BB ameaça banir crédito a produtor rural que pedir recuperação judicial

Publicado em: 06/11/2025

O Banco do Brasil (BBAS3), maior financiador do agronegócio no país, ameaça suspender novos empréstimos a produtores que entrarem com pedido de recuperação judicial, em meio a uma onda de calotes nas regiões rurais.

“Eles não terão crédito hoje, amanhã nem nunca mais”, afirmou Felipe Prince, vice-presidente de controles internos e gestão de riscos, em entrevista. “A recuperação judicial é uma armadilha para o produtor — ele perde acesso ao crédito e não consegue plantar a próxima safra.”

O banco também vem adotando postura mais rígida nas negociações de dívida e maior cautela na concessão de crédito, exigindo pagamentos mais rápidos e garantias mais sólidas. A mudança ocorre após decisão judicial que permitiu a produtores individuais pedir proteção contra credores e após ajustes contábeis que levaram o banco a registrar, no segundo trimestre, o menor lucro em quase cinco anos.

Segundo dados do próprio banco, R$ 5,4 bilhões em empréstimos não estão sendo pagos devido a pedidos de recuperação judicial de 808 produtores rurais, num universo de 1 milhão de clientes e uma carteira de crédito para o setor agropecuário que somava R$ 404,9 bilhões em junho.

Prince, que trabalha no Banco do Brasil há mais de 25 anos, afirmou que o agronegócio passa por uma transformação profunda.

“Para se ter uma ideia da mudança de comportamento, 75% dos produtores inadimplentes estão nessa situação pela primeira vez”, disse.

Mesmo entre os que não buscaram proteção judicial, o atraso nos pagamentos cresceu. A taxa de inadimplência da carteira rural subiu 2,2 pontos percentuais em um ano, chegando a 3,5% em junho.

O aumento das provisões para perdas com crédito reduziu o retorno sobre o patrimônio líquido do banco de 21,6% para 8,4% no mesmo período. A queda no lucro do Banco do Brasil é um dos sinais mais claros das dificuldades enfrentadas por produtores e instituições financeiras em um dos maiores polos agrícolas do mundo.

Os custos maiores do crédito rural deixaram o Banco do Brasil com o pior desempenho entre os grandes bancos do país no primeiro semestre. Analistas esperam que essa diferença se mantenha.

“O Banco do Brasil deve ser o último a divulgar resultados e provavelmente o mais fraco do grupo”, escreveu Pedro Leduc, analista do Itaú BBA, em relatório sobre o terceiro trimestre. O balanço está previsto para 12 de novembro.

Gustavo Schroden, analista do Citigroup, afirmou em nota que o terceiro trimestre deve ser o pior do ano para o Banco do Brasil, diante da continuidade dos desafios no agronegócio.

Um programa de renegociação de dívidas lançado pelo governo ainda não deve ter impacto, já que o banco começou a oferecê-lo apenas no fim de outubro. Mesmo assim, eventuais sinais de adesão dos clientes serão um indicador relevante, segundo Schroden.

Mudança de relação

Produtores costumavam priorizar o pagamento ao Banco do Brasil, que responde por cerca de 60% do crédito rural no país — parte com juros subsidiados — e era visto como um parceiro de longo prazo.

“Fomos sempre o banco que voltava, negociava, prorrogava vencimentos e não cortava linhas de crédito”, disse Prince.

Quando não havia acordo, o risco era a perda da terra, já que muitos empréstimos eram garantidos por hipoteca.

O fortalecimento do agronegócio, especialmente durante e após a pandemia, atraiu novos financiadores que antes não atuavam no setor, como os Fiagros — fundos que investem em títulos lastreados em recebíveis do campo.

“Entrou mais crédito, mas foi justamente esse crédito que superalavancou o segmento”, afirmou Prince.

Depois vieram a queda nos preços das commodities, a alta dos juros e o aumento dos desastres climáticos. Com isso, os calotes cresceram e os Fiagros passaram a cobrar antecipação dos pagamentos, segundo o executivo.

Muitos produtores passaram a priorizar os títulos detidos por Fiagros ou recorreram à recuperação judicial, o que impede o Banco do Brasil de tomar as terras dadas em garantia.

“Há uma mudança de comportamento”, disse Prince. “E essa mudança nos obriga a nos adaptar a uma nova realidade.”

