Bancos devem investir R$ 47,4 bilhões em tecnologia no Brasil

Publicado em: 25/04/2024

Em um movimento de mudança no setor de inovação e digitalização, os bancos brasileiros projetaram um investimento de R$ 47,4 bilhões em tecnologia para 2024.

O montante, divulgado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em sua Pesquisa de Tecnologia Bancária 2024, representa um aumento de 21% em relação aos R$ 39 bilhões investidos em 2023 e mais do que o dobro do valor aplicado em 2015 (R$ 19,1 bilhões).

A pesquisa, realizada pela Deloitte, aponta também que a segurança cibernética será a principal área de foco dos investimentos, com 100% dos bancos entrevistados destinando recursos para fortalecer sua infraestrutura e implementar ferramentas especializadas na detecção e resposta a ameaças.

“A indústria brasileira é protagonista do que há de mais inovador em tecnologia bancária e os investimentos feitos pelos bancos ao longo dos anos comprovam o empenho que as instituições têm em trazer anualmente novidades, experiência personalizada para os nossos clientes e 100% de segurança nas operações financeiras do dia a dia”, explica Rodrigo Mulinari, diretor responsável pela Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária.

A experiência do cliente também se destaca como prioridade, com 83% das instituições financeiras planejando investir em soluções que visam aprimorar a jornada do cliente, como chatbots, inteligência artificial e personalização de produtos e serviços.

A busca por inovações tecnológicas também ganha força, com 71% dos bancos sinalizando investimentos em áreas como cloud computing, inteligência artificial, blockchain e computação quântica. Além disso, a moeda digital do Banco Central, o Drex, surge como um tema de interesse para o setor, com 56% dos entrevistados prevendo iniciativas relacionadas à nova tecnologia.

“A pandemia acelerou o processo de digitalização da tecnologia bancária, juntamente com o nascimento do Pix, a implementação do Open Finance e, no momento, a chegada do Drex, resultando em uma maior oferta de produtos e serviços para nosso cliente. Tudo isto reflete nestas prioridades dos bancos para explorar novos formatos de atendimento e busca por excelência operacional”, reforça Mulinari.

Fonte: E-Investidor

Drex poderá melhorar distribuição de auxílios e verbas do governo, diz BB

Publicado em: 09/11/2023

Conforme o desenvolvimento do Drex avança, os bancos brasileiros têm se esforçado cada vez mais para pensar em possíveis usos de caso para a moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês). No caso do Banco do Brasil, um dos focos de estudo no momento envolve a aplicação da versão digital do real para aumentar a eficiência de operações envolvendo verbas públicas.

É o que explicam Rodrigo Mulinari, CTO do Banco do Brasil, e Julierme de Souza, gerente-executivo de TI do banco, em uma entrevista exclusiva para a EXAME como parte do Especial: Real Digital. Nela, eles destacaram os esforços do banco público para se adaptar à expansão da tecnologia blockchain que a CBDC deverá gerar, com todas as consequências esperadas e imprevisíveis.

Por outro lado, eles pontuam que ainda é difícil pensar em casos de uso mais concretos para o projeto, em especial devido à possibilidade de muitas aplicações demandarem alterações nas atuais leis do Brasil para viabilizar a aplicação da CBDC, suas tecnologias e da nova plataforma que o Banco Central pretende criar.

Casos de uso do Drex

Segundo Mulinari, o sistema financeiro brasileiro tem vivido nos últimos anos um movimento de digitalização que foi acelerado pela pandemia. O Drex se insere nesse processo como um próximo passo a partir da tokenização, que segundo o CTO é a “evolução da digitalização. A gente vai poder tokenizar qualquer ativo e então negociá-lo”.

Para o executivo, esse processo deve resultar em uma maior democratização de diferentes produtos que são oferecidos atualmente no mercado graças a funcionalidades como o fracionamento de ativos e a implementação de garantias por contratos inteligentes. Com isso, as transferências de bens e ativos deverão ser facilitados, assim como “a vida do cidadão”.

