Após conseguir fundo de R$ 230 bilhões, Centrão quer vagas da diretoria do BB

Publicado em: 28/05/2021

Três anos após assumir o comando do maior fundo de pensão do país, José Maurício Pereira Coelho anunciou na terça-feira sua renúncia à presidência da Previ, como antecipou o colunista do GLOBO Lauro Jardim. O executivo deixará o posto a partir de 14 de junho .

A mudança na cúpula da fundação é resultado de uma ação dupla. Ela reflete a pressão cada vez maior do Centrão por cargos, o que deflagrou no governo uma operação para abrir vagas para acomodar indicações políticas em instituições como Banco do Brasil (BB) e Caixa e nos conselhos das empresas nas quais esses bancos e fundações têm assento.

Além disso, é um retrato da interferência do presidente Jair Bolsonaro , que teria determinado uma “ limpeza ” para excluir nomes que tivessem qualquer vínculo com governos anteriores.

O Planalto já teria solicitado, inclusive, segundo fontes, uma lista dos indicados para vagas em conselhos onde estatais e fundos ocupam um dos assentos.
Estatuto é trava para indicações

No caso da Previ, a estratégia do Centrão é ganhar cargos com uma espécie de dança das cadeiras que teria início após a saída de José Maurício, o que abriria vagas no BB. A ideia seria deslocar um vice-presidente do BB para a Previ e preencher a vaga com uma indicação política, segundo fontes a par da discussão.

Desde a nomeação de Fausto Ribeiro para a presidência do banco, no fim de março, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) passou a ser apontado por fontes políticas e por servidores de carreira da instituição como um dos políticos mais influentes no Banco do Brasil. Flávio é citado nos bastidores como um político próximo a Ribeiro e ao novo vice-presidente de agronegócios, Renato Naegele, embora este negue a interlocutores que conheça o filho do presidente.

Fonte: Valor Investe e Portal IG

 

Centrão cobiça duas vice-presidências do Banco do Brasil

Publicado em: 09/04/2021

O centrão marcha sobre o organograma do governo Bolsonaro com rara desenvoltura. Não para de crescer e absorver. Já não se contenta com tudo. Quer mais um pouco. Na semana em que colocou os pés no Planalto, o centrão intensificou a pressão para obter o controle de duas das sete vice-presidências do Banco do Brasil. A prioridade do grupo é a vice-presidência que cuida do agronegócio.

O olho do centrão engordou depois que Fausto Ribeiro foi nomeado por Bolsonaro nesta semana para substituir André Brandão, que renunciou à presidência do Banco do Brasil em março. Brandão saiu pela porta de incêndio porque Bolsonaro o impediu de implantar um programa de demissão voluntária e fechamento de agências para reduzir custos. A reestruturação saiu dos trilhos por pressão dos aliados do governo no Congresso.

Na última quinta-feira, dia em que a nomeação de Fausto Ribeiro foi formalizada por Bolsonaro, o presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil, Hélio Magalhães, e um conselheiro, José Guimarães, renunciaram aos cargos. Outros dois conselheiros estão aborrecidos com a novidade: Luiz Serafim Spinola Santos e Paulo Roberto Evangelista.

A saída de André Brandão foi vista como uma derrota para o ministro Paulo Guedes (Economia). Egresso do banco HSBC, ele realizava uma gestão técnica no Banco do Brasil. Extinguiu duas vice-presidências. Nas sete que manteve, acomodou funcionários de carreira, sem vínculos políticos. Sua saída funcionou como uma senha para a fase do liberou geral. Daí o assanhamento do centrão.

O que leva deputados e senadores a reivindicarem o controle de poltronas no Banco do Brasil? Você pode acreditar que é por patriotismo. Mas será assaltado (ops!) por uma dúvida se ouvir um trecho do depoimento de Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Lava Jato.

Funcionário de carreira da Petrobras, o engenheiro Paulo Roberto tinha currículo e experiência para tornar-se diretor de Abastecimento da companhia. Mas os requisitos técnicos pesaram menos do que o apadrinhamento político. O então presidente Lula permitiu que o PP, partido do atual chefe da Câmara Arthur Lira, se apoderasse da alma de Paulo Roberto.

Em sua delação, Paulinho, como Lula o chamava, resumiu a metamorfose que o transformou de funcionário exemplar em corrupto confesso: “Eu trabalhei na Petrobras por 35 anos. Vinte e sete anos do meu trabalho foram trabalhos técnicos, gerenciais. E eu não tive nenhuma mácula nesses 27 anos.”

Paulinho prosseguiu: “Se houve erro —e houve, não é?— foi a partir da minha entrada na diretoria por envolvimento com grupos políticos, que usam a oração de São Francisco, que é dando que se recebe. Eles dizem muito isso. Então, esse envolvimento político, […] que tinha em todas as diretorias da Petrobras, é uma mácula dentro da companhia.”
Quer dizer: os apadrinhados dos partidos políticos devem obediência aos seus padrinhos, não aos contribuintes que lhes pagam o salário. Eleito com a falsa promessa de banir da administração pública os métodos do centrão, Bolsonaro, com os pés de barro expostos no caso da rachadinha, confraterniza com os maus costumes.

Os partidos do centrão e assemelhados já controlam três ministérios: Cidadania (João Roma), Comunicações (Fábio Faria) e, desde quarta-feira, a pasta responsável pela coordenação política do Planalto (Flávia Arruda). No segundo escalão, o grupo beliscou órgãos do porte do FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) —um cofre de R$ 50 bilhões anuais.

O centrão controla também o Dnocs, Departamento Nacional de Obras contra a Seca. Beliscou ainda a presidência do Banco do Nordeste. Agora, força a porta de acesso a duas vice-presidência do Banco do Brasil.

Nesse ritmo, logo ficará verde o “sinal amarelo” que o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse ter acendido no discurso em que ameaçou Bolsonaro com o impeachment. O lero-lero segundo o qual o Congresso dispõe de remédios “amargos” e “fatais” para lidar com presidentes ineptos é coisa de quem está irritado. E o centrão não costuma ficar com raiva. Fica com tudo.

Fonte: Uol