Com objetivo de conter o déficit causado pela baixa de preços no setor de cafeicultura, o Banco do Brasil (BB) criou uma linha emergencial de crédito a fim de prolongar em até 12 anos prazos para pagamento de dívidas de produtores. A área sofre com queda na produção desde o ano passado, mas a situação se agravou nos primeiros meses de 2019.
A medida foi lançada nesta segunda-feira (22) em Belo Horizonte, durante evento que reuniu representantes do agronegócio mineiro, agentes do Legislativo estadual e federal e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
Produtores presentes na apresentação do projeto afirmam que a perda de faturamento no período chega a 80%. A principal causa é a disparidade entre o preço de produção do café, que gira em torno de R$ 400 e R$ 500, e o valor de revenda da mercadoria, que varia entre R$ 250 e R$ 400.
O problema se arrasta há cerca de dois anos, mas se intensificou a partir de abril de 2019, quando o preço da mercadoria começou a cair mais rapidamente, segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa).
Com isso, Zema foi para Brasília no início do mês pedir apoio ao Ministério da Agricultura e à direção nacional do BB. O BB oferece duas novas alternativas para que produtores renegociem dívidas de contratos de financiamento firmados com a entidade.
A primeira consiste no alongamento dos débitos por cinco anos, com parcelas que podem ser mensais, anuais ou trimestrais, a serem cobradas a partir de 2020. Nesta opção, os empresários ainda podem fazer outros financiamentos com o banco e as taxas de juro são iguais àquelas acordadas anteriormente.
A segunda, mais drástica, visa auxiliar produtores que não têm capacidade de honrar suas dívidas e estende o pagamento em até 12 anos. Nessa categoria, empresário fica impossibilitado de buscar mais crédito com o banco até que 50% da quantia devida seja quitada e há juro adicional de 0,8% ao mês.
Nas duas opções oferecidas pelo BB não é necessário que o produtor apresente um laudo técnico de sua cafeicultura, nem comprove que pode pagar. A única documentação pedida pela operadora de crédito é um termo assinado pelo cliente requisitando o prolongamento da dívida.
Já em vigor, a linha de crédito tem teto de R$ 3 milhões para grandes produtores e R$ 1,5 milhão para pequenos. A medida está disponível a todas as 264 mil cafeiculturas brasileiras, das quais 123 mil são em Minas. O Estado representa 46,6% da produção nacional.
O diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, Marco Túlio da Costa, explica que as alternativas oferecidas foram pensadas para que a cafeicultura continue em atividade. “O crédito é muito importante para o produtor rural e essa solução foi feita especialmente para o de café. A medida vai abranger mais de 80% desses empresários em todo o Brasil”, diz.
“Nossa cafeicultura tem enfrentado grandes dificuldades, quebra na safra e na qualidade do café, e preços muito baixos. Os produtores têm muita dificuldade de honrar seus compromissos junto aos bancos”, afirma Ana Maria Soares Valentine, Secretária de Agricultura, Pecuária e Agricultura do Estado de Minas Gerais. Presente, o governador Romeu Zema não falou com a imprensa.
Esperança
As linhas de crédito apresentadas ontem pelo Banco do Brasil para o setor de cafeicultura brasileiro animam produtores. Breno mesquita, vice presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e presidente da comissão nacional de café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), acredita que a linha de crédito não é uma solução definitiva, mas deve ajudar produtores. “Esperamos que seja uma abertura para outros agentes financeiros oferecerem alternativas do tipo”, afirma.
Admar Rodrigue Soares, cafeicultor na cidade Manhumirim, na Zona da Mata, e presidente da Câmara do Café do Leste de Minas, afirma que a classe espera estabilidade e segurança com a nova linha de crédito. “Quem depende da renda do café está em crise”, diz.
João Valério Cardoso, produtor rural do município de Alto Jequitibá, região da Zona da Mata, afirma que o café move a região e toda a cidade sofreu com a baixa de preços. “Cada dia estamos em situação mais delicada e, em 2019, tivemos vários problemas. Eu produzia 3 mil sacas por ano e agora colho 900. A perda é assustadora”, conta.