A temporada de balanços para os bancões da Bolsa brasileira começa na próxima quarta-feira (24), antes da abertura do mercado, com os números do Santander Brasil (SANB11).
De um modo geral, não houve grandes mudanças na visão de quais bancos devem se sair melhor, com destaque para o Itaú (ITUB4), enquanto o Bradesco (BBDC4) deve voltar a ser o desvio negativo entre os bancões. Por outro lado, Santander pode apresentar gradual melhora enquanto o BB, apesar de apresentar números ainda bastante sólidos, pode registrar alguns pontos de atenção na visão de alguns investidores.
O Goldman Sachs espera que as tendências de melhor rentabilidade continuem para o Itaú e Banco do Brasil (BBAS3), enquanto o Bradesco e o Santander ainda estão “atrasados”, sendo que o banco americano está mais cauteloso com o Santander Brasil do que o consenso.
Do ponto de vista macroeconômico, o JPMorgan vê o crescimento dos empréstimos acelerando gradualmente mês a mês no Brasil, levando a Febraban a revisar sua estimativa para o ano de 2024 para 10% na base anual, com crescimento mais forte do crédito pessoal em comparação com empresas.
Sobre a qualidade dos ativos, o banco pontua que, após alguns meses de melhorias, as taxas de inadimplências (NPLs) parecem ter se estabilizado, pois as famílias permanecem endividadas e as inadimplências das Pequenas e médias empresas (PMEs) ainda estão aumentando. Ainda assim, os investidores parecem mais focados no crescimento e na recomposição das margens, que devem ser monitorados de perto pelo mercado também nas teles.
Santander – 24 de julho – antes da abertura
O JPMorgan espera que o Santander registre lucros de R$ 3,3 bilhões com NII (margens financeiras) de mercado fraco e NII de cliente atrasado em relação ao crescimento dos empréstimos. O banco espera que o Santander se beneficie, por outro lado, da recuperação dos empréstimos para automóveis.
O Goldman tem projeção de expansão modesta dos lucros antes de impostos, que será compensada por uma taxa de imposto mais elevada. “Esperamos que o Santander Brasil registre R$ 3,1 bilhões em lucros recorrentes (+2% no trimestre, +34% no comparativo anual), com ROE [Retorno sobre o Patrimônio Líquido] aumentando 25 pontos-base no trimestre, para 14,2%. No entanto, antes dos impostos, os lucros devem crescer 13% no trimestre, uma vez que uma normalização gradual na taxa efetiva de imposto (20,0% de 13,7% no 1T24) deve impactar negativamente os resultados financeiros”, avalia.
A expectativa é de uma margem financeira sequencialmente melhor, enquanto as despesas operacionais permanecem relativamente sob controle, embora “outras” despesas possam continuar pressionadas por comissões e provisões operacionais.
O Bradesco BBI, por sua vez, prevê tendências negativas, principalmente na margem financeira. “Acreditamos que o Santander reportará margem estável no trimestre em relação ao 1T24, refletindo comparações difíceis no primeiro trimestre, enquanto os resultados de Tesouraria deverão ter um impacto negativo na margem com o mercado. Além disso, não esperamos ver grandes alterações nas despesas de provisão do banco, uma vez que o índice de empréstimos inadimplentes deverá permanecer estável em 3,2%”, avalia.
Enquanto isso, avalia o BBI, as receitas de tarifas e as despesas operacionais deverão continuar crescendo a um bom ritmo. É importante ressaltar que acredita que a melhora gradual nos resultados deve ocorrer apenas no 2S24 e ao longo de 2025, enquanto os resultados do 2T24 podem decepcionar os investidores. Por exemplo, a estimativa do BBI de lucro líquido de R$ 3,0 bilhões fica 8,2% abaixo da estimativa de consenso da Bloomberg.
Já a Genial Investimentos está um pouco mais otimista. Os analistas ressaltam que, após um desempenho superior às suas expectativas e ao consenso do mercado no 1T24, com um ROE de 14%, o 2T24 continuará a mostrar sinais de recuperação de rentabilidade. “No entanto, acreditamos que essa recuperação ocorrerá de forma mais gradual, sem grandes surpresas. Para o 2T24, projeta um lucro líquido recorrente de R$ 3,24 bilhões, representando um aumento de 7,5% na base trimestral e 40,6% ano a ano”, afirma.
A casa espera uma leve expansão trimestral no ROE de +0,85 ponto percentual (pp) trimestre a trimestre e +3,67 pp na base anual para 14,6% — embora em processo de melhora, o desempenho ainda está abaixo dos níveis históricos do banco. A projeção LSEG é de um lucro de R$ 3,1 bilhões no segundo trimestre.
Bradesco – 5 de agosto – antes da abertura
O Goldman Sachs espera uma melhoria muito gradual da rentabilidade para o Bradesco. A expectativa é de uma melhoria sequencial modesta no total do NII e nas taxas de serviços, o que pode exigir uma aceleração no 2S24 para cumprir o guidance. A projeção é de um crescimento da carteira de empréstimos de 2% no trimestre, levando a um aumento de 5% no trimestre no total do NII, mas ainda uma queda de 4% no comparativo anual, com margem financeira estável.
“Acreditamos também que a normalização da margem financeira do mercado poderia ser mais modesta com um cenário de taxas estáveis/mais altas. As provisões também podem aumentar sequencialmente devido à maior originação em linhas de maior risco, como as PME (pequenas e médias empresas)”, afirma a equipe de análises. As despesas operacionais deverão aumentar modestamente no trimestre, mas permanecerão sob controle. Positivamente, os seguros devem ter melhora de 24% no trimestre devido a melhores resultados financeiros, conduzindo os números do 1S24 dentro da faixa de orientação. A projeção é de um ROE melhorando apenas para 10,6%, de 10,5% no 1T24.
