Previ lidera investidores globais por mais rigor no mercado pós-Americanas

Publicado em: 16/02/2023

De longe o maior investidor institucional brasileiro – desde que a BNDESPar reduziu à metade seu portfólio de participações societárias -, a Previ levou um susto enorme com o rombo da Americanas. E desde janeiro lidera um grupo de gigantes investidores globais numa campanha que visa a garantir maior integridade nos dados de balanço e pressionar pela elevação no grau das punições aos infratores do mercado.

Neste caso, a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil deu sorte. No dia da publicação do fato relevante que revelou as “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões no balanço da Americanas, a exposição direta da Previ à empresa era de R$ 39,5 milhões, participação marginal, comparada ao total de mais de R$ 73 bilhões investidos em renda variável.

Grupo de investidores vai se reunir no carnaval

Mesmo assim, o caso acendeu um alerta. Para evitar os problemas recorrentes no mercado brasileiro, a Previ decidiu liderar a campanha junto com investidores globais. Uma reunião já ocorreu em janeiro e outra está marcada para a semana do carnaval, no conselho diretor do PRI (Princípios para o Investimento Responsável, na sigla em inglês), instituição de investidores que atua em parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas).

Ideia é adotar normas internacionais

Segundo apurou a Coluna, a caixa de previdência não pretende deixar barato o ocorrido com a Americanas, que reúne fortes indícios de fraude. A ideia é que a campanha por uma punição exemplar iniba novos casos do tipo. A intenção da Previ é usar de sua influência para tentar acoplar no mercado de capitais brasileiro normas que já são adotadas no exterior.

PRI reúne 5,5 mil investidores institucionais no mundo

O PRI reúne mais de 5.500 investidores institucionais que administram em torno de US$ 130 trilhões em ativos. O conselho diretor é formado por dez diretores, representantes dos maiores fundos de investimentos do mundo, e um presidente independente, atualmente o ex-conselheiro-chefe do primeiro-ministro da Noruega em questões de política econômica Martin Skancke, que termina este ano três mandatos consecutivos iniciados em 2014.

Rombo na varejista contribui para espantar capital estrangeiro

No ano passado, a Previ conseguiu eleger um representante para o colegiado, o diretor de Investimentos Denísio Liberato. Além dele, a diretoria é formada por representantes de investidores dos Estados Unidos, Austrália, Japão, França, África do Sul e Noruega. Todos representam gestores com bilhões de dólares em carteira. Em relação ao montante que administram, a alocação em investimentos no Brasil é baixa, mas é bastante para os padrões brasileiros. O rombo da Americanas contribui para deixar mais arisco o capital estrangeiro em relação ao Brasil.

Previ também tem participação indireta na Americanas

Na Previ, a participação acionária direta em Americanas é “de baixa representatividade”, como descreveu a instituição em nota a seus associados, dizendo que o valor representa, aproximadamente, 0,011%, 0,059% e 0,037% dos patrimônios dos Planos 1, Previ Futuro e PGA, os três diferentes modelos que atendem os associados. Além disso, a instituição tem participação indireta, por meio de fundos de investimentos e participação acionária em shoppings que abrigam lojas da rede varejista.

Na quinta-feira (9), reportagem publicada no Broadcast informou que os shoppings estão sendo notificados pela Americanas que os aluguéis devidos até a data do deferimento do pedido de recuperação judicial (19 de janeiro) não serão pagos. A Coluna apurou que os acionistas dos shoppings onde a empresa mantém lojas estão se mobilizando para tentar retirar a empresa dos espaços, substituindo-a por outras varejistas.

Fonte: Estadão

 

Entenda por que o rombo nas Americanas pode impactar PLR de bancários

Publicado em: 10/02/2023

A Americanas S.A. (Americanas), uma das maiores empresas do varejo brasileiro, divulgou, em 11 de janeiro, Fato Relevante ao mercado e aos acionistas para informar a identificação de inconsistências contábeis em demonstrações financeiras de exercícios anteriores, inclusive 2022, estimadas em cerca de R$ 20 bilhões.

Segundo o texto, os problemas estariam vinculados à “existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima (R$ 20 bilhões), nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras”.

Entre os credores da Americanas – enviada pela empresa no decorrer do processo de recuperação judicial –, estão alguns dos maiores bancos do país. Merecem destaque: Deutsche Bank (R$ 5,2 bilhões de crédito); Bradesco (R$ 4,5 bilhões de crédito); Santander Brasil (R$ 3,6 bilhões); BTG Pactual (R$ 3,5 bilhões); Votorantim (R$ 3,2 bilhões); Itaú Unibanco (R$ 2,7 bilhões); Safra (R$ 2,5 bilhões); Banco do Brasil (R$ 1,3 bilhão) e Caixa Econômica Federal (R$ 501 milhões).