“O Pix se propôs a tornar mais eficiente, fácil e padronizada a intermediação financeira. O Drex tem a mesma ideia, em especial para trocas mais complexas, como compra e venda de bens, que envolvem vários bens na cadeia, envio e programabilidade do dinheiro, que é um potencial muito importante. É algo que vai revolucionar, porque tem muitas opções a partir disso”, projeta Mulinari.

A expectativa, explica, é de uma popularização da tokenização e de todo do seu potencial, abrangendo tanto os produtos bancários tradicionais que são oferecidos pelo Banco do Brasil e outras instituições quanto algumas operações mais específicas do BB. É o caso da “entrega de benefícios e outras soluções governamentais”.

Como exemplo, ele cita o repasse de verbas governamentais: “Hoje, tem uma escola que precisa receber um valor, aí abre conta, designa responsável, cria ata para registrar isso, é todo um trâmite para isso e de prestação de contas. Com o Drex você poderia programar isso, definir quem tem direito, a região em que vai usar, os tipos de empresas em que vai usar e lastrear o dinheiro para o repasse”.

Já Julierme de Souza avalia que o grande avanço da CBDC deverá ser a popularização do uso da tokenização: “No futuro, vai ter uma gama de ativos e bens representados em uma rede digital na forma de ativo digital em um token, essa distribuição vai atingir um número maior de clientes. Porque vai poder fracionar ativos que muitas vezes tem um valor de face maior do que a pessoa consegue arcar”.

Ele destaca ainda as operações de compra e venda, explicando que “hoje, tem uma série e participantes na operação que tornam o processo um pouco demorado e ineficiente, e portanto caro. Quando refina os processos, diminui a participar de agentes, você barateia o custo e ganha o cliente na outra ponta”.

Em resumo, ele acredita que o Drex dará “acesso a uma operação de forma mais simples e baratas, produtos que antes eram inacessíveis. E produtos que devem nascer com a tokenização”. “No futuro, pode ter recursos transitando entre os clientes com destinação própria para uso, como um benefício sendo destinado e a utilização ser conforme o benefício regulamenta, como usar apenas para alimentação”.

Entretanto, Mulinari aponta que, apesar do potencial muito grande, o projeto também exige um “arcabouço regulatório que precisa andar em paralelo para que a gente possa usufruir de tudo”. Mesmo assim, ele projeta que “a simplificação de pagamentos aliada ao Pix vai ser imediata. Os demais [benefícios] vão ser percebidos conforme a regulação também ande, porque envolve vários entes, toda uma regulamentação por trás”.

Piloto e desafios

Na avaliação do CTO do Banco do Brasil, o estágio atual do piloto do Drex – em que o Banco do Brasil participa – é de “validação do ambiente, do arcabouço tecnológico que vai suportar o Drex. É o grande desafio e no que mais está envolvido. A combinação de segurança e privacidade é a maior questão, o maior desafio desse processo”.

Quanto aos próximos passos, ele diz que o processo deverá ser semelhante ao do Pix: “Simplificar o que está ligado à tecnologia, que hoje a gente demora para explicar, mas acredita que vai ser possível essa abstração, mostrar muito mais o que faz do que o como. Acredito que o cronograma é factível, até pelas primeiras entregas. E é algo que mexe com o mercado inteiro, então todo o mercado precisa estar preparado”.

Julierme pondera que a meta definida pelo Banco Central de lançar o Drex junto à população até o início de 2025 é “um desejo, daqui até lá tem muitos desafios a serem superados. Em um primeiro momento, talvez os clientes não vejam o Drex já em circulação, porque o foco inicial vai ser o atacado, o interbancário. No primeiro momento, será mais dos bancos que dos clientes. Mas com a regulação avançando, consegue estruturar negócios para opções de varejo de clientes”.

Ele avalia ainda que o projeto possui desafios que “vão desde a cadeia de tesouraria, em que os processos de reserva bancária vão ter que ser modificados, enxergando o Drex como ativo de movimentação, e o desafio de conectar o Drex aos negócios tradicionais. Mas o caminho da economia tokenizada é sem volta, é o futuro e está sendo uma realidade em todo mundo. O Brasil está caminhando para isso e os bancos tem que encarar”.

