Seguindo a trajetória de recuperação após as fortes provisões no período mais conturbado da pandemia do coronavírus, os grandes bancos de capital aberto tiveram alta expressiva do lucro no terceiro trimestre na comparação anual, de cerca de 32% em termos ajustados, somando cerca de R$ 23 bilhões, ainda que tenham registrado um trimestre tímido frente abril e junho deste ano, com alta de 4,3% nessa base de comparação.
Contudo, as reações dos investidores e analistas de mercado foram bastante distintas sobre os resultados. Enquanto os primeiros balanços apresentados não foram recebido com muito ânimo pelos investidores, caso do Santander Brasil (SANB11) e principalmente do Itaú (ITUB4), o Bradesco (BBDC4) e o Banco do Brasil (BBAS3) tiveram números mais bem avaliados pelos analistas.
O BB teve um trimestre com lucro líquido acima das expectativas do mercado, enquanto o Itaú apresentou um resultado com recuperação em seguros e serviços, mas que desagradou por conta do aumento da inadimplência em meio a casos específicos no atacado e em América Latina, destaca análise do Banco Inter.
Já o Bradesco reportou bons números com destaque para a recuperação do ramo de seguros, que tinha sido o ponto fraco da instituição no segundo trimestre. Já o Santander manteve seu nível elevado de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês), com bons números na tesouraria e margem com clientes, mas ainda com algumas “velhas” questões no radar da instituição financeira.
Um ponto que seguiu sendo destaque foi o chamado índice de cobertura – que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes – e que foi especialmente acompanhado pelos analistas em um cenário de possível aumento da inadimplência com a piora das condições macroeconômicas.
Nesse quesito, o Banco do Brasil se mostrou o mais protegido, conforme destacou a equipe de análise da XP Investimentos. O BB aumentou o seu provisionamento, o que levou a um índice de cobertura de 323%, muito superior aos seus pares privados, de 250% do Santander, 297% do Bradesco e 234% do Itaú.
Em seguida nesse quesito, esteve o Bradesco. Conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos, vale ressaltar que, mesmo com a redução da Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), o índice de cobertura acima de 90 dias do Bradesco ainda ficou em quase 300%, patamar saudável para o banco, além de uma redução da despesa de PDD Expandida, refletindo a melhora nos processos de concessão de crédito e do mix de produção praticado.
A XP também ressalta esse ponto, avaliando que, embora o banco tenha consumido 28 pontos percentuais de índice de cobertura, o atual nível de 297% ainda é superior aos seus pares privados, enquanto o índice de inadimplência também cresceu em um ritmo inferior ao dos pares.
Cabe ressaltar que, tanto para o Santander Brasil quanto para o Itaú, a queda no índice de cobertura foi destacado como um fator negativo para os balanços do terceiro trimestre.
No quesito inadimplência acima de 90 dias, a do Bradesco se manteve quando comparado com o trimestre passado, chegando a 2,6%. A do Itaú registrou uma ligeira alta para o mesmo patamar, indo de 2,3% no segundo trimestre para 2,6% no terceiro, que ocorreu graças um cliente específico da carteira de grandes empresas, que saltou de 0,3% no trimestre anterior para 1,1% no terceiro trimestre, enquanto que, na América Latina, um cliente específico também foi responsável pelo aumento do índice. Ambos os clientes responsáveis pela piora nos indicadores já estão provisionados.
Para o Santander, o índice veio um pouco acima dos últimos resultados, no patamar de 2,4%. A surpresa positiva, mais uma vez, ficou para o BB, que teve queda do índice para 1,82%.
Entre projeções cautelosas e otimismo
Além dos resultados em si, os investidores também acompanharam de perto as sinalizações dos executivos sobre os próximos passos dos bancos. Em teleconferência para comentar os resultados, apesar de destacar pontos positivos e afirmar que o banco é capaz de gerar capital suficiente para crescer no futuro, Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, também destacou um cenário mais cauteloso para 2022. O próximo ano, segundo ele, inspira cuidado em um cenário de maior incerteza política e juros mais altos, demandando cautela em termos de crédito.
“Quando olho para 2022, é um cenário em que se vê uma piora na inadimplência, é esperado que seja assim, e estamos preparados para isso do ponto de vista do provisionamento no balanço”, apontou.
Para o ano que vem, sinalizou, a projeção é de uma carteira de crédito que cresça menos. Ele avaliou que a margem financeira com o mercado ainda deveria desacelerar já no quarto trimestre.
Já Octavio de Lazari, presidente executivo do Bradesco, destacou que o banco deve apresentar crescimento de dois dígitos em sua carteira de crédito em 2022, ainda que tenha reforçado o cenário de um otimismo cauteloso em meio ao ambiente mais desafiador para a economia no próximo ano. “Talvez não cresça os 16% deste ano, mas certamente será acima de dois dígitos”, apontou. O maior otimismo com a carteira de crédito vem de outros fatores como a alta da base de clientes.
O CEO ainda apontou que os atuais níveis de provisão são mais do que suficientes para lidar com inadimplência e que ela está abaixo do nível pré-pandemia. “Estamos bem provisionados, e como a inadimplência está controlada é normal um consumo dessas provisões”, avalia, ressaltando que a inadimplência pode crescer em 2022, mas sem atingir os níveis históricos. Além disso, ressaltou que a inadimplência deve crescer mais para a pessoa física, sem ver “problema em empresas”.
Para o Credit Suisse, no geral, as sinalizações transmitidas durante a tele do banco foram positivas, como o crescimento de crédito de dois dígitos, crescimento de opex abaixo da inflação, qualidade saudável dos ativos (crescimento das provisões em linha com a carteira de crédito) e margem de clientes crescendo pelo menos em linha com a carteira de empréstimos.