O primeiro potencial impacto é nos resultados financeiros dos bancos, na medida em que o atraso no pagamento ou mesmo o não recebimento de partes da dívida das Americanas fará com que as instituições financeiras elevem os níveis de provisão para devedores duvidosos (PDD), o que afetará de forma negativa os lucros dos bancos credores.

Segundo relatório da XP Investimentos, esse impacto negativo pode ser da ordem de 20 a 30% no caso dos bancos mais expostos, como BTG, Santander e Bradesco e, de cerca de 10%, nos casos de Itaú e Banco do Brasil. O relatório aponta que os níveis de PDD dos cinco grandes bancos de capital aberto podem chegar a cerca de R$ 8 bilhões.

O Santander divulgou seu balanço na última quinta-feira 2 e elevou as provisões para devedores duvidosos, o que fez o lucro do banco de 2022 cair 21% em relação a 2021.

Cenários semelhantes foram observados no setor bancário brasileiro em 2016, na esteira da quebra de empresas em decorrência da operação Lava Jato e, em 2020, em função das incertezas econômicas ocasionadas pela pandemia de covid-19.

Estes eventos alertam também para o risco de as instituições financeiras buscarem recompor a lucratividade com base na redução de despesas administrativas e de pessoal, o que pode significar uma intensificação no fechamento de agências bancárias e nova onda de demissões de bancários.

“Existe uma extensa lista de credores e fornecedores em torno das atividades das Americanas, milhares de empresas e um contingente estimado em mais de 100 mil trabalhadores empregados, que podem ser impactados ao longo do processo de recuperação judicial. É urgente que sejam articuladas ações para apuração das responsabilidades, e ter transparência em todo o processo e diálogo no sentido de garantir a manutenção dos postos de trabalho e dos direitos trabalhistas”, diz Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.

Fonte: Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região

 

Bancos públicos estão entre os principais credores da Americanas

Publicado em: 20/01/2023

Na última semana, um escândalo financeiro de grandes proporções trouxe à tona algo que estava escondido por trás do alegado bom exemplo de gestão de grandes empresas privadas. Tendo como sócios alguns dos homens mais ricos do Brasil, defensores incansáveis das privatizações, a Americanas teve reveladas “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões – chamadas abertamente de “fraude multibilionária” pela representação dos acionistas minoritários. Entre os principais credores, cujos recursos ficam ameaçados pelo rombo, estão bancos públicos – ou seja, o prejuízo atinge um perímetro muito maior do que os acionistas da Americanas.

Para além do prejuízo que pode repercutir nos bancos públicos, esse fato coloca em questão (mais uma vez) a propaganda falsa baseada na premissa “se é privado, é melhor”, protagonizada justamente por aqueles que estão diretamente envolvidos na privatização de estatais. Não se trata, portanto, de um problema “da Americanas”.

Entenda o caso

Na virada de ano, o CEO Sergio Rial assumiu a Presidência da Americanas. Porém, apenas dez dias depois, Rial renunciou ao cargo. O motivo? Ele descobriu um rombo de R$ 20 bilhões nas contas da empresa. Esse valor refere-se a dívidas que estavam sendo erroneamente contabilizadas: a empresa pediu empréstimos para pagar os fornecedores (em operações chamadas de “risco sacado” e, em vez de essas dívidas serem contabilizadas como tal, foram registradas como despesas com fornecedores. Isso esconde as dívidas acumuladas, apresentando a potenciais acionistas e possíveis credores uma realidade financeira que não existe, como se a empresa tivesse menos dívidas do que na realidade possui.

Chamada de “inconsistência contábil” por alguns, a prática foi caracterizada como uma “fraude multibilionária” pela Abradin, associação que reúne acionistas minoritários de empresas de capital aberto. Em nota, a Abradin afirmou que o caso “não só destruiu patrimônio dos acionistas da companhia como, e principalmente, mina a credibilidade do mercado de capitais brasileiro, afugentando investidores justamente em um momento em que a economia nacional tanto precisa de investimentos diretos na produção para retomar sua trajetória de crescimento”.

As contas da Americanas são auditadas pela PwC, uma das maiores multinacionais de consultoria e auditoria do mundo, que está há mais de 100 anos no Brasil. Em seus relatórios, a PwC não apontou qualquer inconsistência. Agora, as revelações sobre o rombo colocam em xeque a atuação da PwC, que faz parte do grupo apelidado de “big four” de empresas de consultoria e auditoria, e, por consequência, devem lançar dúvidas sobre a credibilidade também das demais integrantes do grupo.

Caixa fez empréstimo no apagar das luzes do governo anterior

Dos R$ 20 bilhões em dívidas que estavam escondidos nos balancetes da Americanas, R$ 6,4 bilhões têm como credores bancos públicos: Banco do Brasil, Banco Econômico de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Banco da Amazônia, Banco do Nordeste e Caixa Econômica Federal. No dia 21 de dezembro, no apagar das luzes do governo de Jair Bolsonaro (PL) e menos de três semanas antes do anúncio do rombo, a Caixa concedeu à empresa um empréstimo de R$ 450 milhões. Todos correm agora para minimizar os prejuízos que podem sofrer.

