MPF abre consulta pública sobre participação do BB na escravidão

Publicado em: 07/12/2023

O Ministério Público Federal (MPF) abriu consulta pública para que pessoas, entidades e movimentos sociais possam se manifestar sobre inquérito que apura a responsabilidade do Banco do Brasil (BB) na escravidão no país. A ideia é que a população possa apresentar formas de reparação a serem adotadas pela instituição financeira.

As propostas podem ser enviadas pelos próximos 60 dias pelo e-mail prrj-prdc@mpf.mp.br ou diretamente pelo protocolo do MPF.

O MPF abriu inquérito em setembro deste ano para investigar o papel do banco estatal no tráfico de pessoas escravizadas durante o século XIX, a pedido de um grupo de professores universitários.

Em novembro, o banco publicou um comunicado com pedido de perdão ao povo negro pelo seu passado.

“Direta ou indiretamente, toda a sociedade brasileira deveria pedir desculpas ao povo negro por algum tipo de participação naquele momento triste da história. Neste contexto, o Banco do Brasil de hoje pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha intensamente para enfrentar o racismo estrutural no país”, informa o banco, em seu pedido de perdão.

No mesmo comunicado, o banco anunciou uma série de ações afirmativas adotadas para valorizar servidores negros, financiar instituições do movimento de mulheres negras, fomentar a diversidade na mão de obra de seus fornecedores e apoiar eventos da cultura negra, entre outros.

O MPF considera o pedido de perdão do banco algo histórico por ter quebrado o silêncio de sua própria história. No entanto, segundo os procuradores da República que atuam no inquérito, nem o pedido de perdão nem as medidas anunciadas pelo banco são suficientes.

O MPF sugere, por exemplo, que o banco crie uma plataforma de pesquisas sobre o tema, financie iniciativas de histórias públicas e material didático de ampla divulgação, além de fazer um tratamento adequado de sua história oficial.

Os procuradores consideram positivo o fato de o banco ser presidido, pela primeira vez, por uma mulher negra, Tarciana Medeiros, mas destaca que a maioria do quadro de lideranças do banco ainda é formada por pessoas brancas. Por isso, segundo o MPF, é importante que o banco adote processos internos que lidem com essa situação.

Além disso, o MPF considera ser importante haver uma discussão com a sociedade brasileira sobre um plano de reparação, por isso decidiu pela abertura da consulta pública.

O MPF também deu um prazo de 20 dias para que o BB apresente respostas para questões ainda não respondidas no inquérito, como a existência de pesquisas financiadas pelo banco que detalhem e aprofundem a discussão sobre a sua própria história. Os procuradores também marcaram, para o próximo dia 11, uma reunião com a direção executiva do banco, em Brasília.

Por meio de nota, o BB informou que já tinha confirmado sua participação na reunião com o MPF, no dia 11. “O BB já vem debatendo com entidades públicas e privadas e movimentos negros, em especial por intermédio do Ministério da Igualdade Racial, e implementando um amplo conjunto de medidas concretas pela igualdade racial, de gênero e em prol da diversidade. A relação completa das iniciativas da empresa pode ser encontrada em página do BB. Em sua carta aberta aos movimentos negros, o BB também reafirmou seu compromisso com o combate ao racismo e a prioridade que o assunto assume na organização”, diz a nota do banco.

Fonte: Agência Brasil

‘Pedido de perdão não é suficiente’, diz MPF sobre papel do BB na escravidão

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No inquérito que apura a responsabilidade e participação do Banco do Brasil na escravidão, o Ministério Público Federal (MPF) afirmou que o pedido de desculpas do BB é histórico, mas não é suficiente.

“Se, por um lado, é inadmissível que convivamos com o apagamento e o silêncio ante essa tragédia histórica, mostra-se fundamental, por outro, que não nos limitemos a um mero pedido de desculpas, por melhores que sejam as intenções”, destaca o despacho.

O documento da última sexta-feira 1º é assinado pelos procuradores regionais dos direitos do cidadão Julio José Araujo Junior, Jaime Mitropoulos e Aline Mancino da Luz Caixeta.

“O pedido de desculpas já foi realizado, com ótima recepção de toda a sociedade brasileira. Mas não pode ser a única medida”, completa.

A afirmação dos procuradores acontece após a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, pedir perdão ao povo negro pela atuação da entidade durante a escravidão.

Em comunicado apresentado durante audiência pública para tratar do tema, o banco também divulgou um conjunto de medidas com o objetivo de promover a igualdade e a inclusão étnico-racial e combater o racismo estrutural no país.

O MPF solicitou ainda a manifestação do Banco do Brasil, no prazo de 20 dias, acerca de questões que ainda não foram esclarecidas, como a existência de pesquisas financiadas pelo banco que detalhem e aprofundem a discussão sobre a sua própria história.

