Previ planeja nova política de investimento válida até 2024

Publicado em: 16/11/2017

Dona de um patrimônio total de R$ 172 bilhões, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, vai adotar uma nova política de investimentos. Entre 2018 e 2024, o foco é reduzir a concentração de sua carteira de ações e sair do bloco de controle das empresas, para ser um “acionista minoritário ativo”.

Hoje, o principal plano do maior fundo de pensão da América Latina tem 46,87% dos recursos aplicados em renda variável. No entanto, apenas 12 companhias concentram 94% do valor total da carteira, calculado hoje em R$ 74,9 bilhões.

“O lado bom é que são ativos da economia real, que não vão virar pó. O grande desafio para frente é desconcentrarmos essa carteira”, disse ao Estadão/Broadcast o presidente da Previ, Gueitiro Genso.

Em até sete anos, o chamado Plano 1, que é o maior e mais antigo plano do fundo, atingirá a maturidade, ou seja, todos os associados que hoje estão na ativa poderão se aposentar e receber o benefício. Estimada em R$ 12 bilhões em 2018, a folha de pagamento atingirá o pico de R$ 15 bilhões anuais a partir de 2022. O plano de benefício definido vai até 2090. A política de investimentos deve viabilizar a missão de garantir o pagamento dos benefícios de forma sustentável.

A lista dos “top” 12 ativos do fundo de pensão inclui Vale, Banco do Brasil, Ambev, Petrobrás, BRF, Itaú Unibanco Holding, CPF Energia (a fatia fora do acordo de acionistas), Bradesco, Ultrapar, Itaú Investimentos e Invepar. Ao todo a Previ tem participação em 23 empresas.

Genso antecipou as linhas gerais da nova política. Uma novidade é que será feita uma análise setorial para entender onde fará sentido investir e a definir o programa de desinvestimento líquido.

A ideia é reduzir a fatia da renda variável, mas dada a queda de juros e menor rentabilidade dos títulos públicos, será preciso manter um bom pedaço no segmento. Quando vender participações a Previ deverá realocar parte dos recursos levantados em novas companhias.

Vendas

A Previ tem preparado seus ativos para a venda. Foi o caso da Vale, que se tornará uma empresa de capital pulverizado, além da venda da fatia na CPFL. O próximo passo deverá ser a oferta de ações da Neoenergia, que Genso não comenta. Até setembro de 2017 o desinvestimento da Previ com a venda de participações acionárias somou R$ 7,4 bilhões. Desde 2010 já são R$ 28,3 bilhões. A fatia da renda variável recuou da faixa de 64% dos investimentos totais para os atuais 46,8% desde então.

O fundo já definiu as premissas para eleger seus próximos setores-alvo: ativos com liquidez na Bolsa de Valores, que paguem bons dividendos e com governança corporativa de excelência. Outro ponto crucial é que a Previ não tem mais apetite para controlar empresas. Em contrapartida, quer reforçar seu papel de investidor institucional ativo.

Eletrobrás

Questionado sobre um possível investimento na Eletrobrás, que será privatizada, o executivo deixou em aberto. “O que eu responderia é que fundo de pensão no mundo inteiro gosta de ter ‘utilities’ (na carteira). É um setor que tem uma regularidade e paga bons dividendos. Não é descartado”, disse.

Em setembro o fundo teve um superávit de R$ 3,13 bilhões no Plano 1. Com esse resultado, o déficit acumulado pela fundação caiu para R$ 6,59 bilhões e a expectativa é que o bom desempenho da carteira de renda variável mantenha essa cifra em queda ao longo de 2018. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo

Previ revê estratégia e prepara associado para assumir mais risco

Publicado em: 19/10/2017

Com 203 mil participantes e R$ 172 bilhões em ativos, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, é de longe o maior do país. E, apesar de seu tamanho, é um dos poucos que não precisou aumentar recentemente as contribuições de seus associados ou aposentados de maneira drástica, como vários outros fundos de estatais, para cobrir rombos de má gestão ou irregularidades.

Alguns fundos acabaram sofrendo até intervenção dos órgãos reguladores. Já a Previ acumula neste ano, até setembro, um superávit acima de R$ 6,5 bilhões, que somado ao de 2016 chega a R$ 10 bilhões em 20 meses, afirma Gueitiro Matsuo Genso, presidente da Previ.

Ele falou ao Portal do Pavini durante o 38 Congresso Brasileiro da Previdência Complementar Fechada promovido pela Abrapp.

Uma explicação para a performance pode ser o próprio perfil dos associados, bancários, pessoas que lidam com dinheiro em seu dia a dia e conhecem o básico de mercados.