O banco agora exige uma camada extra de segurança para garantir que as terras dadas como garantia não sejam protegidas em processos de recuperação judicial. A instituição substituiu as hipotecas pela alienação fiduciária, modalidade em que o credor mantém a propriedade do bem até o pagamento integral da dívida.

Esse tipo de garantia encarece o crédito, elevando o custo para os produtores.

As mudanças também afetam o ritmo de liberação dos financiamentos, segundo relatório de analistas do JPMorgan liderado por Yuri Fernandes.

“Os novos desembolsos estão ocorrendo, mas de forma mais lenta, porque há exigência de mais garantias, o que demanda mais tempo”, escreveram.

O Banco do Brasil também reduziu o prazo para entrar em contato com o produtor após atraso de pagamento, de 30 para 5 dias. E encurtou o período antes de recorrer à Justiça, de 90 a 180 dias para 30 dias.

A instituição passou ainda a usar inteligência artificial para classificar clientes segundo sua capacidade de pagamento, mapeando onde pode ampliar crédito, renegociar dívidas ou suspender empréstimos.

As iniciativas de renegociação para evitar calotes também aumentaram.

“Não existe dívida que não possa ser negociada conosco”, afirmou Prince. “O produtor tem toda nossa disposição para conversar, não importa a complexidade da situação — exceto se ele pedir recuperação judicial.”

Fonte: Infomoney

BB lança campanha para agro evitar pedidos de recuperação judicial

Publicado em: 27/09/2024

O Banco do Brasil, segundo maior banco do país em ativos totais, iniciou em junho uma campanha para evitar pedidos de recuperação judicial, disse um executivo sênior nesta quarta-feira (25 de setembro), sob a leitura de que o processo, que ganhou impulso recente, é danoso para o setor.

Na semana passada, a varejista de insumos agrícolas e serviços AgroGalaxy protocolou um pedido de recuperação judicial, dando sequência a uma onda de pedidos que tem sido vista no país num cenário de preços de commodities em queda e ocorrência de eventos climáticos extremos, como inundações e secas sem precedentes.

“O processo de recuperação judicial pra produtores rurais não é saudável”, disse o vice-presidente de controles internos e gestão de riscos do BB, Felipe Prince. “Ele coloca em risco o patrimônio dos produtores, que são as terras, e ele fecha para eles a possibilidade de novas concessões de crédito. E o agronegócio é cíclico, você precisa de recursos para iniciar uma safra.”

Líder em crédito para o agronegócio no Brasil, com um “market share” de 50% entre produtores rurais, o Banco do Brasil tem engajado superintendentes nas principais praças produtoras em um “processo de conscientização” para “mostrar os malefícios e como isso pode, inclusive, criar uma ruptura na atividade econômica do produtor rural”.

Prince destacou como alternativa o auxílio a clientes por meio de medidas como extensão de dívidas e gestão de crédito. “Alguns produtores têm tomado algumas medidas, no meu modo de entender, irracionais e recorrido a esse processo”, afirmou o executivo, atribuindo parte das decisões à “advocacia predatória e processo de blindagem de patrimônio.”

Apesar de ter reconhecido a alta recente nos pedidos de recuperação judicial, Prince pontuou que o volume ainda é muito pequeno: dentre os mais de 700 mil produtores que compõem a carteira do banco, 150 estão em recuperação judicial.

De acordo com a Serasa, 321 empresas de produtos e serviços que se relacionam diretamente com o agronegócio pediram recuperação judicial no ano passado, alta de 82% sobre um ano antes. No primeiro trimestre deste ano foram mais 82 pedidos, mostraram dados divulgados pela empresa neste mês.

Em relação ao impacto dos eventos climáticos extremos, Prince pontuou que o banco de dados robusto do BB, com informações de safras agrícolas desde 1960, tem sido utilizado como insumo para predição de cenários futuros, aumentando a percepção sobre os riscos e impelindo a criação de alternativas para tentar mitigá-los.

Essa mesma base tem sido utilizada, em associação com inteligência artificialf e técnicas de georreferenciamento, para enxergar se produtores estão eventualmente invadindo áreas de produção.

“Em isso acontecendo e a gente pegando aqui no nosso monitoramento, a gente inclusive vence a dívida imediatamente, desclassifica do crédito rural, e por aí vai”, disse Prince.

A carteira de crédito sustentável do banco tem R$ 360 bilhões, sendo R$ 155 bilhões em agricultura sustentável. A meta é levar esses números a R$ 500 bilhões e R$ 200 bilhões, respectivamente, até 2030.