O despacho determinou também o agendamento de reunião com a direção executiva do banco.

Relembre o inquérito

Em novembro, o MPF instaurou um inquérito civil que apura a responsabilidade da instituição financeira na escravidão. Um estudo, elaborado por 14 pesquisadores de universidades brasileiras e americanas mostra que o banco apoiou o comércio de negros escravizados.

Os pesquisadores apontam que havia “vínculos diretos entre traficantes e o capital diretamente investido em ações do Banco do Brasil”.

Além disso, acrescenta que “a instituição também se favoreceu da dinâmica de circulação de crédito lastreada na propriedade escrava que imperou ao longo de toda a primeira metade do século XIX”.

Fonte: Carta Capital

Procurador de ação contra BB por escravidão defende ações reparatórias

Publicado em: 23/11/2023

O Banco do Brasil pediu desculpas ao povo negro pela participação da instituição, direta ou indiretamente, na escravidão no país. O pedido é assinado pela presidenta do banco, Tarciana Medeiros, primeira mulher negra a ocupar o cargo.

Em texto divulgado no site do banco, Medeiros declarou ainda que a instituição não se furta a aprofundar o conhecimento e encarar a real história das versões anteriores da empresa.

A iniciativa veio após a abertura de um inquérito pelo Ministério Público Federal em setembro, para apurar a responsabilidade do Banco do Brasil na escravidão. O órgão recebeu um estudo feito por 14 pesquisadores de universidade brasileiras e americanas, indicando vínculos diretos entre traficantes de africanos e o capital investido em ações do Banco do Brasil.

Criado em 1808 e refundado em 1853, o banco cumpria, segundo os pesquisadores, um papel singular na sustentação da economia mercantil escravista.

O procurador José Júlio Araújo, responsável pelo inquérito, ressaltou que o mundo inteiro está discutindo ações de reparação pela escravidão.

Nesse fim de semana, o MPF realizou uma audiência pública na escola de samba Portela, no Rio de Janeiro, para ouvir a comunidade e representantes do Movimento Negro a respeito dessas ações de reparação.

O representante do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, Elias José Alfredo, declarou que elas são essenciais para combater os efeitos que a escravidão tem até hoje.

O Banco foi representado no evento pelo gerente-executivo de Relações Institucionais, André Machado, que leu uma carta aberta direcionada ao movimento negro.

A carta menciona algumas ações que estão sendo desenvolvidas pelo banco para combater as desigualdades étnico-raciais, como a assinatura de um protocolo com o Ministério da Igualdade Racial para promover a igualdade e equidade a ampliar ações afirmativas de raça e gênero.

Fonte: Agência Brasil

Associação de quilombos defende reparação do BB por escravidão

Publicado em: 17/11/2023

A Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro encaminhou na segunda-feira (13) ao Ministério Público Federal (MPF) um manifesto em apoio à ação movida pelo órgão que pede reparação do Banco do Brasil por ter financiado o mercado de escravos no país.

No documento, a entidade que representa 53 comunidades remanescentes de quilombos no Rio cita a difícil situação da população negra no Brasil até os dias de hoje, que “materializa reminiscências do holocausto da escravidão de pessoas pretas” e critica a falta de políticas públicas eficazes para combater esses problemas. Ao final, o manifesto defende que o banco dê explicações e uma reparação à população negra pelos “lucros vexatórios” que obteve com o mercado de escravos.

“O Banco do Brasil, de forma voluntária, ou por meio de imposição por parte do MPF e/ou do Judiciário brasileiro, deve explicações e sobretudo, por meio de REPARAÇÃO à sociedade civil deste país, em especial à população preta-brasileira, por sua lamentável e vergonhosa participação no mais vergonhoso período da história brasileira, que foi o processo de escravização da população Preta/Negra”, diz o manifesto.

Em setembro deste ano, o MPF no Rio de Janeiro decidiu abrir uma investigação inédita sobre a atuação do Banco do Brasil no financiamento do mercado de escravos no país. Isso aconteceu após a instituição receber um estudo que recuperou em registros oficiais, notícias da época e documentos históricos essa parte da atuação do banco público.

Quilombolas falam em racismo do poder público

No manifesto encaminhado nesta semana ao Ministério Público Federal, os quilombolas elencam os vários problemas que assolam a população negra no país, da pobreza e falta de acesso a direitos básicos, à violência que mata mais os negros e negras e até a disparidade salarial tanto nos setores público quanto privado.

Além disso, o documento condena especificamente lentidão dos órgãos responsáveis pela regularização das terras quilombolas e afirma que o poder público é “racista” em sua demora para garantir o direito dessas populações tradicionais enquanto garante, de forma célere, autorizações e licenças ambientais para empreendimentos empresariais nos terrenos quilombolas.

