Reestruturação ainda deixa o BB atrás de concorrentes

Publicado em: 02/12/2016

A reestruturação anunciada ontem pelo Banco do Brasil (BB) — antecipada pelo Correio — não será ainda capaz de levar a lucratividade da instituição ao mesmo patamar dos concorrentes privados. Nas contas do economista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho, o resultado líquido do banco deve crescer pelo menos 7% com a redução de R$ 750 milhões em despesas administrativas. O cálculo não considera a queda nos gastos com a folha de pessoal, que pode reforçar o lucro da empresa.

Mesmo com a diminuição da folha salarial, que pode chegar a R$ 3 bilhões por ano se 18 mil empregados aderirem ao plano de aposentadoria incentivada, Bradesco e Itaú manterão lucros mais elevados que os do BB. As projeções de Salles levam em conta um crescimento médio da economia de 2% por ano. Nesse caso, o BB teria ganhos de pelo menos R$ 3 bilhões por trimestre, ou R$ 12 bilhões por ano. Os concorrentes privados, porém, lucrariam por volta de R$ 20 bilhões.

Além de cortar despesas e incentivar demissões, o BB vai fechar 402 agências, das quais 20 em Brasília. A Caixa, por sua vez, informou que tem a intenção de desativar 100 agências, a partir de 2017. Com isso, chegaria a 502 o número de dependências bancárias de instituições federais que teriam as atividades encerradas.

A meta do BB para economizar com a folha de pagamento, no entanto, pode não ser totalmente alcançada. Salles comentou que planos de aposentadoria incentivada costumam ter adesões significativas em períodos de crescimento econômico. Na recessão, porém, os funcionários, sobretudo de estatais, preferem manter a estabilidade, mesmo com incentivos para se desligarem. “Os empregados do BB já têm garantidos a aposentadoria da Previdência Social e o benefício da Previ, que é o fundo de pensão. Muitos preferem manter a remuneração da atividade porque há perda de renda, mesmo que mínima, quando há desligamento”, disse.

Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin Rating, disse que as medidas do BB são positivas e refletem a realidade no setor. Ele explicou que ao fechar 402 agências físicas e expandir de 245 para 500 o número de escritórios e agências digitais, a instituição mostra preocupação com a rentabilidade. “O BB tem o maior número de agências entre todos os bancos, e muitas delas dão prejuízo. O banco está em busca de eficiência e outros players de mercado já anunciaram que vão fechar agências ou desistiram de abrir novas”, afirma.

Em relatório encaminhado a clientes, o banco Brasil Plural estimou que nove mil empregados do BB devem aderir ao plano de aposentadoria incentivada. Nas contas de Eduardo Nishio, do Brasil Plural, as medidas têm potencial para valorizar as ações do banco em 7,2%.

Reestruturação ainda deixa o Banco do Brasil atrás de concorrentes

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2016/11/22/internas_economia,558126/reestruturacao-ainda-deixa-o-banco-do-brasil-atras-de-concorrentes.shtml

Diretor do BB diz que inadimplência na alta renda é menor

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As condições gerais de crédito custam a apresentar alguma melhora, mas a fonte não seca para um grupo de mais alta renda que, pelo bom histórico de pagamento, está sempre na mira dos bancos. Enquanto as concessões gerais do crédito direto ao consumidor caíram 8,3% nos 12 meses até setembro, o varejo de alta renda – atendido por meio de bandeiras como Personnalité, Prime, Premier, Estilo, Van Gogh e Select – segue recebendo ofertas de crédito, muitas vezes de maneira bastante insistente, por diferentes canais.

É um tipo de abordagem comum, dizem especialistas, mas que se acentua em cenário de risco elevado, no qual o bom histórico de pagamento da alta renda fala mais alto e favorece o grupo. O Banco Central não abre as informações sobre inadimplência por faixas, mas um exemplo do que ocorre em algumas linhas de crédito do Banco do Brasil (BB) ilustra bem esse movimento.

No cheque especial, por exemplo, enquanto o índice de inadimplência do banco está ao redor de 7%, entre os clientes com renda acima de R$ 8 mil não chega a 1%, diz Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do Banco do Brasil. No consignado, a inadimplência está em 1,3% na linha geral. Para esse público, ela cai para 0,7%.

