Pesquisa mostra dilema entre perda de mercado e manutenção da rentabilidade dos bancos

Publicado em: 18/07/2024

O avanço das plataformas de investimentos, assessorias e fintechs nos últimos anos têm imposto um desafio para os grandes bancos. Por muito tempo acostumados a “jogarem parados”, ganhando dinheiro sem fazer muito esforço para inovar a oferta de serviços, os incumbentes vêm perdendo terreno em diversas frentes que dominavam.

Por conta disso, os bancos vêm trabalhando para recuperar as parcelas de mercado que perderam. Mas um estudo conduzido pela boutique de assessoria financeira Seneca Evercore alerta que o caminho não será fácil, pois envolve quebrar paradigmas estabelecidos há anos.

O estudo analisou essa perda de competitividade por meio da retração que as grandes instituições financeiras tiveram na parte de crédito corporativo. Segundo ele, até 2018, os bancos comerciais no Brasil possuíam uma fatia de mercado acima de 70,6% do financiamento de empresas do País.

Mas o avanço do mercado de capitais, com o crescimento no número de players independentes, reduziu a participação dos incumbentes. Em seis anos, essa parcela caiu para 54,3%, até março deste ano. Essa perda de market share, porém, não fez com que os grandes bancos ajustassem seus spreads para ficarem mais competitivos.

A pesquisa aponta que as instituições financeiras brasileiras apresentam um ganho proporcionalmente maior derivado do spread financeiro sobre os ativos financeiros do que os bancos americanos – 4,4% contra 2,6%, respectivamente. Enquanto o spread no Brasil em março foi de 12,7%, nos Estados Unidos, ele estava em 3,2%.

A grande questão, segundo Daniel Wainstein, sócio da Seneca Evercore, é que os bancos não têm espaço para cortar o spread porque a estrutura de despesas dessas instituições é mais onerosa, exigindo a cobrança de spreads elevados para atingir o mesmo nível de rentabilidade dos bancos americanos.

“Os bancos são pesadíssimos no Brasil”, diz Wainstein. “Eles não conseguem diminuir os spreads porque não terão lucratividade mínima se fizerem isso.”

O estudo aponta que a estrutura de despesas dos bancos brasileiros é superior ao das instituições americanas, de 3,7%, contra 2,9%, respectivamente, quando se pega as despesas administrativas e divide pelos ativos financeiros.

No caso da rentabilidade, embora o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) dos bancos brasileiros seja superior, com uma mediana de 12%, enquanto nos americanos é de 9,5%, quando se leva em conta a taxa básica de juros de cada país, o ROE das instituições brasileiras é de 1,5%. Nos bancos americanos, a mediana é de 4,1%.

Segundo Wainstein, a estrutura de despesa dos bancos brasileiros já foi bem mais pesada, chegando a estar em 7% no início dos anos 2000. Ele diz que os bancos fizeram um bom trabalho nos últimos anos de redução de despesas, com fechamento de agências e reduzir pessoal.

O sócio da Seneca Evercore destaca ainda que os bancos lidam com um índice de inadimplência muito elevado. De acordo com o estudo, os bancos brasileiros provisionam 2,9% em relação a sua carteira de crédito, enquanto os bancos americanos provisionam apenas 0,6%.

“Os bancos brasileiros têm que cobrar juros muito altos para poder comportar o risco e para comportar uma estrutura administrativa pesada”, afirma Wainstein.

Fonte: Neofeed

Por que o lucro recorde do Banco do Brasil não animou o mercado?

Publicado em: 07/03/2024

O Banco do Brasil (BBAS3) reportou lucro líquido de R$ 9,4 bilhões no 4T23, o que resultou em um lucro líquido ajustado de R$ 35,6 bilhões em 2023 – alta de 11,4% na comparação anual e recorde absoluto da companhia.

No entanto, o investidor que esperava uma reação positiva das ações, provavelmente se decepcionou: os papéis caíram 3,5% logo no início do pregão seguinte à divulgação, na sexta-feira (9). Ao longo do dia até ensaiaram uma recuperação, mas encerraram o pregão em baixa de 1,66%.

Por que BBAS3 não subiu depois do lucro robusto?

Segundo a analista Larissa Quaresma, da Empiricus Research, os principais destaques positivos do resultado foram a margem financeira com o mercado do Banco Patagônia, controlado pelo BB na Argentina, e a expansão da carteira de crédito.