“Frise-se, ademais, o fato do poder público, de maneira racista e perversa, é omisso e letárgico na garantia dos direitos inerentes a tais comunidades, conforme se depreende DOS INTERMINÁVEIS PROCESSOS DE DEMARCAÇÃO E TITULAÇÃO DOS SEUS RESPECTIVOS TERRITÓRIOS (sic), que se arrastam há décadas junto ao INCRA ou no órgão estadual com competência/atribuição legal para tanto como o ITERJ (Instituto deTerras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro) e o INEA (Instituto Estadual do Ambiente)”, diz o texto.

“Por outro lado, este mesmo poder público mostra-se extremamente célere na expedição de licenças ambientais, mediante processos de licenciamento ambiental ilegais/fraudulentos, autorizando grandes empreendimentos econômicos, nacionais e internacionais, a instalarem-se e operarem/funcionarem dentro dos territórios quilombolas, explorando-os economicamente sem deixar qualquer tipo de contrapartida em benefício das comunidades, apenas e tão-somente um devastador legado de destruição e morte geradas por gigantescos e escandalosos impactos socioambientais”, segue o manifesto.

A entidade ainda ressalta que tem havido avanços legislativos e de formulação de políticas públicas para reparar e enfrentar alguns problemas da população negra, mas que estas são, muitas vezes, “tímidas”. “Todavia todas estas iniciativas caracterizam-se, fundamentalmente, por sua incipiência, ‘timidez’ e insuficiência, dado o gigantesco e estarrecedor estoque histórico/ancestral de exclusão, omissões e acúmulo de desigualdades que marcam a atuação do Estado e a sociedade brasileira, motivados (consciente e/ou inconscientemente) pela presença atávica do racismo”, aponta o manifesto.

MPF realizará audiências públicas

O inquérito civil público foi instaurado pela Procuradoria Regional de Direitos do Cidadão no Rio de Janeiro. Presentes em todos os estados do país. As procuradorias são o braço de atuação do Ministério Público Federal que atua na garantia de direitos constitucionais, como liberdade, igualdade, dignidade, saúde, educação, assistência social, acessibilidade, segurança pública, o direito à informação e à livre expressão, entre outros.

A partir da abertura do inquérito civil, a procuradoria se reuniu com o banco público no dia 27 de outubro e ficou acertado que o BB se manifestaria em 15 dias úteis sobre o reconhecimento de sua atuação no tráfico de escravos. Além disso, a instituição deverá apresentar quais medidas pretende adotar no curto prazo em consequência desse reconhecimento. O banco ainda está no prazo para apresentar sua resposta.

Segundo divulgou o MPF na época do encontro, o BB também deverá se manifestar sobre o financiamento de pesquisas sobre esse passado, “além de indicar as medidas que pretende acelerar para racializar a forma de pensar a sua própria estrutura”. O MPF, por sua vez, deve organizar audiências públicas com a sociedade civil para discutir sobre um possível plano de reparação a ser executado pelo banco público. A primeira audiência está marcada para o próximo sábado (18) na sede da escola de samba Portela, no Rio de Janeiro.

Fonte: Brasil de Fato

Banco do Brasil terá que se desculpar por ações durante a escravidão

Publicado em: 06/11/2023

O Banco do Brasil (BB) terá que fazer um pedido de desculpas sobre o reconhecimento de participação no período escravocrata brasileiro. A decisão ocorreu após abertura de inquérito e reunião de representantes do BB e o Ministério Público Federal (MPF).

De acordo com a colunista Míriam Leitão, do O Globo, o prazo determinado para a manifestação do banco seria de 15 dias úteis, datados a partir da reunião, que ocorreu em 27 de outubro.

Na reunião foram discutidos o inquérito civil público, instaurado pelo próprio MPF, que visava a investigação da relação entre o Banco do Brasil e o tráfico de pessoas negras escravizadas no século XIX.

O inquérito foi motivado por documento subscrito por 15 professores e universitários oriundos de diversas universidades brasileiras e estrangeiras.

Ainda de acordo com Míriam Leitão, antes da reunião o banco divulgou uma nota em que disseram que “o período escravista precisa ser analisado de modo completo, com a devida consideração do contexto histórico, social, econômico, jurídico e cultural do período em que se desdobrou a escravidão”.

A nota foi criticada por historiadores presentes na reunião, em razão da concepção do banco sobre a escravidão.

Ficou acordado então na reunião o pedido de desculpa e apresentação de medidas que irão implementar, em curto prazo, de reconhecimento do papel do banco na escravidão e no tráfico de pessoas no período.

