica ou o ambiente de contratação livre (ACL).
Nessa modalidade, os consumidores compram a energia e podem escolher livremente seus fornecedores, na chamada “portabilidade da conta de luz”. É possível ainda receber energia de fontes renováveis, como eólica, solar e de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
O processo de migração de todos os prédios do BB – o primeiro foi feito em janeiro – que entraram no contrato com a EDP ainda não terminou. Quando estiver concluído, em 14 estados do Brasil, a economia deve passar de R$ 50 milhões acumulados ao final de cinco anos. Nos primeiros nove meses em que está em vigor, a economia com as 18 unidades já adequadas foi de R$ 1,2 milhão. O banco prevê que até fevereiro de 2020 ocorram as migrações das últimas 6 unidades.
O Edifício Banco do Brasil, em Brasília, alugado pela instituição, também aderiu ao modelo de grandes unidades consumidoras para o mercado livre de energia e vem sendo abastecido por fontes renováveis, fora do contrato com a EDP, desde outubro de 2018. Até agora, o valor da conta de luz ficou 20% menor. Com isso, a economia já passou de R$ 1 milhão.
Novas regras podem mudar humor de investidores
Assim como as atuais regras para fontes renováveis de energia, como solar e eólica, estimularam o aumento de projetos, José Ricardo Fagonde Forni, diretor de Suprimentos, Infraestrutura e Patrimônio do Banco do Brasil, avalia que mudanças, dependendo do seu conteúdo, podem desacelerar a expansão.
No último dia 10, a diretoria da Aneel aprovou alterações nas regras para contratação de usinas eólicas e solares no próximo leilão A-6, marcado para 18 de outubro. Segundo texto do edital, os contratos desses empreendimentos terão de acompanhar a carga declarada pelo comprador, mês a mês.
Com isso, as usinas passam a ser responsáveis pelos custos da compra de energia no mercado de curto prazo nos casos em que não gerarem o que deveriam, seja por ausência de sol ou de vento. Até então, o montante era repassado para o consumidor. Ou seja, muda a fórmula usada até agora.
A decisão foi tomada durante a votação do edital do leilão A-6 de 2019, que tem por objetivo a contratação de energia a partir de novos empreendimentos para início do fornecimento em 2025. A proposta da diretora da Aneel, Elisa Bastos, relatora do processo, para que os empreendimentos participassem de leilões sem ter o compromisso de entregar uma quantidade definida de energia todo mês, foi rejeitada no colegiado por três votos a um.
Fonte: Estado de Minas