“E usamos a estrutura do banco, altamente preparada, para recrutar nossos executivos, seja na área de análise, seja de gestão, e todos têm de ter mais de dez anos de contribuição ao fundo, o que cria um compromisso forte”, diz.

Mais que os profissionais, uma governança sólida ajudou a evitar as investidas de interesses externos no fundo. “Na Previ, quem decide não executa e quem executa não controla”, diz.

Fundo novo e fundo antigo

Mesmo assim, a Previ se prepara para um grande desafio que é preparar o pagamento das aposentadorias dos funcionários mais antigos do Plano de Benefício Definido (BD), com R$ 161 bilhões e 114 mil associados, dos quais 102 mil já recebendo benefícios, cujo valor é garantido pelo fundo.

Ao mesmo tempo, terá de garantir os recursos até 2090 para os que entraram a partir de 1997 no Plano de Contribuição Variável (CV), que tem hoje R$ 10,9 bilhões 86 mil associados, 85 mil deles na ativa, e em um ambiente em que juro será menor e o ganho da renda fixa deixará de ser a principal garantia do fundo.

Escolha agora é dos participantes

Será preciso tornar os ativos mais líquidos para o plano antigo e correr mais risco no mais novo, mas para isso é preciso que o investidor do plano CV, que é quem escolhe onde aplicar o dinheiro dele, entenda e aceite correr esse risco, afirma Genso.

“No Plano BD, nós decidíamos e respondíamos pelas escolhas, mas no CV é o próprio participante que escolhe de acordo com seu perfil”, diz.

Mais ações no fundo antigo

Isso explica o elevado percentual que a Previ ainda tem em ações no Plano BD, de 46% do total de ativos, incluindo grandes fatias de controle em importantes empresas como Vale, Petrobras ou Neo Energia, e que garantiram boa parte da rentabilidade do fundo no ano passado e neste ano, apesar das fortes perdas nos anos anteriores.

“Temos 12 ações que representam 95% de nossa carteira”, afirma Genso. A renda fixa tem 43%.

Fundo novo poderia ter mais ações

Já no CV, as ações respondem por 30% do total e a renda fixa, 53%, exatamente o contrário do que um público mais jovem, que ainda vai demorar para se aposentar, deveria ter.

“Esse percentual, pelo perfil dos participantes, deveria ser 50% em renda variável pelo menos”, afirma Genso. “Mas, em geral, o investidor olha o retrovisor, e saca de ações quando o mercado cai, realizando prejuízos que seriam recuperáveis, e entra quando está no pico, quando o ganho já está no limite”, diz.

Ensinar o investidor a acompanhar e suportar quedas momentâneas do mercado será o trabalho do fundo nos próximos anos. “Tanto que grande parte do ganho do fundo BD veio da renda variável ao longo dos anos”, destaca Genso.

O desafio da educação previdenciária é geral no Brasil, admite o presidente da Previ. “Fazer a pessoa poupar hoje para ter uma reserva no futuro está muito ligado à cultura, e nós não temos essa cultura no Brasil, ao contrário de outros países, como o Japão, em que há até exagero na poupança”, diz.

Perdas de 2015 recuperadas até 2018

Uma das formas de educar os participantes é a comunicação. O fundo envia mensalmente seus balanços detalhados aos 110 mil participantes do Plano BD e 89 mil do CV, detalhando os resultados, de onde eles vieram e onde o dinheiro está aplicado.

“Agora, por exemplo, estamos mostrando com esse ganho de R$ 10 bilhões em 20 meses que nosso desequilíbrio de 2015, quando tivemos de marcar a mercado 12 ações com fortes perdas, de R$ 13 bilhões, e que elevaram o prejuízo total no ano para R$ 16 bilhões, foi conjuntural”, diz.

“Esperamos voltar ao equilíbrio no Plano BD ainda em 2018, recuperando as perdas de 2015”, afirma Genso.

Balanço mensal para ajudar a entender o plano

A estratégia do fundo vai além das exigências legais, lembra Genso. Por elas, o fundo de pensão teria apenas de divulgar o resultado uma vez por ano.

“Mas se patrocinamos boas práticas nas empresas em que investimos, como não vamos segui-las também?”, questiona.

Por isso a decisão de divulgar balanços mensais. E, em agosto, além de divulgar resultado, mandaram um boletim explicando o balanço do fundo BD.