Além disso, devem se manifestar sobre o financiamento de pesquisas sobre esse passado e medidas que pretende acelerar com vistas a racializar completamente a forma de pensar a própria estrutura.

O que diz o Banco do Brasil

Posição do Banco a respeito do tráfico de pessoas negras escravizadas no século retrasado:

O BB destaca – com veemência – que lamenta profundamente esse infeliz capítulo da história da humanidade e da nossa sociedade, com efeitos de um triste legado até os dias atuais. A escravização por centenas de anos causou danos irreversíveis às pessoas escravizadas à época e aos seus descendentes; portanto é um momento da história que deve ser lembrado e discutido.

Neste sentido, cabe salientar que o Banco do Brasil valoriza o trabalho de historiadores e mantém um Museu aberto ao público, com seu Arquivo Histórico disponível para pesquisas, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, por acreditar na importância do estudo da história para, entre outros aspectos, a adoção de ações, no presente, voltadas à construção de um país democrático e pautado na justiça social. Assim, o Banco considera que os debates sobre a escravidão, para serem efetivos e ganharem a dimensão merecida, devem envolver toda a sociedade brasileira atual, devendo as instituições do presente compartilhar iniciativas que contribuam para a construção de um país com cada vez mais justiça social. Da mesma forma, é importante que se tenha uma leitura mais completa da realidade da época, com a devida consideração do contexto histórico, social, econômico, jurídico e cultural do período em que se desdobrou a escravidão.

Por exemplo, no prazo de apenas 20 dias úteis transcorridos desde o protocolo do ofício do MPF até hoje, foi possível verificar nos arquivos históricos do Museu do BB, aspectos a serem considerados em uma revisão histórica que venha a ser realizada, como a possível relação do Banco com sujeitos os mais diversos da sociedade do século retrasado, inclusive com abolicionistas de destaque no cenário nacional, que também podem ter sido integrantes de seu quadro de acionistas. Apenas na relação de acionistas de 1886, foram encontrados os seguintes abolicionistas, cujo posicionamento em relação à escravidão, é encontrado em fontes diversas, como o repositório de legislação do Senado, a Atlas – FGV e a Biblioteca digital do TSE: Rodrigo Augusto da Silva, autor da Lei Áurea; Affonso Pena; advogado, político. Presidente do Banco do Brasil e Presidente da República; José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco; Condessa de Barral, preceptora das princesas imperiais; Lafayette Rodrigues Pereira, primeiro-ministro do Brasil durante o 2º Império; e Tereza Cristina, Imperatriz do Brasil, a título de alguns exemplos. Tal constatação mostra-se relevante na busca da verdade e eventual revisão histórica a que se proceda, pois sugere que o “Terceiro” Banco do Brasil (termo utilizado na Representação do MPF e que remete ao BB fundado em 1853) refletiria, no seu quadro social da época e, muito provavelmente, no grupo de clientes tomadores de crédito, o espectro econômico e social de seu tempo histórico, isto é, a multiplicidade de atores e seus relacionamentos e posicionamentos acerca da escravidão, com todas as contradições e diversidade de pensamentos presentes naquele ecossistema.

Atualmente, o que cabe destacar é o compromisso com a diversidade que assume um papel central na estratégia do Banco do Brasil, que tem sido uma das empresas brasileiras que mais tem contribuído para o desenvolvimento social e econômico do país ao longo das últimas décadas, com acentuado destaque nesta gestão. Na história recente, vale pontuar que a atuação do BB vai além da legislação, na vanguarda do tratamento à diversidade, de forma voluntária, e promovendo o debate público sobre este tema, além de atuar em práticas concretas em prol da inclusão social.

Revisando a trajetória do BB como banco público, sociedade de economia mista, é possível perceber com nitidez a conciliação de sua visão comercial com sua visão social, caracterizada pela atuação em incontáveis momentos cruciais da economia brasileira, socorrendo diversos grupos de cidadãos e setores do mercado ao longo da história; listá-los exaustivamente poderia soar enfadonho. Mas listamos alguns exemplos recentes:

i)Entre inúmeras iniciativas do Banco relacionadas diretamente com a promoção da igualdade étnico-racial, recentemente (27.07.2023), o BB e o Ministério da Igualdade Racial celebraram um protocolo de intenções para combate e superação do racismo e promoção da diversidade e da equidade, onde se previu uma cooperação para fixar diretrizes e ampliar ações afirmativas de raça e gênero com inclusão e valorização das mulheres negras no país, a partir do fomento a ações de formação e capacitação de jovens negras e periféricas e ingresso de jovens negras no mercado de trabalho.