Sobre a margem financeira (NII, na sigla em inglês), Lazari destacou que o crescimento em linhas de maior spread resultará em melhora nos próximos anos. O Bradesco, apontou o CEO, deve fechar o ano com a margem com cliente entre o meio e o topo das projeções, de 2% a 6%.
Ele destacou ainda que as despesas operacionais devem fechar 2021 com queda de 1%, enquanto o guidance é de queda de 5% a queda de 1%. Com relação a PDD, que para 2021 foi revisado na véspera de R$ 13 bilhões a R$ 16 bilhões, a projeção é de que feche entre o meio e a parte de menor volume das projeções.
A visão positiva foi reforçada durante o Bradesco Investor Day, realizado na semana passada. Segundo o Credit, a leitura foi de uma mensagem bastante positiva para 2022 apesar do cenário macro complexo
A expectativa de um forte crescimento de NII, crescimento de taxas de serviços acima da inflação, despesas operacionais crescendo abaixo de inflação e normalização de provisão foram alguns dos destaques, com a apresentação também tendo um papel importante de destacar a perspectiva positiva para o crédito, avanço no digital e eficiência, além de temas ESG, apontaram os analistas do banco suíço, que saíram do evento construtivos com o ambiente para o banco.
“O sucesso da estratégia digital dos bancos grandes tem sido de certa forma negligenciada pela maioria dos investidores, mas na nossa leitura o avanço tem sido relevante além de trazer uma baixíssima canibalização de clientes”, avaliam os analistas.
Já após a divulgação dos números do terceiro trimestre, o Banco do Brasil melhorou suas expectativas de resultado (guidance) para 2021, com previsão de crescimento da carteira passando de 8-12% para 14-16%, o que suporta uma margem financeira mais alta e também o lucro líquido.
O banco estatal espera seguir apresentando forte crescimento de sua carteira rural ao longo do ano, o que, segundo a XP, corrobora a visão da casa de uma carteira mais protegida em relação os outros bancos. Já a estimativa de lucro líquido do BB supera a estimativa dos analistas da XP para o ano de R$ 18,8 bilhões mesmo na parte inferior do guidance. O novo lucro estimado pela instituição é entre R$ 19 bilhões e R$ 21 bilhões no ano.
Em teleconferência, José Ricardo Forni, vice-presidente de gestão financeira do banco estatal, destacou ainda que o BB pretende acelerar os desembolsos de empréstimos em linhas de crédito mais arriscadas para aumentar a rentabilidade nos próximos trimestres.
Forni disse que a carteira de empréstimos do banco deve apresentar um crescimento de um dígito alto no próximo ano, impulsionado principalmente pelos segmentos de pessoa física e pequenas empresas. O índice de inadimplência dos empréstimos do BB ainda deve ficar abaixo da média do sistema financeiro, acrescentou.
O que esperar para as ações dos bancos?
Com queda das ações no acumulado do ano – de cerca de 19% para BBAS3 e de 10% para ITUB4, enquanto BBDC4 cai 13% e SANB11 tem baixa de cerca de 15% – a questão sobre se o setor está atrativo no atual cenário continua no radar. E as casas de análise possuem visões distintas sobre o setor, principalmente levando em conta o ambiente desafiador para a economia em 2022.
Os analistas do Credit apontam estarem otimistas com o setor em geral, reforçando preferência pelos bancos maiores dentro do universo do setor financeiro. O banco suíço possui recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os papéis das ações dos bancos privados. Os analistas da instituição, porém, possuem recomendação para o BB equivalente à neutra ressaltando que, apesar dos bons resultados, o cenário eleitoral do ano que vem pode impactar as ações.
Com uma visão diferente, a XP destaca a sua preferência pelo Banco do Brasil, com recomendação de compra para os ativos, destacando que a instituição estatal possui uma carteira mais defendida e mais bem preparada para cenários mais difíceis.
Na sequência entre as preferências da XP para o setor, estão os ativos do Bradesco, mas a recomendação dos analistas é neutra para os papéis: “enxergamos o Bradesco como defendido em um cenário macroeconômico mais desafiador à frente, embora acreditemos que o pico da inadimplência ainda esteja por vir”, apontam.
Também com recomendação neutra para os ativos do Itaú, os analistas da XP destacaram que a piora da qualidade nos últimos resultados deve estar no radar dos investidores, com a inadimplência futura potencialmente mais elevada podendo pressionar as margens e o lucro. Já a ação “menos preferida” entre os grandes bancos é a do Santander Brasil, com recomendação de venda: além da inadimplência maior, as linhas de crédito mais arriscadas são um fator a mais de cautela.
O Itaú BBA e o Bradesco BBI, por sua vez, têm ambos recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado) para o Santander, com preços-alvos respectivos de R$ 41 e R$ 48 para a unit da instituição.
Por outro lado, o BBA tem recomendação equivalente à compra para os ativos do Banco do Brasil, enquanto a recomendação do BBI para o banco estatal é neutra. “BBAS3 é nossa preferência entre os bancos tradicionais sob nossa cobertura. A escolha é motivada pelos lucros sólidos e valuation substancialmente descontado em relação aos pares”, aponta o BBA, enquanto o Bradesco BBI destaca o valuation atrativo da instituição, mas vê falta de catalisadores no curto prazo para o papel BBAS3.
Abaixo, segue quadro com as recomendações dos analistas para o setor, segundo compilação da Refinitiv. Bradesco e Itaú ainda dividem a preferência entre os grandes bancos, com leve vantagem para os ativos BBDC4, enquanto os analistas ainda se dividem entre a cautela e o otimismo com os ativos BBAS3. Já para SANB11, a recomendação majoritária é neutra.
Fonte: Infomoney