Acontece que o resultado da tesouraria do banco argentino inclui variações cambiais sobre os títulos atrelados ao dólar, em um período de forte desvalorização do peso argentino.

“O que foi bom, na verdade, foi uma coisa muito incerta. O resultado da tesouraria é algo muito volátil e é considerado um componente de baixa qualidade no resultado. É claro que qualquer lucro é bem-vindo, mas é um lucro frágil”, avaliou.

Mas, para a analista, o que mais desagradou o mercado foi o aumento da inadimplência, que veio principalmente do atacado.

“A inadimplência de grandes empresas acelerou o ritmo de alta no momento em que a maioria dos bancos estão começando a ver a inadimplência cair. No BB observamos o contrário, com a inadimplência começando a subir forte, já no quarto trimestre”, apontou.

Por conta disso, o banco estatal não atingiu o guidance de inadimplência no ano. “Passa uma sinalização ruim para o futuro, porque não vimos melhora nos índices de atraso, que são o indicador antecedente para a despesa de inadimplência”, afirmou Larissa.

Dentre os pares, analista prefere as ações do Itaú (ITUB4)

Na visão da analista, embora as ações do BB não estejam caras, há receio sobre a performance futura do banco. O risco político, inclusive, ainda está no radar.

“Existe possibilidade de interferência política, seja no subsídio de taxas de empréstimo, seja forçando a concessão de empréstimos que não fazem sentido econômico para o banco”.

Neste contexto, a analista prefere as ações do Itaú Unibanco (ITUB4) dentre os pares do setor na B3.

“O BB deu um guidance para 2024 que implica crescimento de 8% no lucro. É mais fraco que o do Itaú, que é de 12% implícito no guidance, o que acho conservador. Existe uma possibilidade relevante do Itaú superar essas expectativas. Apesar de ser uma ação mais cara, vejo como uma escolha melhor”, recomendou.

ITUB4 está entre as 10 melhores ações para comprar em fevereiro; confira as outras

As ações do Itaú, inclusive, estão na lista da Empiricus Research das 10 melhores ações para investir em fevereiro.

Os papéis do banco saltaram 4,3% no pregão de quarta-feira (6), dia seguinte ao resultado do 4T23, considerado robusto pelos analistas.

Mas o banco não é o único com potencial de entregar bons retornos aos acionistas nos próximos meses. O portfólio recomendado pela Empiricus Research conta com outras 9 ações consideradas o filé mignon da bolsa.

São ações com alto potencial lucrativo, fundamentos interessantes pensando no longo prazo e algum gatilho de valorização em breve.

Além de outros destaques que podem encher o bolso do investidor e sequer foram citados. São todas boas ações que, segundo a equipe de análise, estão sendo negociadas abaixo do que de fato valem.

E têm todas as características para surfar a possível recuperação da bolsa brasileira.

Fonte: Exame

“Não sabemos o que o mercado ainda espera de nós”, diz CFO do BB

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A principal mensagem que o Banco do Brasil (BBAS3) tenta passar ao mercado é de que as ações da empresa não deveriam ser negociadas com desconto apenas por se tratar de uma estatal.

No último trimestre o BB apresentou o melhor resultado do setor bancário, com lucro líquido de R$ 9,4 bilhões e rentabilidade de 21,6% – acima dos principais players privados. Ainda assim, o papel ainda fica para trás na bolsa.

Enquanto os concorrentes são negociados com um valor de mercado na casa de 11 vezes no indicador preço/lucro (P/L), o BB é negociado a 4,7 vezes nos cálculos do banco.

“Não sabemos o que o mercado ainda espera de nós. Fechamos o gap de rentabilidade em relação aos pares, temos uma estrutura de governança entre as mais robustas do mercado e somos o único banco listado no Novo Mercado”, defendeu Geovanne Tobias, vice-presidente de gestão financeira do BB.

O Banco do Brasil também aumentou o payout (percentual de distribuição em relação ao lucro) de 40% para 45%, elevando o retorno para os acionistas. O banco irá pagar R$ 2,38 bilhões em proventos.

“Oferecemos um nível de transparência e detalhamento de informações incomparável com os outros bancos e mesmo assim o mercado fica pé atrás com a gente”, completou.