Para João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho, a inadimplência nas faixas mais baixas de renda está mais elevada, especialmente em razão do desemprego. Como os gerentes de banco continuam sendo extremamente cobrados para engordar a carteira, acabam voltando suas baterias à alta renda. “O banco refuta a base da pirâmide e faz estratégia agressiva na outra ponta”, afirma.

Mesmo tendo vendido suas operações de varejo para o Itaú e aguardando apenas a chancela do regulador ao negócio, o Citibank entrou outubro com ofertas agressivas de crédito pessoal. Para um cliente com renda mensal a partir de R$ 10 mil, os valores chegavam a R$ 50 mil ou R$ 60 mil. Tudo em 48 meses, ou dez meses acima da média registrada pelo crédito pessoal geral, segundo o BC.

O Valor teve acesso a propostas com taxas de juros de 3,9% ao mês, ou taxa efetiva de 63,72% ao ano. O percentual fica muito abaixo da taxa média cobrada em empréstimo pessoal feito com recursos livres que, segundo o BC, subiu quase três pontos percentuais de agosto para setembro, chegando a 135,1% ao ano – de longe, a maior da série histórica iniciada em 2011.

Um pouco antes do Dia das Crianças, o Bradesco oferecia uma linha especial a seus clientes Prime reforçando a ideia de “tornar a data inesquecível”. Um deles, recebeu uma oferta, por mala direta, de um limite de crédito pessoal capaz de marcar o dia de não uma, mas de várias crianças. O folheto oferecia R$ 24,8 mil e indicava que as condições do empréstimo precisavam ser consultadas na agência ou por telefone – algo que o cliente não fez.

Bastante agressivo, o Santander tem buscado convencer os seus clientes de alta renda, especialmente por telefone, a aceitar ofertas que chegam a R$ 100 mil. A insistência do banco tem incomodado parte dos clientes que, na tentativa de se desvencilhar da oferta, não querem nem ouvir as condições do empréstimo. “Sinto que meu banco tenta me pegar pelo braço. Aperto o botão para sacar R$ 100 e tem R$ 30 mil disponíveis para mim”, conta uma fonte.

Os bancos se defendem dizendo que, mesmo em um cenário difícil, não deixam ninguém, nem mesmo os clientes de menor renda, na mão. “Não fizemos nenhuma restrição quanto à renda”, diz Casalatina, do BB. Segundo o executivo, o que existe são taxas de juros diferenciadas para clientes que têm grau de relacionamento maior com o banco, o que é comum no mercado.

Cássio Schmitt, diretor de produtos de créditos e recuperação para pessoa física do Santander, explica que o banco tem mantido e estimulado o crédito independentemente da faixa de renda, após um período de ajustes internos no segmento. A taxa de inadimplência da carteira de pessoa física, diz Schmitt, saiu de 7% em 2012 e hoje está em 4,5%.

Schmitt reconhece que o banco faz aproximações com clientes sem que tenha sido provocado, mas diz que boa parte das ofertas tenta, na verdade, detectar as vontades do público. “Se o cliente faz a cotação de crédito em um dos nossos canais faz mais sentido ofertar para ele”.

Segundo o executivo do Santander, o objetivo é retomar de uma maneira que chama de “consciente” as ações de estímulo ao crédito, em especial os menos voláteis, como o imobiliário ou com garantia de imóvel ou veículo. O balanço do terceiro trimestre banco sinalizou melhora do crédito nessas linhas.

No geral, as condições de crédito pessoal com recursos livres pioraram de uma maneira significativa nos últimos dois anos. Uma olhada mais atenta aos números mostra, porém, que os juros subiram bem mais rápido do que os atrasos. Enquanto a inadimplência subiu pouco mais de dois pontos, de 7,24% em setembro de 2104 para 9,61%, os juros cobrados ao ano saltaram quase 40 pontos, de 96% para 135,1%.

Salles, da Lopes Filho, avalia que a inadimplência só não é maior porque os bancos estão empenhados em renegociar dívidas e repactuar o crédito para outras linhas mais baratas, como o consignado privado. Mas a retomada das operações deve ficar para o segundo trimestre do ano que vem. “Os bancos têm abundância de recursos e querem emprestar, mas a demanda está muito reprimida. Não vemos melhoria no curto prazo”.

Fonte: http://www.valor.com.br/financas/4765029/oferta-de-credito-alta-renda-vira-estrategia