“Não é fácil, mas tentamos mostrar o que é ativo e passivo, que o passivo é uma reserva matemática para 2090 para pagar os benefícios futuros, corrigida pelo INPC mais 5% ao ano, e que os ativos são as aplicações”, diz. A dificuldade é maior porque há associados de diversas idades, desde jovens até os aposentados.

Seis classes de ativos

O boletim mostra as seis classes de investimentos do fundo: renda variável, renda fixa, imóveis, operações com participantes (empréstimos, por exemplo), investimentos estruturados, ou fundos de participação, e investimentos no exterior.

Assim, neste ano, até agosto, último dado divulgado, o passivo cresceu 4,61%, que representa a variação da inflação do INPC mais 5%.

Plano BD redeu 8,35% até agosto

Já os ativos do Plano BD renderam no total 8,35%, sendo 10% da renda variável, 6% da renda fixa e 3% do investimento imobiliário. Os imóveis, que ainda sofrem com a alta vacância, representam 6,35% da carteira.

Os polêmicos Fundos de Investimento em Participações (FIPs), que compram empresas fechadas, fora da bolsa, e que foram envolvidos em irregularidades e prejuízos a alguns fundos de pensão, renderam 20% para a Previ este ano.

“Esses fundos estão saindo da fase de maturação e já mostram serem muito rentáveis, mas são ainda uma parcela muito pequena da carteira, 0,55%”, diz. E o investimento no exterior, que tem uma fatia ainda mais modesta, de 0,07% da carteira, renderam 9%.

Ganhos da renda variável e concentração em 12 ações

Com esse resultado, o fundo está ganhando 4% líquidos acima da meta atuarial de 4,6%, destaca Genso. “Estamos pagando ainda a conta de 2015 e dando uma tranquilidade para o associado”, diz. Ele explica que o que mexe com o resultado do fundo é a renda variável.

“Temos uma carteira de R$ 72 bilhões, quase toda, 95%, em 12 ativos, por isso quando a bolsa cai dizemos ao investidor ter calma, pois os ativos são bons”, lembra.

Como exemplo ele cita a Vale, cujas ações representam sozinhas 36% da carteira de renda variável e 16% do patrimônio do fundo.

Depois aparecem BB, com 11% da carteira de ações, Neo Energia, com 9,5%, Ambev, com 7,4%, Petrobras, com 6,64%, BRF, com 4,97%, Itaú Unibanco, 5%, CPFL Energia, 3,66%, Bradesco, 3,06%, Ultrapar, 2,26%, Itaú Investimentos, 2,03% e Invepar 2%.

Planos novos rendem 10,58%

Já no plano novo, CV, há 4 perfis para o investidor escolher com seu perfil de risco. O fundo rendeu 10,58% na média, também bem acima dos 4,61% da meta atuarial. Mas a maioria escolhe o plano conservador, por isso o trabalho de conscientização e educação financeira, afirma Genso.

“Temos de evitar o efeito manada, de aplicar na alta quando todos estão aplicando e resgatar na baixa”, diz. “E essas pessoas ainda têm 20 anos para se aposentar, deveriam estar aproveitando para correr risco agora para alavancar os ganhos, ainda mais com os juros caindo”, diz.

Questionário de perfil de risco e cenário econômico

Para ajudar a convencer os participantes, a Previ criou um questionário para definir o perfil de cada associado e, a partir disso, um app que traz um cenário econômico mensal com os principais indicadores da economia.

“Fazemos isso porque, se no plano BD somos nós que definimos as aplicações, no CV é o investidor, e é uma linha tênue entre a orientação e a obrigação de não induzir o investidor”, explica Genso. “Tentamos fazer ele refletir sobre as oportunidades e os cenários”, diz.

Vantagens dos fundos fechados

Genso cita as vantagens dos planos fechados em relação aos abertos, oferecidos pelos bancos. “Nos fechados, o associado participa da gestão escolhendo representantes para o conselho, e não há a divisão do lucro com a instituição financeira”, lembra.

“E mesmo com um custo mais baixo, conseguimos um retorno maior que a previdência aberta”, diz, citando um estudo com fundos de renda fixa de bancos e a Previ. “Nosso fundo Previ Futuro, de janeiro a agosto deste ano, rendeu 7,98%, para 7,86% do Bradesco Master FI, 7,58% do Itaú FlexPrev ativo, e 7,50% da BrasilPrev RT Fix VI”, diz.

“E isso porque não marcamos todo o ganho que tivemos com nossas NTN-B com a queda dos juros, só 42% do total”, diz. Os outros 58% são marcados “na curva”, ou seja, atualizados de acordo com o rendimento acumulado desde a aplicação.

Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Arena do Pavini.

Fonte: Exame