O Plano Safra 2020/2021 entrou em vigor no dia 1º de julho de 2020. No acumulado até novembro último, o Banco do Brasil emprestou 16% mais do que no mesmo período da temporada passada, de acordo com o vice-presidente de Agronegócios da instituição, João Rabelo Júnior, com base em dados do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor).
“Uma característica interessante é que, no custeio, a gente desembolsou 15,5% a mais e no investimento, 40% a mais, por conta dos bons preços, da produtividade e da possibilidade de exportação que tivemos”, destaca.
Rabelo Júnior afirma que a pandemia da Covid-19 forçou o BB a se adaptar e descobrir novas formas de fazer planejamento e gestão. Tivemos que construir um Plano Safra em home office. Era uma capacidade que a gente nem sabia que tinha. Além disso, no fim da safra passada, tivemos um problema de seca sério no Sul do país e os instrumentos de regulação de sinistro funcionaram super bem. Nós conseguimos fazer praticamente toda a regulação de sinistro a distância por satélite”, diz.
Para avançar, o BB teve que aderir às tecnologias digitais, o que também facilitou para o produtor. “As CPRs digitais pegaram uma velocidade; estamos na carteira com mais de 4,5 bilhões de CPRs digitais, então isso pegou uma velocidade muito forte”, conta Rabelo.
O vice-presidente do Banco do Brasil afirma que a instituição mudou o foco do trabalho. Agora, no centro da discussão não está o produto, mas a necessidade do cliente. Este ano, o BB lançou uma plataforma batizada de Broto. “Começou mais como uma plataforma de venda de máquinas e equipamentos, mas a gente fez uma feira digital recentemente. Começamos com a parte de consultoria, vamos usar os dados que temos para oferecer as melhores soluções para os nossos clientes”, diz.
Em entrevista ao Canal Rural, João Rabelo Júnior falou sobre as perspectivas para o futuro do Banco do Brasil e do crédito rural. Confira na íntegra:
Canal Rural: Qual o futuro do crédito rural no Brasil?
João Rabelo Júnior: As mudanças no agro estão acontecendo como tem que ser: paulatinamente. Este ano, por exemplo, nós já fizemos o seguro também para áreas do Pronaf. Foi um grande sucesso! Foi um piloto que o Ministério da Agricultura nos chamou para fazer. Nós conseguimos e funcionou. Mostra que é também um caminho a ser seguido.
Esse é um ano bom pra falar de crédito privado, porque conseguimos colocar R$ 1 bilhão a mais de recurso nosso, do Banco do Brasil, nas mesmas condições do Moderfrota, e temos falado bastante com parceiros para poder desenvolver soluções específicas.
Recentemente, lançamos um programa com a BRF – e nós vamos levar essa solução a outras empresas do agronegócio – de financiamento de painéis solares para as granjas. Você sabe que neste segmento o custo da energia elétrica é muito alto pro produtor, então é alta geração. E mais que isso, a migração para uma energia renovável faz todo sentido. Então, dentro dos nossos compromissos ambientais, nós assumimos o objetivo de ajudar o nosso cliente a migrar da energia tradicional para uma energia renovável que tem tudo a ver com o mercado que a gente atua. Esse nosso mercado, ele é muito verde por natureza, então isso vai ajudar ainda mais. E aí a gente fez essa linha e estamos conseguindo fazer isso com prazos bons, prazos adequados, de 8 a 10 anos com recursos do Banco do Brasil, sem necessidade de equalização, exatamente porque hoje a Selic está mais baixa.
CR: Como fica o cenário de taxas de juros e condições em 2021? A conjuntura econômica vai afetá-las?
JRJ: Acho que não! Para a taxa básica da economia, o consenso do mercado é que a gente vai encerrar o ano que vem com 3%. Então a gente vai continuar com taxas de juros muito, muito baixas. O Brasil está experimentando isso pela primeira vez na história recente, então a gente nem sabia o que era isso. Novos produtos de crédito estão sendo desenvolvidos por nós e pelos concorrentes. A sensação que eu tenho é que a gente está trabalhando para que o crédito chegue melhor e mais fácil para o produtor. Vai ser um crédito do jeito que a gente está fazendo? Um pedaço, sim. Outro pedaço vai vir de outras soluções.
