Enquanto a taxa de roubos totais no Brasil, por 100 mil habitantes, recuou 3,9% no ano passado, na comparação com 2020, a taxa de roubo a instituições financeiras – a cada 100 e incluindo roubo a banco, caixa eletrônico e carro forte – cresceu 11%. O roubo a estabelecimentos comerciais e de carga aumentaram, respectivamente, 6,5% e 2,4%. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
“O ano de 2021 foi marcado pela retomada das atividades, principalmente a partir do avanço da vacinação, e o que as estatísticas nos indicam é que também houve retomada de parte considerável das ocorrências de crimes contra o patrimônio”, escrevem os pesquisadores David Marques e Amanda Lagreca, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O tema dos roubos a instituições financeiras tem chamado a atenção, com destaque para as ocorrências do “novo cangaço”. “Embora menos frequentes, esses casos geralmente alcançam repercussão nacional por sua magnitude, com grandes grupos de assaltantes com armas de grosso calibre, utilização de reféns como escudo humano, incêndio de veículos e sua utilização para bloquear vias urbanas ou rodovias, dominação das forças policiais de cidades menores, geralmente do interior dos Estados alvo”, explicam os pesquisadores, relembrando casos de 2021 em Ourinhos, Araçatuba e Botucatu, no interior de São Paulo, Varginha, em Minas Gerais e Nova Bandeirantes, no Mato Grosso.
Muitos crimes patrimoniais, principalmente no âmbito financeiro, no entanto, têm migrado para o ambiente digital. “A digitalização das finanças, de serviços e do comércio, especialmente impulsionada durante o período pandêmico, contribui com a formação de um ambiente propício ao desenvolvimento de modalidades criminais que exploram vulnerabilidades nesses segmentos”, dizem Marques e Lagreca, citando como exemplo o PIX.
“Esse processo tem associado as modalidades de roubos e furtos de celulares aos crimes de estelionato e, mais especificamente do estelionato digital, nos quais a vítima é induzida a realizar transferências, ou ainda, quando da subtração do celular com acesso a aplicativos bancários, tem quantias retiradas de sua conta bancária, ou tem compras ou empréstimos financeiros realizados em seu nome”, acrescentam os pesquisadores.
Pela primeira vez, o Anuário trouxe esses tipos de crimes patrimoniais. Entre 2020 e 2021, a taxa de roubos e furtos de celulares por 100 mil habitantes avançou 1,8%. No ano passado, foram 847,3 mil registros, o que equivale a ao menos um (1,6) celular roubado ou furtado por minuto no Brasil. “É preciso considerar 2021 como um ano proporcionalmente menos afetado pelas medidas sanitárias de restrição de circulação de pessoas por conta da covid-19”, dizem os pesquisadores.
Entre 2018 e 2021, 3,7 milhões de celulares foram roubados ou furtados no país, o que ainda representa uma queda de 22,8% da taxa no período.
Já os registros de estelionato chegaram a 1,3 milhão em 2021, o que corresponde a um significativo aumento de 179,9% na taxa, por 100 mil habitantes, em relação a 2018. Entre 2020 e 2021, a alta foi de 36,3%.
O crime de estelionato em meio eletrônico foi tipificado apenas em maio de 2021, mas alguns Estados já conseguem realizar a mensuração. “Embora com limitações, como o fato de que nove Estados não terem informado os dados, neste primeiro levantamento foi possível identificar que, em 2021, foram registrados 60.590 casos de estelionato por fraude eletrônica”, dizem os pesquisadores.
Em outra modalidade de crimes patrimoniais, houve aumento de 4,7% na taxa de roubo a residências. O roubo a transeuntes, por outro lado, caiu 7,5% – bem menos, porém, do que no período anterior (2019-2020), o primeiro ano da pandemia, quando a queda foi de 36,2%.
Para os pesquisadores, a queda de roubos a transeuntes e o crescimento de roubos e furtos de celulares estão, muito possivelmente, associados a essas mudanças significativas nas dinâmicas dos crimes contra o patrimônio, em direção a sua digitalização, e indicam que os dados de roubos e furtos de celulares podem retratar melhor os crimes cometidos em vias públicas e a sensação de segurança nos ambientes urbanos nesse novo contexto.
Veículos
No caso de roubos e furtos de veículos, se entre 2019 e 2020 houve queda 26% na taxa por 100 mil habitantes, entre 2020 e 2021 o que se observou foi relativa estabilidade, com variação de 0,1%, chegando a um total de 334.643 veículos subtraídos no ano passado. “Embora haja a manutenção do patamar destes registros entre 2020 e 2021, ainda temos 916 veículos roubados ou furtados por dia no Brasil no último ano”, observam Marques e Lagreca.
Além disso, dizem, o cenário nacional camufla algumas variações regionais importantes. Entre 2020 e 2021, houve aumento na taxa de roubos e furtos de veículos em oito unidades da federação, sendo a maior no Maranhão (59,7%). Em sentido oposto, houve uma queda relevante de 22,4% nas taxas de Tocantins, 22% no Rio Grande do Sul e 21,7% no Rio Grande do Norte.
Entre os Estados que apresentaram crescimento nos indicadores, destacam-se alguns fronteiriços, como Acre (33,8%), Mato Grosso (17,5%) e Amapá (16,7%).
“Representantes das polícias civis do Acre e de Rondônia apontam uma intensificação nesta modalidade criminal, que teria a Bolívia enquanto destino dos veículos subtraídos, principalmente caminhonetes, que seriam trocados por cocaína ou armas do outro lado da fronteira”, escrevem Marques e Lagreca.
Também há má notícia para São Paulo, que apresentou declínio importante em sua taxa a partir de 2014, tendo como principal marco a chamada “lei dos desmanches”, mas que, entre 2020 e 2021, observou aumento de 13% na taxa, por 100 mil veículos, de roubo e furto.
Conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.