ii)Referido Protocolo também objetiva a evolução do empreendedorismo e fortalecimento de micro e pequenos negócios de mulheres negras; valorização de iniciativas e produções de mulheres negras, sobretudo relacionadas a projetos culturais; estímulo à ocupação equilibrada de espaços de liderança no BB, considerando o respeito à diversidade étnica e de gênero; e apoio mútuo e intercâmbio de experiências para ampliar as políticas afirmativas internas de raça e gênero no BB, trazendo perspectiva interseccional às iniciativas realizadas pela Empresa.

iii)Também em julho do presente ano, o Banco renovou a parceria iniciada em 2018 com a Universidade Zumbi dos Palmares, aderindo à Carta da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, movimento formado por empresas comprometidas com a promoção da inclusão racial e a superação do racismo no ambiente corporativo.

iv)Em agosto deste ano, o BB tornou-se embaixador de movimentos relevantes do Pacto Global da ONU no Brasil, relacionados à igualdade social, a gênero e a trabalho decente, com destaque para o movimento Raça é Prioridade.

v)O BB lançou novos compromissos públicos em sua pauta ASG, no Planejamento de Sustentabilidade do Banco – Agenda 30, dentre eles, destaque para a meta concreta de chegar a pelo menos 30% (trinta por cento) de pretos, pardos, indígenas e outras etnias sub-representadas em cargos de liderança até 2025. Destaque-se que ainda em março de 2023, o Banco do Brasil já alcançou a meta de 23% de pretos e pardos em cargos de gestão sênior previsto para 2025, motivo pelo qual a meta antiga foi revista para maior.

vi)O Programa Piloto de aceleração Raça é Prioridade, em fase de aprovação, tem o objetivo de identificar e desenvolver a aceleração de carreira dos funcionários de raças sub-representadas. Está previsto atingir público-alvo de até 150 pessoas negras que serão identificadas, desenvolvidas e aceleradas, podendo ser qualificadas e nomeadas prioritariamente, na existência de vagas, nas funções de gerencias em toda a transversalidade técnico-administrativa operacional, tática e estratégica do BB.

vii)Ainda neste ano de 2023, o Comitê Executivo de Pessoas e Cultura Organizacional, subordinado ao Conselho Diretor, passou a ser denominado Comitê Executivo de Pessoas, Equidade e Diversidade, com a inclusão de atribuições específicas relacionadas ao tema, fortalecendo a responsabilidade de acompanhar a evolução e disseminação da diversidade no BB.

viii)Como forma de acelerar as transformações, o BB reuniu em uma equipe matricial funcionários de diferentes áreas que atuam exclusivamente para integrar e endereçar soluções, desenvolvendo políticas, planos de ação, métricas e indicadores que devem nortear a atuação do BB no fomento de Diversidade, Equidade e Inclusão para o público interno, externo e nas relações com os fornecedores, para influenciar e criar impactos positivos em toda a sociedade.

ix)Ainda em 2023, o BB tem promovido inúmeros eventos sobre diversidade, em encontros dos Conselhos Consultivos que abordaram e abordarão temas sobre etnias, gênero, gerações, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência e neurodivergências em todas as regiões do Brasil, avaliando boas práticas do BB e da sociedade, fomentando uma agenda em prol do tema.

x)Além de realização, ao longo de mais de três décadas, de projetos com investimento social pela Fundação Banco do Brasil e de projetos culturais itinerantes e também nas praças onde o BB mantém seus Centros Culturais Banco do Brasil (CCBB), levando para palcos e galerias numerosos eventos voltados à promoção da cultura negra, à discussão de temas relacionados à escravidão e à desigualdade étnico-racial. Isso se dá diante de uma atuação que observa, como critério estratégico de seleção de projetos, aqueles que reafirmem nossas origens e ancestralidade, suas narrativas e símbolos, o pensamento decolonial e os desafios de inclusão e acessibilidade, dentre outras questões, que ofereçam caminhos para compreender a construção contemporânea de identidade.

xi)Não bastassem essas iniciativas, no início de 2023, houve a posse da primeira mulher negra como presidenta do BB, Tarciana Medeiros, que nomeou três mulheres para as vice-presidências de Varejo, Negócios Digitais e Corporativa. Pela primeira vez na história o Banco do Brasil tem 45% de mulheres, 22% de pessoas autodeclaradas negras e dois membros autodeclarados do grupo LGBTQIAPN+ no Conselho Diretor.

xii)Além de um Conselho de Administração entre os mais diversos do mercado, o que confere, diante de demais ações concretas do Banco, o posto destacado no índice iDiversa da B3, por exemplo, por atuar como referência em diversidade em nossa sociedade contemporânea.

O Banco do Brasil fez, faz a fará muito pela diversidade e desenvolvimento não só social, como ambiental e econômico em nosso país.