Fonte: Exame

Dois em cada três bancos devem perder mercado se não investirem em digitalização

Publicado em: 07/10/2021


Mais de dois terços (71%) dos executivos de bancos da América Latina e 67% do mundo todo acreditam que irão perder participação de mercado dentro de dois anos se não investirem em digitalização. É o que mostra um novo estudo da fintech de soluções bancárias na nuvem Mambu e da The Financial Times Focus (FT Focus).

O estudo Evolve or be extinct (“Evolua ou seja extinto”, em português) consultou mais de 500 executivos sêniores de bancos do mundo inteiro, inclusive do Brasil, para compreender suas percepções do setor bancário atualmente e para o futuro. Os resultados reforçam a urgência na modernização das ofertas dessas instituições.

Para 44% dos entrevistados da América Latina e 58% no mundo seus negócios podem acabar dentro dos próximos cinco ou dez anos a não ser que eles mudem radicalmente seus modelos de negócio.

Impactos da covid-19

Mais do que qualquer outra região no mundo, a América Latina utilizou a pandemia como um acelerador de mudanças permanentes. Outra oportunidade identificada foi o desenvolvimento de estratégias digitais e redefinição dos relacionamentos com os clientes por meio da inclusão financeira.

Em toda a região, 57% dos executivos veem o aumento da inclusão financeira como um dos maiores benefícios para a construção de um modelo bancário centrado no cliente por meio da transformação digital.

Oitenta e três por cento (83%) dos líderes do setor de bancos de varejo da América Latina e 81% dos respondentes mundiais concordam que substituir modelos mais conservadores por um propósito social progressivo é vital para suas estratégias de crescimento. Isso fica claro ao ver que termos como “lucro” e “aumento de ganhos” caiu na lista de prioridades dos bancos.

Progresso lento

O estudo destaca, porém, que as instituições financeiras estão ainda longe de chegar nos serviços realmente digitais. Menos da metade dos executivos entrevistados descreve as estratégias digitais dos seus bancos como “maduras” ou “avançadas”. Entre os entrevistados mundiais, 53% admitem estar correndo risco de perder as metas da transformação digital, índice um pouco menor entre latinos (45%).

“Está na hora de prestar atenção em quem lidera a corrida rumo a esta nova era. Estamos falando das fintechs, pequenos bancos de varejo recém-criados e outros players com abordagens inovadoras, que priorizam os serviços com propósito e experiências inéditas para seus clientes”, comenta Elliott Limb, diretor de comunicação da Mambu.

Segundo o diretor-geral da Mambu no Brasil, Sergio Costantini, embora os bancos de varejo tenham demorado para responder às mudanças no comportamento do consumidor provocadas pela pandemia, há um grupo de ‘evolucionistas digitais’ que contraria essa tendência. “Esses players podem ajudar quem está no final da fila da jornada digital a acelerar seu processo de transformação, principalmente devido ao alto índice de desbancarizados que ainda vemos no Brasil, indicando o caminho a seguir, além de comprovar o sucesso de uma abordagem centrada no cliente”, diz o executivo.

O futuro é das Big Techs

De acordo com 78% dos executivos da América Latina e 74% do mundo, gigantes da tecnologia como Amazon e Google serão os donos das maiores fatias de mercado do setor bancário em apenas cinco anos. O estudo conclui que esse é o momento ideal para os bancos fazerem investimentos significativos em suas ofertas digitais.

Fonte: Valor Investe

 

Pandemia acelera digitalização e bancos acirram briga por clientes

Publicado em: 15/07/2021


A pandemia de coronavírus acelerou a digitalização do setor bancário. Hoje, esse segmento da economia, extremamente concentrado no passado, vê o fortalecimento de novas empresas digitais e o acirramento na disputa de novos clientes.

Os bancos digitais surgiram com duas propostas básicas: não ter agências físicas e oferecer isenção de tarifas. Com sucessivos aportes de investidores ao longo dos últimos anos, passaram a valer bilhões de reais e angariaram milhões de clientes.

