Passadas as eleições e diante da expectativa de que a recuperação econômica entre em ritmo mais acelerado, os bancos privados se preparam para acelerar o crescimento da carteira de crédito, sobretudo no segmento de consumo.
— A expectativa é de crescimento da economia em 2019. Isso resultará em apetite maior para o risco e crescimento ainda maior da carteira — disse Octavio de Lazari, presidente do Bradesco, na apresentação de resultados.
O banco acumulava em setembro R$ 523,4 bilhões em empréstimos, alta de 7,5% em 12 meses. A instituição avalia que a expansão deva ficar entre 5% e 7% este ano e ganhar fôlego em 2019.
Entre os três maiores bancos privados do país, o Santander teve a maior expansão do crédito em 12 meses, de 13,1%. A expectativa é elevar a presença em segmentos pouco explorados, como o financiamento ao consumo. Para isso, aposta na linha “Mais Vezes”, de empréstimos no ato da compra, em parceria com o varejo.
— Queremos manter o crescimento rentável. Alguns segmentos não cobrimos direito, como o tradicional CDC (crédito direto ao consumidor) — admitiu Sergio Rial, presidente do Santander, ao comentar os resultados.
Cerca de 80% do financiamento ao consumo do banco se concentram no segmento de veículos, em que há garantia real. A ideia agora é expandir o financiamento ao consumo de fato, a exemplo de financeiras independentes do passado, como Fininvest e Losango, que foram absorvidas por grandes instituições.
— O cenário está pronto para essa expansão. Os bancos não serão tão cautelosos como nesse passado recente. E se os juros continuarem baixos, vai ter ainda mais espaço para esse crédito pulverizado para pessoas físicas e pequenas empresas — avaliou João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes & Filho.
Rentabilidade maior
Para Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco, a retomada da confiança do consumidor, com o início de um novo governo, deve favorecer a expansão das concessões de crédito. O estoque de empréstimos da instituição chegou ao fim de setembro a R$ 636,4 bilhões, alta de 10,6% em um ano.
— Vemos não só um aumento do apetite por crédito, mas uma melhora na qualidade. Isso será parte importante do nosso crescimento em 2019 — comentou na divulgação do balanço.
Após dois anos colocando o pé no freio para lidar com a recessão e com a alta da inadimplência, os bancos têm hoje dinheiro em caixa para crescer. A aposta nos segmentos de pessoas físicas e pequenas e média empresas se deve ao fato de eles apresentarem maiores spreads (a diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada do cliente).
Até agora, o crescimento era baseado em linhas para pessoas físicas consideradas mais seguras, como empréstimos consignado e imobiliário e financiamento de veículos. Explorar empréstimos ao consumo deve garantir rentabilidade maior, mas o risco tende a crescer proporcionalmente.
— Esse crédito sem colateral (garantia) é mais arriscado, mas o spread é maior — avaliou Eduardo Nishio, analista do banco Brasil Plural. — Os bancos desenvolveram formas de lidar com esse risco, como o uso de inteligência artificial, que torna a concessão de crédito mais assertiva.