Ainda assim, é necessário que exista um processo de reflexão permanente de toda a sociedade sobre o tema, já que restringir o debate de um tema dessa magnitude apenas a uma empresa bicentenária é reduzir o debate sobre potenciais boas práticas que podem ser construídas de forma articulada por toda a sociedade.

Por fim, para o Banco, não é a questão de existir qualquer conexão, ainda que indireta, entre suas atividades e escravizadores do século XIX, que define seu compromisso com o combate à desigualdade étnico-racial, mas o simples fato de ser uma instituição da atualidade, que, como as demais instituições públicas e privadas, desenvolve suas atividades no âmbito de uma sociedade que guarda resquícios da escravidão. O legado da escravatura convoca todos os atores sociais contemporâneos a agir para a promoção da igualdade étnico-racial, a contribuir por meio de ações concretas, como as que o Banco já desenvolve de modo pioneiro voluntário e destacado.

As percepções do Banco e a experiência no largo curso de suas iniciativas permitem afirmar que compromissos isolados sobre o tema, por melhores que sejam e que possam produzir efeitos reconhecidamente positivos no plano individual – como os decorrentes das práticas do BB hoje –, não têm o condão de efetivamente alterar o quadro de injustiça étnico-racial persistente na realidade brasileira na medida necessária: os desafios ultrapassam a realização de ações individuais ou artesanais; uma intervenção coordenada e integrada também é exigência estratégica de primeira ordem.

Nesse sentido, mostra-se imprescindível a mobilização coletiva, o envolvimento da sociedade, a exemplo do Estado, entidades e órgãos públicos vinculados às suas três funções, universidades e demais instituições públicas e privadas, sem o que o combate à desigualdade étnico-racial não alcançará as potencialidades de uma ação nacional coordenada.

O Banco ratifica sua disponibilidade para prestar esclarecimentos sobre o tema, além de participar de iniciativas que articulem os atores centrais da sociedade organizada para o desenho de estratégias e a execução de ações para potencializar e acelerar a produção de resultados concretos em prol da igualdade étnico-racial. O objetivo primordial do Banco do Brasil é continuar a contribuir de maneira voluntária e cada vez mais pronunciada, no quanto se mostrar necessário e nos limites das suas regras de governança, para a finalidade maior perseguida no inquérito civil, que é a busca da verdade histórica e da promoção da igualdade étnico-racial.

Banco do Brasil

Fonte: Correio Braziliense

Banco do Brasil defende diálogo em favor de reparação por escravidão

Publicado em: 06/10/2023

O Banco do Brasil considera que a história do país e suas relações com a escravidão das comunidades negras precisam ser um processo de reflexão permanente. Em relação à reparação histórica, o BB entende que essa é uma responsabilidade de toda a sociedade.

É essa necessidade de amplo envolvimento do país com o tema que norteou a criação dos ministérios dos Direitos Humanos, Dos Povos Indígenas, da Igualdade Racial e Da Mulher. Também foi recriado o Ministério da Cultura. Tudo isso para acelerar a tomada de consciência e a criação de medidas efetivas de reparação.

O Banco do Brasil tem sido uma das empresas brasileiras que mais tem contribuído nesse sentido. Em julho deste ano, o BB assinou Protocolo de Intenções com o Ministério da Igualdade Racial, a fim de unir esforços em ações direcionadas à superação da discriminação racial, à inclusão e à valorização das mulheres negras, com o objetivo de fixar e promover:

  • o ingresso de jovens negras no mercado de trabalho;
  • a valorização de iniciativas e produções de mulheres negras, sobretudo aquelas que se referirem a projetos culturais;
  • ações de fomento ao empreendedorismo e fortalecimento de micro e pequenos negócios de mulheres negras;
  • o estímulo à ocupação equilibrada de espaços de lideranças no BB, considerando o respeito à diversidade étnica e de gênero;
  • e apoio mútuo e intercâmbio de experiências no sentido de ampliar as políticas afirmativas internas de raça e gênero, trazendo uma perspectiva interseccional às iniciativas em curso ou a serem realizadas no BB.

Em agosto deste ano, o Banco do Brasil tornou-se embaixador de três importantes movimentos de Direitos Humanos da Rede Brasil do Pacto Global da ONU: “Elas lideras 2030”, “Raça é Prioridade” e “Salário Digno”, que buscam mobilizar empresas e organizar empresas para o alcance do ODS.

No mesmo mês, o BB foi selecionado para compor a carteira do índice de diversidade da B3 (iDiversa B3), que inclui 79 ativos de 75 empresas, abrangendo dez setores econômicos. O BB ocupa lugar de destaque, com maior peso na composição do índice, pois possui um dos conselhos de administração mais diversos do mercado, composto por 50% de mulheres e 25% de pessoas autodeclaradas negras.