As declarações foram dadas durante o BB Day, evento anual do banco com investidores. Tobias reforçou a postura adotada após a divulgação dos últimos resultados da estatal, quando já havia provocado a falta de reação de analistas e investidores aos números do BB.

Bancos vs fintechs

Outro recado dado veio no âmbito regulatório, que, segundo o BB, favorece as fintechs. Felipe Prince, vice-presidente de controles internos e gestão de riscos do banco, afirmou que há uma disparidade regulatória entre os bancões e as novatas do mercado financeiro.

“Os bancos incumbentes tiveram que lidar com arcabouço de 18 resoluções que agrediram e transformaram o nosso negócio. Por outro lado, são apenas 2 resoluções que regulam os novos entrantes”, avaliou.

Segundo Prince, há uma assimetria de competição. “Quem perde é o cliente, uma vez que essa assimetria traz disparidade para o sistema”, disse.

Fonte: Exame

Fintechs perdem fôlego com alta dos juros e grandes bancos ganham mercado

Publicado em: 05/01/2023


Após anos em que sua capacidade de sobreviver frente à concorrência maior e mais ágil foi questionada, os grandes bancos brasileiros chegam a 2023 com a balança pendendo fortemente para seu lado. Em um mundo de dinheiro mais caro, a diversidade e a solidez dos negócios conta pontos a favor dos conglomerados. Entretanto, não é uma vantagem totalmente assegurada: com o peso de legados tecnológicos e culturais, os desafios das instituições não foram completamente ultrapassados.

O aumento dos juros no Brasil e no mundo fechou a janela do mercado para o capital de risco, que na última década garantiu financiamento quase infinito ao crescimento das fintechs. Para as de maior porte, a possibilidade de vender ações em Bolsa evaporou: a oferta do Nubank, em dezembro de 2021, foi a última a sair.

Ao mesmo tempo, o setor financeiro conseguiu repassar ao custo do crédito o rápido aumento da taxa Selic, o que aumentou as margens dos empréstimos. O efeito colateral foi a maior inadimplência, que elevou as despesas com provisões e obrigou todos os concorrentes a colocarem o pé no freio. Aí começa outra vantagem dos bancos tradicionais: a diversificação de receitas.

“Um banco grande, que tem diferentes produtos e fontes de receitas, acaba sendo menos impactado porque tem mais flexibilidade de alocação e de estratégia”, diz Claudio Gallina, diretor sênior de instituições financeiras da agência de classificação de risco Fitch.

O especialista em serviços financeiros e pagamentos Gueitiro Matsuo Genso, que foi CEO do PicPay e tem passagens por BB e Previ, afirma que entre 2014 e 2021, o crescimento era o grande chamariz do mercado para empresas financeiras, o que atraiu capital para as fintechs. Desde o início do ano passado, a alta dos juros equilibrou as condições.

“Para vencer no digital, precisa ter um ecossistema completo, e os grandes bancos já têm. Também é preciso ser uma empresa de tecnologia”, diz ele. “Os incumbentes fizeram o dever de casa ao longo do tempo para trilhar esse caminho da tecnologia.” Um exemplo é a migração dos sistemas dos bancos para a nuvem, que no caso do Itaú, cuja previsão era a de chegar a metade do total na virada do ano.

Além disso, há pressões de curto prazo, como a da qualidade do crédito e a de uma potencial reforma tributária. A pauta, uma das primeiras que o governo Lula promete abraçar, pode reduzir em 15% os lucros do setor até 2024, segundo cálculo do BTG Pactual. “Estimamos que os grandes bancos sejam os mais impactados em ambos os cenários (para uma possível reforma)”, afirmou a casa.

Novas e velhas receitas

A diversificação dos grandes passa por reproduzir estratégias trazidas ao setor pelos bancos digitais. Neste ano, o Itaú criou um shopping virtual próprio, enveredando em seara que, no Brasil, foi inaugurada pelo Inter, e que também é percorrida por nomes como Next e o Banco do Brasil. A receita vem das comissões sobre cada venda, uma atividade não-bancária, mas que ajuda a “prender” o cliente.

Genso diz que essa estratégia deve se tornar mais comum, à medida que os bancos procuram compensar receitas em queda. Mesmo nas tarifas de conta corrente, que sofreram por conta do Pix tirando tarifas de transferências, porém, os maiores bancos do País ainda conseguem arrecadar cerca de R$ 30 bilhões ao ano, estima. “O consumidor médio não se sente seguro em ficar só no digital, afirma. “Ele aceita pagar uma tarifa que a princípio não entrega valor para ter uma conta em um banco de segurança.”