Nas últimas semanas, a disputa por esse mercado digital ficou mais evidente, com o movimento das principais companhias do setor. Elas receberam novos aportes, venderam fatias relevantes para bancos internacionais e captaram recursos no mercado financeiro com o objetivo de fortalecer seu caixa e ampliar a gama de serviços em busca de mais clientes. Relembre:

A empresa de investimentos do bilionário Warren Buffett, Berkshire Hathaway, comprou uma participação no Nubank;
O JP Morgan adquiriu uma fatia de 40% do C6 Bank; e
O Banco Inter fez uma captação de R$ 5,5 bilhões no mercado financeiro.

“A gente já vinha numa tendência de digitalização, mas ela foi muito acelerada nesse período de pandemia”, afirma Maxnaun Gutierrez, head de pessoa física e produtos do C6 Bank. Criado em 2019, o banco já tem 7 milhões de clientes e está presente em todos os municípios do país.

Um levantamento realizado pelo banco em parceria com o Ipec (instituto criado por ex-executivos do Ibope Inteligência) mostrou que, de fato, durante a pandemia houve uma aceleração nesse movimento de digitalização: 36% dos brasileiros disseram ter aberto algum tipo de conta em banco digital.

A pesquisa também revelou que 57% dos brasileiros com internet já têm conta digital.

“O digital deixou de ser uma necessidade e passou a ser vital nesse momento de pandemia”, afirma Gutierrez. “E há um outro elemento que fez essa aceleração da digitalização: o Auxílio Emergencial foi pago por meio de uma conta digital da Caixa. E, ao abrir essa conta, o cliente se abriu para o novo mundo.”

No ano passado, quase 68 milhões de pessoas receberam o Auxílio Emergencial.

Barreira de idade e a busca pelo lucro

Mas, se os números e as recentes movimentações do setor trazem um otimismo, os bancos digitais ainda têm dois desafios importantes:

Alcançar uma população mais idosa; e
Apresentar resultados financeiros robustos.

O levantamento do Ipec mostra, por exemplo, que, entre os jovens, as novas empresas do setor bancários já têm uma vantagem. Na população de 16 a 24 anos, 51% dizem utilizar o banco digital como o principal meio para transações e depósitos.

Mas, conforme a idade da população avança, menor é a entrada dos bancos digitais. Entre a população com 55 anos ou mais, a participação dos bancos digitais cai para 10%.

Os investidores também esperam pelos resultados positivos. Parte dos novos bancos digitais já gera caixa, mas ainda não lucra.

“Essas empresas têm um custo de aquisição de clientes muito alto. Elas precisam que os investidores acreditem no modelo de negócio porque, durante um tempo, não serão lucrativas. Seus recursos estão sendo canalizados para aumentar a base de clientes”, afirma Ricardo Rocha, professor do Insper.

“A partir do momento que essa base de clientes cresce, aí, sim, os bancos vão fazer todos os esforços para rentabilizar”, diz.

No Brasil, por exemplo, o Nubank gera caixa desde 2017, já tem uma base de 40 milhões de clientes, mas ainda não apresentou lucro. Mesmo assim, o banco segue com seu plano de expansão para México e Colômbia.

“Em nossas conversas (com os investidores), há um compartilhamento mútuo e alinhamento de que o projeto do Nubank é de longo prazo, com enormes oportunidades e espaços para ocuparmos no mercado latino-americano”, afirma Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank.

Em 2020, o C6 Bank registrou um prejuízo de R$ 606,9 milhões. Já o Inter reportou ganhos de R$ 20,8 milhões no primeiro trimestre e conseguiu reverter o prejuízo apurado no mesmo período de 2020.

Ampliação de serviços

Na tentativa de aumentar a base de clientes e, consequentemente, chegar num público mais velho, com mais recursos financeiros, as empresas digitais têm buscado ampliar a gama de serviços oferecidos para fazer frente aos bancos tradicionais.

O Nubank, por exemplo, comprou a Easynvest e reforçou a sua atuação no setor de investimentos – antes, o banco já havia feito o lançamento de três fundos multimercados.

“Especificamente em investimentos, conseguimos incrementar nossa prateleira e acelerar nossa entrada nesse mercado”, afirma Cristina. “Na Easynvest by Nubank, o investidor mais experiente já tem acesso a uma plataforma robusta de investimentos, com mais de 400 produtos.”

