A divulgação dos balanços do segundo trimestre de 2023 pelos grandes bancos brasileiros reforçou a visão positiva dos analistas para o desempenho das ações do Itaú e do BB (Banco do Brasil) na Bolsa de Valores. A dupla entregou os melhores resultados do setor, com crescimento saudável da carteira de crédito e controle da inadimplência, o que abre espaço para que os papéis sigam na recente trajetória positiva —no ano, até 11 de agosto, Itaú acumula alta de 13%, enquanto BB sobe 42,4%.
Bradesco e Santander, por outro lado, mostraram números negativos e ainda mais pressionados, com a atuação agressiva no mercado quando os juros estavam nas mínimas se refletindo agora em maior necessidade de reservas para se proteger contra calotes, o que pressiona a lucratividade das operações. Nesse cenário, as ações do Bradesco têm alta de 6,9% em 2023 e as do Santander sobem 0,11%. O Ibovespa avança 7,6% no período.
José Eduardo Daronco, analista da Suno, afirma que o ritmo dos últimos meses quanto ao desempenho das ações dos grandes bancos deve se manter no restante do ano, com performances mais positivas de Itaú e BB, e mais fracas para Bradesco e Santander.
Segundo ele, o BB tem se destacado principalmente pela atuação relevante no agronegócio, que tem sido o maior responsável pelo crescimento da economia, e também pela base relevante de clientes formada por servidores públicos. “Neste ano, os funcionários públicos federais receberam um aumento salarial, o que aumenta os pedidos de empréstimos e financiamentos”, diz Daronco.
Chefe de análise de ações da Órama, Phil Soares pondera que, apesar do forte resultado do banco público, o risco político intrínseco ao ativo, por estar sob controle do governo, o faz preferir as ações do Itaú dentro do setor.
Sócio e analista de ações da Nord, Guilherme Tiglia acrescenta que, embora não tenha havido até aqui indícios claros de interferência política do governo Lula, o risco por se tratar de uma estatal sempre estará presente no caso do BB. Por isso, apesar dos bons resultados do banco público, a preferência do analista da Nord também recai sobre o Itaú.
Considerando os números apresentados pelo maior banco privado do país, Soares estima que as ações têm potencial de se valorizar entre 20% e 30% ao longo dos próximos 12 meses. “É um patamar bastante bom de valorização, em especial se levarmos em conta que o setor financeiro já está bem consolidado e não tem grandes pernadas de crescimento”, afirma o especialista.
Daronco acrescenta que o Itaú tem uma carteira mais voltada para um público de alta renda, de modo que o aumento da inadimplência não tem impactado tanto o banco quanto os pares privados. “Além disso, o Itaú possui uma maior exposição a outros países, principalmente o Chile, que tem se traduzido em bons resultados”.
Em sentido totalmente distinto, prossegue o analista da Suno, Bradesco e Santander possuem uma carteira de crédito mais arrojada, focada nas classes C,D,E, e, após uma gestão mais agressiva na concessão de crédito durante a pandemia, acabaram sendo muito mais afetados pelo momento de alta da inadimplência.
Eduardo Siqueira, analista da Guide, afirma que Bradesco e Santander aumentaram nos anos recentes a oferta de crédito de “maneira desenfreada”, sem o devido controle de risco, em linhas mais arriscadas como cartões, empréstimo pessoal e cheque especial. “Isso fez com que os dois bancos tivessem que aumentar muito o provisionamento [reservas contra calotes]”, afirma Siqueira. Ele acrescenta que agora a postura da dupla é de uma seletividade maior nas concessões, mas ressalta que ainda deve demorar alguns meses até que a carteira seja renovada com créditos de melhor qualidade. “A gente prefere entrar em bancos que estão em momentos operacionais fortes”, diz o analista da Guide, citando Itaú e BB como os preferidos.
Analista da Levante, Matheus Nascimento afirma que a recomendação é evitar as ações de Bradesco e Santander por enquanto, tendo em vista que o nível de rentabilidade de ambos, que já ficou mais próximo de 20%, hoje oscila ao redor de 11%.
Embora a expectativa do mercado seja de uma melhora do indicador conforme os atrasos comecem a recuar, essa melhora deve vir ainda um pouco mais à frente, em meados de 2024, prevê Nascimento, que também tem uma visão mais positiva para Itaú e BB.
Itaú e BB conseguiram navegar melhor o ambiente macroeconômico dos últimos anos, em especial no período em que a pressão inflacionária corroeu o poder de compra da população, com maior seletividade na concessão de crédito e aumento antecipado dos provisionamentos, afirma o analista da Levante. Ele estima um preço justo em torno de R$ 33 para Itaú e de R$ 61 para BB, o que embute um potencial de valorização de 20% e 28%, respectivamente.
Em linha com os pares, Milton Rabelo, analista da VG Research, diz que, para o segundo semestre de 2023, Banco do Brasil e Itaú devem continuar com dinâmicas mais positivas. Porém, para um horizonte de médio e longo prazo, diante da transição do ciclo monetário, ele avalia que Santander e Bradesco podem surpreender positivamente, com a queda dos juros impactando positivamente a inadimplência e o ritmo de crescimento das carteiras de crédito.
Soares, da Órama, também vê espaço para uma recuperação de Santander e Bradesco um pouco mais à frente. Para o investidor que tem estômago para aguentar uma eventual deterioração adicional das ações no curto prazo, para se aproveitar posteriormente de uma possível retomada, o chefe de análise diz que prefere a aposta em Bradesco, por considerar que os papéis do banco negociam com um desconto maior em relação ao seu potencial do que o Santander.
Soares diz que o banco da Cidade de Deus, em Osasco, nunca negociou a níveis tão descontados como os atuais. “O momento é bastante favorável para investir nas ações do Bradesco, se o investidor acredita que o banco vai realmente se recuperar.”
Fonte: Folha de S.Paulo