Nas fintechs, o momento é de busca por eficiência. “Em um mercado que pede rentabilidade maior no curto prazo, é importante provar que conseguimos executar o modelo de negócios”, disse ao Broadcast o CEO do Nubank, David Vélez, no início de dezembro. No terceiro trimestre, a fintech chegou ao equilíbrio financeiro pela primeira vez desde o IPO.

Com discurso semelhante, a Creditas, que ainda tem capital fechado, afirmou no balanço mais recente que continua executando um plano rumo à lucratividade, o que inclui aumentar os juros dos empréstimos. “Uma nova era está emergindo, e nosso setor de tecnologia vai rumo a fazer mais com menos e com prioridade nos fundamentos”, disse a fintech, que teve prejuízo de mais de R$ 800 milhões de janeiro a setembro.

Gallina, da Fitch, afirma que a tendência é de consolidação dos novos competidores. “Passamos por um momento muito similar, para as fintechs, ao dos bancos, no passado, com o Plano Real”, diz ele, lembrando que a queda da inflação fez muitas instituições beijarem a lona. Sobraram as que dependiam menos da indexação, e o setor ficou mais concentrado. Algo semelhante pode acontecer com os concorrentes da nova geração.

Fonte: Estadão

 

Gestores minimizam ruído com Bolsonaro e mantêm aposta em Banco do Brasil

Publicado em: 01/05/2019


Alguns dos principais gestores de fundos no Brasil já aprenderem a não levar os comentários do presidente Jair Bolsonaro ao pé da letra, um ceticismo que, por ora, tem beneficiado o maior banco da América Latina em ativos: Banco do Brasil (BBAS3).

Na segunda-feira, o apelo de Bolsonaro para que o Banco do Brasil reduza as taxas de juros para o setor agrícola elevou a preocupação sobre possível interferência política e trouxe algum nível de desconforto entre investidores. As ações do banco chegaram a reverter os ganhos após as declarações do presidente e encerraram o dia perto da estabilidade, a R$ 49,37.

“Valuation e fundamentos ainda dominam”, disse Leonardo Rufino, gestor de portfólio da Pacifico Gestão de Recursos. “Cada fala dessa é uma oportunidade para o mercado lembrar que empresa estatal é uma aposta mais arriscada, mas a ação ainda está barata,” disse. As ações do Banco do Brasil estão sendo negociadas a 8,4 vezes o lucro estimado, contra 9,5 vezes para as ações ordinárias da Banco Bradesco, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

De acordo com João Braga, da XP Asset Management, o Banco do Brasil deve se beneficiar da recuperação esperada da economia brasileira, assim como a potencial venda de ativos do banco. “A fala de Bolsonaro não soou como imposição e eu a vejo com bem menos preocupação”, disse Braga. “Se a ação caísse muito por causa disso, eu compraria.”

O Banco do Brasil subiu 16% desde a eleição de Jair Bolsonaro em outubro passado, com o papel transformando-se em um “queridinho” dos investidores, diante das expectativas de lucro maior e mais vendas de ativos. O presidente do banco, Rubem Novaes, já disse que ativos que não tenham sinergia com operações do banco serão “desinvestidos”.

Greg Lesko, gestor da Deltec Asset Management, em Nova York, atualmente não tem exposição às ações do Banco do Brasil, já que prefere pagar um prêmio a seus pares privados, especialmente ao Bradesco (BBDC3;BBDC4), para evitar maior risco político. Ainda assim, Lesko monitora qualquer possível deterioração nas ações do banco. “Minha esperança é que isso seja barulho e, se virmos uma fraqueza significativa, posso procurar acrescentar” o papel, disse Lesko.

Fonte: Infomoney

Bancos públicos na mira do governo e do mercado, o que significa menos crédito e investimento

Publicado em: 13/04/2017


São Paulo – Setor de fomento de políticas públicas, investimento e crédito, os bancos públicos entram no foco do governo Temer como alvo preferencial e parte de uma política de “desmonte” do Estado, avaliam participantes de seminário realizado hoje (10) pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Ao lado das multinacionais, os banqueiros e os chamados rentistas foram os principais financiadores do golpe, diz o economista João Sicsú, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apontando um projeto de transformação do Estado brasileiro “em balcão de negócios”, em ofensiva ao que ele chama de “rede de contenção de defesa” social, formado por legislação trabalhista, Previdência Social – e as instituições financeiras do setor público, responsáveis por 56% do crédito oferecido no país.

