Marcelo Vieira Martins*
Neste momento, duas forças atuando em sentidos opostos movimentam as placas tectônicas no sistema financeiro do país. Enquanto grandes bancos fecham agências, as cooperativas de crédito abrem novos pontos de atendimento.
Com a acelerada digitalização dos serviços, os maiores bancos têm enxugado a estrutura. Em 12 meses, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Santander encerraram 1.007 agências físicas.
É que ocorreu entre março do ano passado e o mesmo mês deste ano, segundo os balanços dos próprios bancos divulgados no primeiro trimestre. A repercussão deste movimento, é claro, cai nos clientes.
Em São Paulo, o Procon registrou 69 reclamações de filas nas agências nos primeiros cinco meses do ano, contra 24 reclamações ao longo de todo o ano de 2020.
Segundo relatos, uma fila pode demorar até 3 horas. Não existe no país um tempo limite padrão, mas a maioria das cidades dispõe de leis que determinam um máximo de 15 a 30 minutos. Outras vezes clientes que estão na fila são orientados pelos funcionários dos bancos a resolver os problemas através do aplicativo.
Em movimento contrário, as cooperativas de crédito pretendem abrir 1,3 mil agências este ano, conforme levantamento divulgado no final do ano passado pelo Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito.
Municípios das regiões Norte e Nordeste são o principal foco geográfico desse movimento de expansão. A estimativa é que sejam gerados 13 mil postos de trabalho em todo o país.
Fechar agências pode aumentar a rentabilidade momentânea de uma instituição financeira, mas nem sempre é a solução definitiva para o atendimento.
A proximidade física com o cliente é um fator estratégico para a construção de relacionamentos de longa duração. Ainda mais nas cooperativas, onde o cooperado é também o dono do negócio.
Imagine que você é um pequeno empresário e recorre a um empréstimo para expandir a sua operação. Comprar um equipamento para aumentar a produção, por exemplo. Você tem a opção de realizar toda a transação de modo virtual com agilidade e autonomia. Em poucos minutos o valor está na conta.
Sempre defendi essa vantagem da tecnologia, inclusive é o tema do meu primeiro livro chamado Feito à Mão – As pessoas no centro das transformações, onde narro a experiência da primeira agência virtual do cooperativismo de crédito brasileiro.
Mas nem sempre a vida nos apresenta questões assim tão objetivas. É possível que você, como o hipotético empreendedor do nosso case, tenha outras dúvidas para compartilhar.
Queira, por exemplo, conhecer um pouco melhor as alternativas que a sua instituição financeira oferece. Ou necessite de uma consultoria financeira mais aprofundada, mergulhando em questões do dia a dia como o seu fluxo de caixa.
É aí que entra um conceito valioso e complementar à tecnologia, jamais concorrente: a agência física é o território da experiência. É onde se aprofundam os relacionamentos dentro de um espaço de diálogo e parceria. E conhecer bem o cliente é ouro em qualquer atividade.
Além disso, em um país tão carente de estrutura bancária como o Brasil, a agência física é uma importante referência para gerar negócios e oportunidades. Não raro a cooperativa de crédito é a única instituição financeira de um município.
Se você percorrer as pequenas cidades do Brasil vai constatar isso. As cooperativas exercem assim o interesse pela comunidade, um princípio que norteia o cooperativismo desde a sua criação há quase 200 anos.
Como observador dos atuais movimentos no mercado financeiro do país, acredito que o cooperativismo de crédito fará parte da vida de todos nós cada vez mais. Porque consegue entender o sentimento das pessoas e traduzi-los em gestos concretos, como estar próximo.
*É CEO da Unicred União e autor dos livros “Coopbook – Cooperativismo de A a Z” e “Feito à Mão – As pessoas no centro das transformações”.