Quem são os acionistas majoritários da Americanas?

Especialistas têm dito ser improvável que o rombo tenha passado despercebido pelas gestões anteriores e pelos acionistas majoritários. Os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira possuem cerca de um terço das ações da Americanas. Lemann, que vive na Suíça, é o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em quase R$ 80 bilhões. Ele e seus sócios – que são proprietários da 3G Capital – atuaram diretamente para a privatização da Eletrobras, da qual também são acionistas.

Reportagem do jornalista Luis Nassif denuncia, sobre Lemann, que “a forma como se apropriou da Eletrobras é indecente, fruto de lobby direto na veia do poder público. Entrou como minoritário, no golpe do impeachment passou a ter poder de indicação dos gestores. Estes reduziram investimentos – que eram relevantes para o país – para garantir dividendos polpudos. A 3G, controlada por ele, produziu uma avaliação do preço da Eletrobras indecente, tomando como base o valor contábil da empresa. O golpe da privatização ocorreu com a empresa emitindo ações, que diluíram a participação estatal, e impuseram um acordo de acionistas pelo qual a União só tem direito a 10% dos votos, independentemente de sua participação acionária”.

Riscos para fundos de pensão e trabalhadores

Os fundos de pensão que se vinculam ao mercado financeiro também podem ser – e alguns já estão – sendo afetados direta ou indiretamente pela crise desencadeada pela “inconsistência” da Americanas. Reportagem do jornal O Globo aponta que dois fundos da Fundação dos Economiários Federais (Funcef), que administra as pensões de funcionários da Caixa Econômica Federal, foram afetados, embora de forma apenas marginal. A desconfiança sobre a confiabilidade dos balancetes de grandes empresas e até mesmo sobre empresas de auditoria como a PwC, porém, pode trazer efeitos futuros também sobre outros fundos de pensão. São os riscos assumidos pelos fundos de pensão que se vinculam às dinâmicas instáveis do mercado financeiro.

Além dos riscos para os trabalhadores e trabalhadoras que têm suas aposentadorias vinculadas a fundos de pensão, também não está afastado o risco de demissões na Americanas, onde trabalham 44 mil pessoas. Isso porque a situação financeira da empresa ainda é incerta, assim como a forma como ela irá lidar com o possível estrangulamento. Nos próximos dias, especula-se que a Americanas irá mover processo de recuperação judicial, pedindo à Justiça o congelamento dessas dívidas que não estavam sendo contabilizadas até que ela apresente um plano de recuperação – que poderá incluir demissões.

Fonte: Sintrajufe

 

BB investiu R$ 277 mi na Americanas no fim do governo Bolsonaro

Publicado em: 17/01/2023

Treze fundos de investimentos do Banco do Brasil são credores da Americanas. Ao todo, esses fundo aplicaram cerca de R$ 277,5 milhões do dinheiro dos cotistas nos papéis da dívida da varejista. Curioso é que as compras se intensificaram a partir de outubro do ano passado.

O Brasilprev Top TP III FI RF CP, fundo de aposentadoria privada, tem algo perto de R$ 70 milhões investidos nos títulos, o equivalente a pouco mais de 3% do patrimônio líquido total. Em um eventual inadimplemento da dívida por parte da varejista, os cotistas terão um prejuízo imediato acima de 3% nos recursos que estão sendo guardados com a gestora.

Para se ter uma ideia do impacto que isso pode ter no fundo: no dia 12 de janeiro, as cotas do Brasilprev Top TP III FI RF CP caíram 1,65%, o equivalente a R$ 36 milhões dizimados em função da crise da varejista. Antes disso, a maior queda registrada pelo fundo era de 0,04%, em dezembro do ano passado.

De acordo com levantamento de O Antagonista, pelo menos três fundos previdenciários do banco público têm posição no papel, com um prejuízo próximo de R$ 100 milhões, caso as dívidas não sejam honradas. Outros dez fundos de investimentos do banco estão com mais de R$ 170 milhões aplicados.

O Banco do Brasil tem a gestora com o maior volume de recursos investidos em debêntures da Americanas, com R$ 277,5 milhões. A estatal é seguida pelas gestoras do Banco Santander, com cerca de R$ 240 milhões, e do BTG Pactual, com mais de R$ 150 milhões. Ao todo, são mais de R$ 15 bilhões em debêntures ainda nas mãos de fundos de investimento independentes nacionais e internacionais ou ligados a bancos.

A varejista, que já entrou em disputa judicial com o BTG, estuda uma recuperação judicial para renegociar as dívidas com bancos e credores em geral, após a descoberta de “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões na semana passada. A possível fraude levou Sérgio Rial a abdicar do cargo de CEO da companhia apenas nove dias após a posse.

Fonte: O Antagonista