“Bancos públicos não servem só a seus donos, a seus acionistas. Também visam ao bem-estar social, vão além da busca de lucros. São facilitadores das políticas econômicas e sociais do governo”, diz Sicsú, um dos autores de uma cartilha sobre o tema, lançada durante o seminário, pelo Sindicato dos Bancários. A cartilha foi elaborada para defender o papel social do setor, diz a presidenta da entidade, Juvandia Moreira, reunindo argumentos “sobre verdades e mentiras que a mídia difunde por aí, visando justificar a privatização desses bancos”.

Segundo o presidente da CUT, Vagner Freitas, um banco público deve ajudar a financiar um projeto nacional de desenvolvimento. Nesse sentido, afirma, o país ainda não tem bancos públicos, mas instituições privadas e estatais, embora tenha havido algum avanço particularmente durante o governo Lula. “Tanto o Banco do Brasil como Caixa não conseguiram cumprir aquilo que a gente esperava deles. O BNDES não é mais banco de fomento”, acrescentou, também incluindo os bancos privados entre os principais apoiadores do impeachment de Dilma Rousseff . “Vocês acham que Bradesco, Itaú, Santander querem disputar só metade do mercado? Querem o mercado todo.”

De acordo com a cartilha, BB e Caixa já passam por uma “privatização disfarçada” e tendem, cada vez mais, a se assemelhar às instituições privadas. O documento enumera possíveis consequências negativas em relação ao financiamento estudantil, para a agricultura familiar e para a moradia. Coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos enfatizou esse aspecto, ao destacar a importância do banco público na busca de “uma economia soberana para que o Estado tenha ferramentas para segurar a ‘mão invisível’ do mercado”.

Estado e moradia popular
No caso da habitação, diz Boulos, os bancos públicos são a condições para a existência de uma política voltada para a moradia popular. Com base em dados do IBGE, ele diz que o déficit habitacional do país atinge 6,5 milhões de famílias ou 20 milhões de pessoas, sendo 84% com renda inferior a três salários mínimos. “Esse setor não passa nem na porta (do banco privado). A enorme maioria das pessoas que não têm casa não têm condições de obter esse crédito”, diz o líder do MTST. “Ou o Estado entra pesado ou não tem moradia popular neste país.”

Ele cita o exemplo do Minha Casa, Minha Vida, “programa com muitos limites, contradições e problemas”, mas com a qualidade do subsídio, que na faixa 1 chega a 95% do valor do imóvel. “É inconcebível um plano privado oferecendo um financiamento dessa natureza”, observa Boulos. Segundo o ativista, desde o impeachment o governo não ofereceu contratações justamente na faixa 1, o que só foi retomado depois de uma longa ocupação dos sem-teto diante do edifício da Presidência da República em São Paulo, na Avenida Paulista.

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, ressalta a importância do setor público para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que atingiu 2,2 milhões de estudantes em 2015, e manifestou preocupação com os rumos do serviço após o impeachment. “A influência dos rentistas e do capital financeiro sobre o governo é impressionante. Nem o governo FHC conseguiu tamanho desmonte.”

Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Antonio Alves Júnior diz que o Brasil é um dos “campeões mundiais” de empréstimo bancário, destacando o setor público. Mas o país enfrenta, segundo ele, uma “ideologia predominante que desqualifica tudo aquilo que é estatal”.

O setor financeiro também se mostra cada vez mais concentrado: desde 1994, o número dos bancos privados passou de 219 para 144 e o de públicos, de 31 para 14. “De 70% a 80% dos depósitos e empréstimos estão hoje concentrados em cinco bancos (Itaú, Bradesco, Santander, Caixa e BB)”, afirma Alves Junior, que também participou da elaboração da cartilha.

Ele lembra, por exemplo, que o BNDES passa agora por um processo de adoção de taxas “de mercado” para seus empréstimos, o que vai no sentido de enfraquecimento da estrutura dos bancos públicos. Essa nova política vem sendo chamada, eufemisticamente, de “modernização da remuneração”.

 

Fonte: Rede Brasil Atual