O JPMorgan prevê lucros de R$ 4,3 bilhões (ROE de 10,7%) para o Bradesco e acredita que o foco estará na trajetória do NII e NIM (margem de lucro líquida) dos clientes (grande decepção do 1T24), bem como atualizações sobre seu plano estratégico, notadamente iniciativas de custo.
O Santander espera que o Bradesco reporte lucro líquido recorrente de R$ 4,286 bilhões no 2T24 (ROE de 10,7%), queda anual de 5%, mas melhorando 2% na base trimestral.
“O crescimento do crédito deverá acelerar, na nossa opinião, beneficiando a receita do banco. Por outro lado, a margem financeira do mercado poderá prejudicar a melhoria do crédito, dadas as expectativas de taxas de juro mais elevadas. Esperamos também melhoria na qualidade dos ativos no segmento pessoa física, mas com aumento das provisões devido ao crescimento da carteira de crédito”, avalia o Santander. A expectativa é de que uma recuperação dos lucros do Bradesco é um longo caminho e projeta que os resultados do 2T sejam piores do que as expectativas consensuais. Mesmo assim, ainda vê o ponto médio do guidance como alcançável em 2024.
Itaú – 6 de agosto – depois do fechamento
O JPMorgan aponta que o Itaú deve registrar mais um trimestre sólido com 22% de rentabilidade e continua sendo sua principal escolha no Brasil, dada sua consistência de resultados, forte posição de capital e atrativo Preço/Lucro de 7,0 vezes com rendimentos de 8% a 10%. Segundo as estimativas do banco, o lucro deve atingir R$ 9,9 bilhões, alta anual de 13% na base anual.
Na mesma linha, o Goldman espera que o impulso de lucros sólidos deve persistir. A projeção é de R$ 10,0 bilhões (+3% no trimestre, +15% no comparativo anual) em lucros recorrentes no 2T24, embora ainda espere um crescimento dos empréstimos um tanto moderado, dada a redução de risco da carteira.
“Ainda assim, acreditamos que o Itaú poderá convergir para o guidance da carteira de empréstimos até o final do ano (6,5-9,5%). O NII de clientes e de mercado pode seguir tendências semelhantes ao 1T24, levando a NIMs estáveis”, aponta o banco. Assim, o ROE deve chegar a 22,4% (ante 21,9% no 1T24 e 20,9% no 2T23).
A Genial espera que o Itaú se destaque novamente com o melhor desempenho entre os bancos incumbentes do setor. “Estimamos um lucro líquido recorrente de R$ 10,1 bilhões para o 2T24, um aumento de 3,3% na base trimestral e 15,4% anualmente. Projetamos uma rentabilidade robusta (ROE) de 22,5%, um crescimento de 0,6 pp trimestre a trimestre e 1,6 pp na base anual, superando significativamente outros bancos privados como Santander e Bradesco”, avalia a casa de análise.
Para o trimestre, acredita que o lucro deve ser impulsionado pela evolução contínua da receita líquida de juros (ou NII), além de uma melhora no custo de crédito decorrente da estabilização da inadimplência e da expansão mais controlada das despesas administrativas. A projeção LSEG para o lucro é de R$ 10 bilhões.
Banco do Brasil – 7 de agosto – depois do fechamento
Para o Banco do Brasil (BBAS3), o JPMorgan espera lucro de R$ 8,5 bilhões (ROE de 21%) e os principais tópicos devem girar em torno da contribuição da Patagonia para o NII (R$ 1 bilhão no 1T24). Inadimplência de empresas e agronegócio deve seguir em alta, o que pode impactar provisões.
O Santander estima que o Banco do Brasil tenha R$ 9,369 bilhões de lucro líquido ajustado no 2T24, +1% na base trimestral e +7% frente o 2T23, com um ROAE de 20%. “Prevemos sólida expansão de receitas, com forte contribuição da Patagônia. No que diz respeito às taxas de serviços, esperamos que as fracas receitas da conta corrente sejam compensadas por outras linhas de taxas. A inadimplência deverá apresentar uma ligeira deterioração em segmentos específicos, a nosso ver, mas nada alarmante. Dito isto, espera-se que as provisões permaneçam num nível elevado. Por fim, prevemos que as despesas se alinhem com o guidance, apesar de um repique esperado nas despesas administrativas”, aponta o banco.
A equipe de análise do Santander aponta estar mais preocupada com a visão dos investidores sobre o 2T do BB, visto que a combinação de: (i) novos resultados fortes da Patagônia; (ii) deterioração da inadimplência no segmento rural; (iii) provisões elevadas; e (iv) um salto nas despesas administrativas pode levar os investidores a acreditarem que o 2T foi um trimestre de baixa qualidade, fazendo com que as ações apresentem desempenho ruim, similar ao que aconteceu após a divulgação dos resultados do 4T23 e 1T24. “Mesmo assim, ainda acreditamos que o BB pode alcançar um crescimento saudável com um valuation (muito) interessante”, avalia. A projeção é de um crescimento da carteira de crédito de 11% na base anual, com importante contribuição vinda do segmento de varejo.
O Goldman projeta lucro recorrente de R$ 9,2 bilhões no 2T24 (-1% no trimestre e +5% no ano), o que implica um ROE de 20,9% e avalia que a NII deverá persistir num nível forte (+14% face ao período do 2T23 versus o guidance de 7-11%), em parte ainda beneficiado pelo Patagônia. Por outro lado, as provisões devem se normalizar parcialmente a partir de uma base de comparação elevada no 1T24, quando as provisões aumentaram 46% na comparação anual. O consenso LSEG projeta um lucro de R$ 9,25 bilhões para o período entre abril e junho.