Com a venda de 40%, o C6 deve reforçar a sua estratégia de varejo. Nos Estados Unidos, o JP Morgan, com a marca Chase, oferece produtos bancários e tem mais de 55 milhões de clientes ativos.

“O que a gente deve ver ao longo do período é um avanço muito forte dessa agenda de investimento. O banco já tem uma conta global, que é internacional, em que o cliente tem uma série de benefícios de de uso da conta no exterior”, afirma Gutierrez, do C6 Bank. “Com a chegada do JP Morgan, a gente vai conseguir evoluir nessa plataforma global.”

O Inter já vê um aumento na venda de produtos de crédito, como consignado e imobiliário. O banco tem 12 milhões de clientes e 60% do crédito já é feito com correntistas dessa base.

“Na venda de diferentes produtos, a gente observava um crescimento muito forte nos serviços dentro da nossa base de clientes, mas menos em produtos de crédito imobiliário e consignado, por exemplo”, afirma Helena Lopes Caldeira, CFO do banco Inter. “E isso se dava em função dessa base mais jovem”.

“Hoje, conforme o banco vai crescendo, a gente consegue fazer um cross selling (venda cruzada) desses produtos que não são para clientes tão jovens”, diz Helena. “A gente foi capaz de escalar a base de clientes como muitos produtos oferecidos ao mesmo tempo. Hoje, o Inter tem uma plataforma completa que tem o dia a dia bancária, oferta de crédito, seguros e shopping.”

Embora os bancos digitais tenham colhido crescimento nos últimos anos, eles ainda estão distantes dos bancos tradicionais. Segundo dados do Banco Central, no primeiro trimestre, a base de clientes da Caixa era de 145,3 milhões, seguido por Bradesco (98,6 milhões), Itaú (82,9 milhões), Banco do Brasil (68,8 milhões) e Santander (51,3 milhões).

Fonte: Globo

 

Digitalização dos bancos demite e brasileiros ficam sem agências

Publicado em: 06/11/2019


Qual será o impacto da Indústria 4.0 no mundo de trabalho? As máquinas vão substituir os trabalhadores e trabalhadoras? Essas perguntas vêm sendo debatidas cada vez mais no Brasil e têm preocupado especialistas, representantes de sindicatos e movimentos sociais que defendem o emprego e a qualidade de vida da população. Só no setor bancário, a reestruturação provocada pelo uso de novas tecnologias aliada à reforma Trabalhista, já é responsável pela demissão de quase 64 mil trabalhadores e trabalhadores. A reportagem é do Portal CUT.

Os cincos maiores bancos do país aderiram fortemente à inteligência artificial e estão usando cada vez mais a tecnologia, principalmente via telefone celular, nos serviços oferecidos aos clientes.

“Eles querem cada vez mais tecnologias avançadas para pegarem um público mais jovem que é aquele público que pode perder a carteira, mas não pode perder o celular. É um público totalmente digital que não quer ir para o banco”, afirma a economista e técnica da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) da Contraf-CUT, Vivian Machado, que fez um estudo sobre a “Digitalização e a inteligência artificial no sistema financeiro: A indústria 4.0”.

O país tem hoje 242 milhões de celulares, o que representa mais de 1 por habitante, incluindo smartphones, computadores, notebooks e tablets, de acordo com a Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).

Essa disseminação de equipamentos tecnológicos que as instituições financeiras usam para prestar diversos tipos de serviços tem provocado uma onda de demissões de bancários, redução no número de agências eletrônicas e cada vez menos atendimento na boca do caixa. Os banqueiros chamam esse processo de reestruturação. Os trabalhadores sabem que o pesado investimento em novas tecnologias significa mais desemprego e os clientes também são prejudicados.

“A tendência mundial do mercado de trabalho será a informalidade”, disse Vivian durante apresentação do seu estudo na sede da CUT Nacional na terça-feira 29.

Para os bancos, o retorno é rápido e garantido

De acordo com o estudo, os bancos já gastaram R$ 97,7 bilhões desde 2014, especialmente em software (conjunto de componentes de um computador ou sistema de processamento de dados), mas o retorno é rápido e garantido. Só no ano passado, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa e Santander lucraram R$ 85,9 bilhões, um crescimento de 16,2% em relação a 2017.