Também em agosto, em parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares, o Banco do Brasil, renovando a parceria assinada em 2018, assinou a carta de adesão à Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, que é um movimento formado por empresas e instituições comprometidas com a promoção da inclusão racial e a superação do racismo no ambiente corporativo e em toda a sua cadeia de valor.

Como empresa que busca promover a igualdade racial, o Banco do Brasil está à disposição do Ministério Público Federal para continuar protagonizando e envolver toda a sociedade na busca pela aceleração do processo de reparação.

Fonte: Banco do Brasil

Entenda a investigação sobre o papel do BB na escravidão no século 19

Publicado em:

Após um trabalho que envolveu 14 historiadores de 11 universidades, o Banco do Brasil foi notificado de uma ação inédita do Ministério Público Federal sobre a abertura de um inquérito para investigar o envolvimento da instituição no mercado escravagista no século 19.

“A gente espera que essa ação, que essas pesquisas, que a utilização dessas pesquisas para embasar a ação, elas sirvam, de fato, para fomentar esse debate e que não silencie essa história mais”, disse Clemente Penna, da Universidade Federal de Santa Catarina e da Fapesc, Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina.

Clemente, um dos historiadores envolvidos no trabalho, falou em entrevista ao podcast O Assunto desta segunda-feira (2). “A gente não pensa em sistema financeiro e escravidão, isso é uma discussão que é até relativamente recente […] e é um processo de silenciamento que quase produz uma inércia.”

Banco responderá sobre traficantes de escravizados

A existência da ação foi revelada com exclusividade por reportagem da BBC News Brasil na semana passada. Agora, o banco precisa responder se reconhece a ligação com traficantes de escravizados, se financiou esses traficantes e o que pretende fazer daqui em diante sobre o tema.

“O que a gente tenta na ideia da responsabilização é um pouco também que as instituições reconheçam que existe um peso muito forte da escravidão no estabelecimento de todas essas instituições”, complementa Clemente.

Clemente também explica que o sistema financeiro brasileiro se sustentou no século 19, em grande parte, por meio de ativos vindos do mercado de escravizados, e que o chamado “segundo Banco do Brasil”, criado na década de 1850, “surgiu para alocar dinheiro antes investido no tráfico [de escravos] de volta para o mercado”.

“A gente sabe que o sistema financeiro inteiro daquele período era ligado aos negócios da escravidão e o banco ele entra praticamente lavando esse dinheiro, com uma operação de quase lavagem de dinheiro do tráfico ilegal na instituição do próprio banco.”

O que pode acontecer agora?

O podcast também ouviu Leandro Machado, repórter que primeiro revelou a ação do MPF, que explicou que uma reunião entre o órgão e a presidência do banco deve acontecer ainda em outubro com participação do governo para discutir medidas de reparação e também o reconhecimento dessa história.

“A partir daí, o que o Ministério Público Federal diz é que como é um inquérito civil público, isso pode terminar em uma ação judicial, caso o banco se recuse a dar uma resposta, ou pode terminar em uma espécie de acordo, que seria o banco reconhecer sua participação no período e tomar medidas de reparação como o financiamento de pesquisas ou outros tipos de política para a comunidade negra.”

Fonte: G1

BB é alvo de inquérito inédito sobre papel na escravidão e MPF pede reparação

Publicado em: 28/09/2023


O Ministério Público Federal (MPF) notificou o Banco do Brasil (BB) na tarde desta quarta-feira (27/09) sobre a abertura de um inquérito civil público que pretende investigar o envolvimento da instituição na escravidão e no tráfico de cativos africanos durante o século 19.

A ação, inédita no país e obtida com exclusividade pela BBC News Brasil, visa iniciar um movimento de cobrança por reparação histórica de grandes e centenárias instituições brasileiras – estatais e privadas – que de alguma forma tenham participado ou fomentado a escravidão no país.

O inquérito foi proposto por um grupo de 14 historiadores de 11 universidades, que pesquisaram e escreveram um texto sobre o que se sabe da relação do Banco do Brasil com a economia escravista e seus negociantes.

Eles descobriram, por exemplo, que entre os fundadores e acionistas do BB estavam alguns dos mais notórios traficantes de escravizados da época – entre eles José Bernardino de Sá, tido como o maior contrabandista de africanos do período (leia mais abaixo).

Três procuradores aceitaram a sugestão e elaboraram uma ação com o objetivo de fazer com que o banco estatal reconheça e tome medidas para investigar e tornar públicas suas ações durante a escravidão.

Entre essas ações, está o financiamento, em um primeiro momento, de pesquisas acadêmicas sobre o assunto para que, no futuro, possa bancar projetos de reparação e políticas públicas voltadas à comunidade negra.

