Intensificado pela pandemia, o fechamento de agências bancárias tem mobilizado prefeituras, sobretudo de pequenos municípios, preocupadas com os efeitos sociais do encerramento das atividades. Entre as possíveis consequências do fechamento das agências, os gestores municipais citam prejuízos a aposentados e servidores públicos, além do desaquecimento da economia local.
Recentemente, o maior temor é em relação ao Banco do Brasil, instituição financeira com maior capilaridade no interior. Em janeiro, o banco anunciou um plano de fechamento de 361 agências em todo o país. A União dos Municípios da Bahia (UPB) tem acionado deputados e senadores para tentar evitar a desinstalação de 26 agências no estado. O esforço da entidade faz parte de um movimento nacional, liderado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM).
Em Itagi, a agência do BB só conta atualmente com um funcionário, mas todas as operações principais já foram transferidas para uma unidade física em Jequié, cidade localizada a 50 km, informa o prefeito Olival Andrade. O gestor ameaça transferir a folha de pagamento da prefeitura para outro banco caso não seja revisto fechamento da agência. Acompanhado do deputado federal Arthur Maia, ele já foi duas vezes na presidência do Banco do Brasil, em Brasília. “Como é que eles não priorizam uma agência que dá lucro, com sede própria? Se dá lucro, tem que pensar na parte social”, defende.
Já em Lajedo do Tabocal, a agência está funcionando de forma precária, mas com data de fechamento prevista para 17 de maio, segundo o prefeito Marquinhos Sena. “É a única agência de banco no município, onde temos a folha salarial dos servidores da prefeitura, onde a grande maioria dos aposentados recebe seus vencimentos, o comércio saca e faz seus depósitos. Nossa cidade tem 9 mil habitantes, e tem a cultura de ir à feira no sábado depois do saque. Com o fechamento dessa agência, o comércio tende a cair ainda mais”, afirma. O maior temor, acrescenta o prefeito, é de que a maioria dos habitantes comece a realizar os seus gastos no município onde passará a sacar dinheiro.
O prefeito de Lagoa Real, Pedro Cardoso, relata que, além da agência do BB, a cidade só conta com um posto de atendimento do Bradesco, insuficiente para grande parte dos serviços. “São aposentados, pessoal da agricultura que toma empréstimo, funcionários da prefeitura, comércio. A agência mais próxima fica a 60 km, em Caetité”, afirma. Para tentar evitar o fechamento da agência – atualmente em reparo depois de um assalto – Cardoso já chegou a enviar um ofício para a Presidência da República. Ele diz confiar na possibilidade de novas diretrizes no banco sob o comando de Fausto Ribeiro. André Brandão deixou a presidência do Banco do Brasil em março – o plano de fechar agências e o programa de demissão anunciados por Brandão no começo do ano teriam desagradado o presidente Jair Bolsonaro.
Procurado, o BB informou que “entrou em período de silêncio, por conta da divulgação do balanço trimestral no início de maio e não comenta o assunto”. Segundo a instituição, as mudanças anunciadas em janeiro “envolvem adaptações na rede de atendimento em 361 municípios, com o encerramento das suas unidades em alguns municípios do país”. “O BB ressalta que manterá sua presença em todos eles, seja com outras unidades próprias já existentes, em 221 municípios, seja com correspondentes bancários ‘Mais BB’, nos demais”, completou. O banco não forneceu informações regionalizadas.
Por meio de nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que “a decisão de abrir ou fechar um posto de atendimento é tomada pelos bancos individualmente com base na respectiva estratégia de negócio”.
No dia 15 de abril, a CNM e entidades municipalistas participaram de uma reunião virtual com o Banco do Brasil. Representante da UPB na ocasião, o advogado Isaac Newton alega que, sem posto bancário, se frustra a natureza ou a condição de cidade. “A gente está orientando os prefeitos a fazer um documento que mostre a importância da agência, e a UPB está fazendo uma luta imensa com as lideranças políticas do estado”, diz o consultor jurídico.
O presidente da UPB, Zé Cocá, afirma que solicitou um levantamento do custo-benefício das agências “para provar que elas não dão prejuízo”. “No interior muita gente ainda faz muitos saques. É preciso primeiro quebrar essa cultura. O ideal é reduzir a circulação de dinheiro em espécie, mas isso não vai acabar hoje ou amanhã. É importante ter uma transição”, argumenta.
Bancos
Em busca de diminuir custos e pressionadas pela concorrência dos bancos digitais, as instituições financeiras tradicionais tem ampliado o fechamento de agências, em meio ao avanço na digitalização durante a pandemia.
O Bradesco fechou em todo o país 1.083 agências entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020 – dessas, 400 deixaram de funcionar entre setembro e dezembro do ano passado. No mesmo intervalo de um ano, o Itaú Unibanco fechou 167 agências físicas e postos de atendimento. Ambos os bancos informaram que não divulgam recortes regionais. A Caixa Econômica Federal não se manifestou. A Febraban também disse não possuir dados regionais. “De acordo com a última edição da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária, o número de agências em operação no Brasil tem se mantido estável ao longo dos últimos anos. Na comparação entre 2018 e 2019, último dado disponível, houve crescimento no total de postos de atendimento: de 37,8 milhões para 38,2 milhões”, afirmou a entidade.
“Temos verificado nos últimos anos uma redução muito grande do número de trabalhadores bancários e também o fechamento de centenas de agências. Uma boa parte desse movimento tem sido por conta do desmonte dos bancos públicos e a outra pela ganância dos bancos, especialmente os privados, que tem buscado potencializar seus lucros reduzindo seus custos fixos com a manutenção de agências, o que é inaceitável para o setor mais lucrativo da economia nacional”, critica o vereador Augusto Vasconcelos, presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia.
Sobre o fechamento das agências do Banco do Brasil na Bahia, o dirigente sindical afirma que o processo causa “mais sobrecarga de trabalho, mais dificuldades para o atendimento à população e também prejuízos para a economia”. “As cidades que têm agências fechadas ou os bairros onde essas unidades têm o funcionamento encerrado sofrem muito. O comércio é prejudicado, a circulação de riqueza, há diminuição da oferta de crédito. Tudo isso traz grandes impactos para toda a sociedade”, aponta.
Fonte: A Tarde