Mesmo com o crescimento dos lucros, os bancos continuam com as demissões. De janeiro de 2013 à 2019, já foram 63.934 postos de trabalho fechados no setor, tanto por causa do avanço da digitalização quanto os efeitos da reforma Trabalhista do ilegítimo Michel Temer (MDB). Quando a nova lei entrou em vigor, a primeira providencia dos banqueiros foi anunciar Programas de Demissão Voluntária (PDVs) e outros tipos de contratos precários de trabalho legalizados pela reforma.

Menos agências, menos emprego, mais robôs e o povo?

A digitalização das operações bancárias também afetou com força a sobrevivência de agências e postos de atendimento – o negócio físico – de bancos como o Itaú, que fechou mais de 200 agências no primeiro semestre desse ano e deve continuar o processo de redução na rede de atendimento nos próximos meses. O Itaú também anunciou um PDV para funcionários com mais de 55 anos.

Para os bancos, o principal objetivo tem sido criar ferramentas que permitam ao cliente deixar de ir à agência, como é o caso da assistente digital, a BIA do Bradesco, que é a inteligência artificial que responde dúvidas dos clientes do banco. Para fazer propaganda do robô apelidado de BIA, o banco investiu milhões economizados com as demissões e colocou em horários nobres da televisão que custam fortunas.

A digitalização de todas as transações bancárias, como depósito, transferência, saque, caixa eletrônico reciclador – é o depósito inteligente em que o cliente não precisa de envelope, a máquina reconhece a nota que cai automaticamente na conta do cliente -, acabou até com os cargos de bancários que trabalhavam na retaguarda.

“Isso já tira aquele bancário que trabalhava na retaguarda, que conferia esses envelopes antes de efetivar esses depósitos, diz a economista, que cita a BIA do Bradesco como um exemplo de inteligência artificial que substitui o trabalho humano.

De acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em 2018, são que 40% das transações foram realizadas via celular e 20% via internet, ou seja, mais da metade delas (60%) foram realizadas pelos chamados “canais virtuais” dos bancos. Pelos caixas automáticos passaram 12% das operações. Isso teria modificado o papel das agências, que, no ano passado, foram responsáveis por apenas 5% dos negócios. Cabe ressaltar que a Febrabam não diz quantos essas transações representam em volume de $. Apenas são transações efetuadas.

Para que serve o banco?

O banco tem uma função social de contribuir com o desenvolvimento econômico do país, principalmente pela circulação da moeda e não apenas ser usado para gerar lucro, atuando somente em áreas ricas do país, com poucas agências e um quadro reduzido de trabalhadores, o que prejudica o atendimento à população, afirma a técnica da subseção do Dieese/CUT Nacional, Adriana Marcolino.

“Quando se concentram nas regiões mais ricas, deixam de cumprir sua função social”, diz a técnica que usa o Nordeste como exemplo de região desprezada pelo sistema financeiro. Os nordestinos são os brasileiros que menos têm conta bancária, diferente do Sul e Sudeste onde a chamada bancarização (pessoas com conta em banco) é maior, diz Adriana, que explica: “Os acessos aos serviços bancários são importantes para a economia local porque geram acesso a crédito e serviços de pagamento”.

Em 2017, segundo dados do Banco Central, mais de 140 milhões de pessoas mantinham algum relacionamento bancário no país, seja por meio de contas correntes, poupança ou investimentos.

Por outro lado, o levantamento mostra que cerca de 58% dos adultos no país não possuíam contas em instituições financeiras por falta dinheiro ou porque consideram que o custo é alto.

Os dados do BC também mostram que embora 60% dos adultos não tem a conta bancária têm acesso tanto aos celulares quanto à internet. Esse dado ajuda a entender porque o uso da tecnologia para a transformação digital no setor financeiro está mudando a dinâmica de trabalho com uma velocidade inédita na história do mundo.

“Você tem a tecnologia, mas são os bancos que mais se beneficiam delas, além de deixar milhões de brasileiros sequer ao correspondente bancário”, finaliza Marcolino.

Fonte: Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região