Sob início de intervenção fiscal, a Cassi virou assunto da mídia que defende a privatização irrestrita da saúde, além de estar na mira dos privatistas da atual diretoria do Banco do Brasil. Segundo o Broadcast do Estadão, a venda da carteira da caixa de assistência, maior plano de autogestão do país, com cerca de 400 mil assistidos, “é uma opção considerada internamente no BB”. Caso isso ocorra, o público com salário maior que R$ 6 mil seria jogado para os planos de saúde privados, aumentando suas receitas e trazendo prejuízo aos associados da Cassi.
A Cassi já está sendo acompanhada pela diretora fiscal nomeada pela ANS, Maria Socorro de Oliveira Barbosa, agente de mercado alinhada ideologicamente com o atual governo e com um histórico de liquidação de planos de saúde no currículo. Maria Socorro tem 90 dias para reportar a situação da Cassi à reguladora. A partir daí, a caixa de assistência tem 30 dias para apresentar seu plano de resgate.
A diretora fiscal terá o salário pago pela Cassi enquanto durar a intervenção (prevista minimamente por 6 meses, porém prorrogável até 24 meses). Sem poderes de gestão (apenas de auditoria), ela pode indicar, ao fim do regime, a alienação ou a liquidação da operadora.
“Se os indicados do mercado na atual diretoria do BB, verdadeiros urubus, miram a privatização do banco, o que dirá da Cassi? Não à toa que o governo, por meio da ANS, decidiu pela intervenção na caixa de assistência e colocou uma agente do mercado alinhada com os privatistas do atual governo para a direção fiscal. O objetivo é claro e alinhado com a notícia veiculada pelo Estadão: entregar a saúde dos funcionários do BB aos planos de saúde privados”, critica João Fukunaga, funcionário do BB e secretário de Assuntos Jurídicos do Sindicato.
“Este é um momento de unidade, no qual o futuro da Cassi e as propostas de recuperação financeira devem ser debatidos e negociados entre o patrocinador (Banco do Brasil) da Cassi e os associados. Não pode haver mais decisões unilaterais apoiadas por parte dos eleitos que prejudiquem e onerem somente os associados”, acrescenta o dirigente.
Dados apresentados em reunião
Em reunião no dia 24 de julho, foram apresentados os balancetes financeiros mais recentes e as curvas de evolução de diversos indicadores, entre eles o índice de solvência e de patrimônio líquido. A diretoria da Cassi informou ainda sobre as medidas tomadas que, segundo eles, melhoraram o índice de eficiência, mas que ainda se mostram insuficientes para reverter o patrimônio líquido negativo ou uma melhoria significativa do índice de solvência.
Entre elas estão a melhoria em despesas administrativas e assistenciais, bem como o aumento da coparticipação e o congelamento de salários dos funcionários da Cassi.
Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB e representante da Contraf-CUT nas negociações com o BB e a Cassi, ressaltou que é contra o aumento da coparticipação. “É uma medida que pune quem mais precisa e não resolve o problema financeiro da Cassi”, disse.
Para Nascimento, a melhoria dos números da Cassi é positiva, mas insuficiente para garantir a perenidade do plano. “Vamos continuar defendendo a Cassi para os funcionários e aposentados do Banco do Brasil, mas é preocupante, porque uma nova proposta, se negociada, terá que atender o que a ANS espera para a garantia do plano”, disse.
A diretoria da Cassi também prestou esclarecimentos sobre a direção fiscal e o escopo do trabalho da ANS dentro da Cassi até o momento.
Reabertura das negociações com o BB
A Contraf-CUT cobrou mais intensidade da diretoria da Cassi na cobrança ao Banco do Brasil para a reabertura do processo de negociação, pedido apoiado pelas demais entidades.
Wagner também pediu esclarecimentos sobre matéria veiculada sobre possível venda da carteira da Cassi, lembrou que a entidade tem gestão paritária e seu estatuto prevê consultas ao corpo social para temas desta relevância.
A Cassi, no entanto, informou que, não havendo medida que garanta a sustentabilidade e a ANS entenda que a alienação da carteira ou a liquidação seja a medida administrativa a ser adotada, a mesma não passará por consulta aos associados.
Para Wagner, é estranha a movimentação e interesse da imprensa e do mercado financeiro na intervenção da ANS. “Precisamos conscientizar os associados de que a falta de proposta agrava a situação e a perda da Cassi por venda da carteira ou liquidação deixa de ser algo remoto. Por isso, continuaremos cobrando a reabertura das negociações com o Banco do Brasil”.
A Cassi estava com um patrimônio negativo de R$ 109 milhões em dezembro de 2018 e apresentava insuficiência de margem de solvência de R$ 810 milhões. Em 2019, a caixa de assistência vem apresentando resultados positivos, mas permanece em situação econômico-financeira crítica, com números insuficientes para recomposição do patrimônio nos níveis exigidos pelo órgão regulador.
Fonte: Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região