Estamos apostando demais nos títulos do agronegócio, nas CRAs, CDCAs, CPRs. Acreditamos muito que essas novas formas de financiamento vão se tornar cada vez mais viáveis e a gente vai poder ter recursos tanto de curto prazo quanto de longo.
No caso das exportações, está ficando cada vez mais claro que é possível buscar fundings externos para financiar os nosso produtos aqui também e aí, com a proteção adequada também, financiarmos desta forma.
CR: Estão previstos lançamentos de novos produtos ou linhas de crédito em 2021?
JRJ: Estamos trabalhando, sim. Os primeiros produtos dos quais eu gostaria de falar são os produtos de proteção. No ano passado, o produtor plantou e acabou fazendo a troca por um preço de R$ 80/R$ 90 reais a saca de soja, e no vencimento estava R$ 100/R$ 120, em alguns casos até mais que isso. Existem soluções que não necessariamente o produtor precisa travar o preço, ele pode comprar uma opção e escolher se vai exercer ou não aquela opção. Então, ele compra o direito de vender a determinado preço. Se estiver muito acima, ele não exerce aquela opção. Este produto [contratos de opção] já existe, mas nós vamos dinamizá-lo bastante, até aproveitando o momento, porque muitos produtores já perceberam isso, a necessidade de ter flexibilidade.
A outra parte é a proteção climática. Continuamos com o seguro climático e o seguro faturamento e, agora, a gente começou a trabalhar pelo trigo em uma coisa : vamos começar a assegurar a qualidade. Você sabe que dependendo de como o trigo sai, ele tem maior ou menor valor para o produtor. A partir da próxima safra do trigo já vai estar disponível este tipo de seguro e devemos evoluir também para a cana. O seguro está indo para ajudar o produtor a ter ainda mais previsibilidade na sua atividade empresarial.
No Pronaf, a gente lançou o seguro do Pronaf e estamos trabalhando com um produto que a gente está apostando demais que é a bioeconomia. Bioeconomia é o produto que ajuda o nosso pequeno produtor, o pronafiano, a fazer uma migração, é quase como um ABC do Pronaf. Ele migra para uma agricultura mais de baixo carbono, e a gente financia isso: proteção de reserva, recomposição de reserva natural e adoção de práticas menos agressivas ao meio ambiente.
CR: O Banco do Brasil vai entrar no mercado de títulos verdes?
JRJ: Não posso falar muito sobre isso, mas é uma coisa em que apostamos muito. Acreditamos que aqueles produtores que seguem todos os preceitos, que são mais verdes do que os outros, que conseguem ter uma reserva maior até que a obrigatória, que usam práticas de plantio com integração lavoura-pecuária-floresta, aqueles que preservam, que são produtores de água também, eles têm um valor a ser monetizado e acreditamos muito nisso.
A gente ainda não está vendo isso aparecer na taxa de juros, então quando a gente coloca esses títulos – a gente tem acompanhado muito essa colocação de títulos verdes – ainda não apareceu na taxa, a taxa ainda não baixou. Mas a gente tem percebido uma maior procura, então a liquidez já acontece. Um título verde tem mais demanda do que um título não-verde, isso vai evoluir depois para taxa de juros.
CR: Como será a retomada econômica para o agro na visão do Banco do Brasil?
JRJ: Acreditamos que com a chegada da vacina, tudo muda. A economia retoma e a gente volta a ter um crescimento bom e grande. Se a gente continuar com a taxa de câmbio como está, a gente vai ter um bom momento da exportação junto com um bom momento interno.
A gente tem aprendido a conviver um pouco mais com a pandemia e isso vai dinamizando a economia, e o setor que é afetado mais rapidamente é o agronegócio.
Estamos fazendo estudos específicos para a olericultura, um olhar específico, porque foi um mercado que sofreu bastante. Eu diria que a olericultura e pesca foram os mercados que mais sofreram com a pandemia e estamos trabalhando forte, desenvolvendo soluções para eles. Isso vai ficar pronto ano que vem, a gente vai poder anunciar alguma coisa bem bacana nos próximos dias.
Estamos nos preparando para esse retorno. Achamos que vai ser um retorno gradual, mas forte e sustentável, da economia.
Fonte: Canal Rural