Foco ESG

Falando à Reuters por telefone de Nova York, onde o banco organizou nesta semana um evento para investidores em meio à Climate Week, Prince disse que a percepção generalizada é de que o Brasil está bem posicionado para se colocar como protagonista em sustentabilidade, sendo que o BB busca se firmar como player decisivo no mercado de crédito de carbono.

Na terça-feira, o banco anunciou que havia captado US$ 800 milhões junto ao JPMorgan Chase Bank, Standard Chartered Bank, HSBC Bank e Crédit Agricole para financiar pequenos e médios produtores que usam métodos de agricultura de baixo carbono.

Após a emissão de US$ 750 milhões em títulos sustentáveis no mercado internacional em março deste ano, a terceira associada a compromissos ambientais, sociais e de governança (ESG) do banco, Prince também afirmou que o BB segue atento às oportunidades, embora tenha afastado a possibilidade de nova operação este ano.

“Havendo oportunidade (mais tarde), a gente capta. Então isso é perene”, ele disse.

Fonte: CNN Brasil

Saraiva adia reunião sobre plano de recuperação após pressão do BB

Publicado em: 17/02/2022


Os credores da Saraiva, que está em recuperação judicial, toparam adiar novamente a assembleia geral que vai votar um aditivo ao plano de recuperação da empresa. A nova data, aprovada por 83% dos credores, será em 7 de março.

A rede de livrarias, que já foi a maior do país, não consegue aprovar um novo plano de recuperação judicial porque não chega a um acordo com o Banco do Brasil, que detém quase um quinto de uma dívida de cerca de R$ 700 milhões. Sem a concordância do BB, são grandes as chances de o plano não passar e a rede se aproximar da falência.

Segundo interlocutores, as duas opções postas na mesa pela Saraiva desagradam ao BB. O plano prevê que uma das alternativas para os credores é aceitar 80% de deságio e receber o restante em ações da holding da Saraiva — algo que estaria fora de cogitação para o banco, de acordo com advogados que acompanham o processo.

A outra opção seria abrir mão do deságio, mas receber em suaves prestações até 2048 — e amargar cinco anos de carência sem ver nenhum centavo.

A alternativa mais atrativa para o Banco do Brasil no momento, segundo pessoas familiarizadas com o tema, é se desfazer dos créditos que detém da Saraiva. O banco estatal estaria negociando transferir os créditos a outra instituição financeira.

Procurado, o banco diz que “continua procurando uma alternativa junto à empresa e aos demais credores, mas não pode comentar sobre os andamentos das negociações”.

A data da nova assembleia é 7 de março, o que ficaria fora do prazo estipulado pela lei de falências. Com isso, vai depender do juiz Paulo Furtado, da 2ª Vara de Falências de São Paulo, decidir se a assembleia pode ser realizada ou se o adiamento é irregular.

Fonte: Portal IG

 

BB expressa preocupação com eventual recuperação judicial da Odebrecht

Publicado em: 06/06/2019


O presidente do Banco do Brasil (BB), Rubem Novaes, reconheceu haver preocupação da instituição com um possível pedido de recuperação judicial da Odebrecht. Segundo Novaes, a dívida da companhia com o banco ultrapassa R$ 9 bilhões.

“Há preocupação, sim, lógico que há preocupação. Os bancos têm um crédito grande [com a Odebrecht], mas felizmente estão bens provisionados, em condições de enfrentar qualquer situação”, disse.

O presidente do BB falou aos jornalistas após reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Também participaram da conversa o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, e o presidente da Caixa, Pedro Guimarães.

Questionado sobre os pedidos periódicos de Guedes para “despedalar” os bancos públicos, Novaes afirma que isso está acontecendo aos poucos, na medida do possível. “Estamos agora na operação [venda das participações] do IRB e da Neoenergia, batendo a porta aí”, completou.

Após a reunião com Guedes, Levy disse que o BNDES pretende ajudar principalmente em investimentos de infraestrutura. “Está cheio de coisa para a gente fazer, no gás, no saneamento. É ótimo que o Congresso está acelerando a votação do [novo marco legal do] saneamento, trazer o capital privado e melhorar a vida de milhões de pessoas”.

Levy também foi questionado sobre se o BNDES devolverá mais dinheiro ao Tesouro, além do previsto em cronograma. O presidente do banco de fomento respondeu que devolverão “tudo o que puder”.

Fonte: Valor Econômico