“O debate sobre reparação está acontecendo no mundo inteiro. Da nossa parte, queremos aprofundar a discussão com o Banco do Brasil e com a sociedade para que essa história não seja mais silenciada”, diz Julio Araujo, procurador regional dos direitos do cidadão do MPF, que assina o despacho com outros dois colegas, Jaime Mitropoulos e Aline Caixeta.

“O que existe hoje é uma naturalização do papel de várias instituições brasileiras nesse período. Essa é uma discussão importantíssima a ser encarada: até que ponto cabe a reparação histórica e qual é a melhor maneira de fazê-la?”, questiona o procurador.

A escravidão é considerada um crime contra a humanidade. Por isso, não prescreve e permite que ações relacionadas ao período ainda possam correr na Justiça.

Instituições de alguns países, como universidades e bancos nos Estados Unidos e Inglaterra, têm reconhecido seu papel na escravidão e criado medidas de reparação, que vão de fomento a pesquisas acadêmicas e indenizações.

No documento enviado ao Banco do Brasil, o MPF estipulou um prazo de 20 dias para a presidência da instituição responder a uma série de questões:

“A posição do banco sobre sua relação com o tráfico de pessoas negras escravizadas”, “informações sobre financiamentos realizados pelo banco e relação com a escravidão”, “informações sobre traficantes de pessoas escravizadas e sua relação com o banco” e “iniciativas do banco com finalidades específicas de reparação em relação a esse período.”

Os procuradores também solicitaram uma reunião com a direção do BB para discutir medidas de reparação histórica no dia 27 de outubro, no Rio de Janeiro. Também convidaram para o encontro o grupo de historiadores que propôs a ação e membros dos ministérios de Direitos Humanos e Igualdade Racial.

Segundo Julio Araujo, o inquérito civil “é diferente de uma investigação tradicional”, e pode terminar em um acordo, Termo de Ajuste de Conduta (TAC) ou mesmo uma ação judicial contra o banco caso a instituição se recuse a discutir o tema. “É imprevisível, não sabemos qual o rumo ele pode tomar, mas queremos uma resposta do banco”, afirma o procurador.

Contatado pela BBC News Brasil às 17h desta quarta-feira, o Banco do Brasil informou que “foi notificado no final da tarde de hoje” e que o “jurídico da instituição analisará o teor do documento e prestará as informações necessárias dentro do prazo previsto” (pelo MPF).

Mas, afinal, como o Banco do Brasil participou da escravidão?

História do BB

Nos últimos cinco meses, os historiadores pesquisaram em arquivos públicos a participação de escravocratas e traficantes na fundação e estabelecimento do Banco do Brasil como a maior instituição financeira do Império.

No início da pesquisa, havia uma questão fundamental: o Banco do Brasil de hoje é o mesmo do século 19?

“Inicialmente, na minha cabeça, a resposta era negativa, porque ele havia sido fundado, liquidado e refundado outras vezes”, explica o historiador Thiago Campos Pessoa, pesquisador do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense (UFF), um dos acadêmicos que assinaram o documento enviado ao MPF.

A resposta para o dilema, conta Pessoa, veio do próprio banco. “Oficialmente, o BB conta que sua história começa em 1808, com a vinda do rei D. João 6º ao Brasil. Ou seja, mesmo com as refundações, ele considera que é sempre a mesma instituição. Então, partimos dessa premissa: é o mesmo banco”, afirma Pessoa.

De fato, em seu site, o Banco do Brasil afirma ter mais de 200 anos de história, embora não cite a escravidão nem suas três refundações. “Estamos cuidando do futuro com responsabilidade, e cultivando, há mais de 200 anos, o valor dessa relação que temos com os brasileiros”, diz o texto da empresa na seção “Quem somos”.

Em sites de órgãos do governo federal, como do Banco Central e do Arquivo Nacional, a história do BB sempre começa em 12 de outubro de 1808, meses depois da chegada da corte portuguesa ao Brasil.

Quando foi criado, o objetivo da instituição era enfrentar a escassez de crédito e de moeda do Império português, mas sua atuação se reduziria ao financiamento público. Segundo os historiadores, porém, parte do dinheiro do banco vinha de taxas cobradas de embarcações dedicadas ao tráfico de africanos.

“A escravidão e o comércio negreiro financiavam a constituição do banco também de maneira indireta por meio de subscrições”, escrevem os pesquisadores.

Ou seja, o governo imperial concedia títulos de nobreza a escravocratas e comerciantes ilegais que colocavam dinheiro no banco.

Com dificuldades financeiras, esse primeiro BB foi dissolvido em 1829 e depois foi refundado em 1833, mas essa fase durou apenas um curto período.

É na refundação de 1853 que a ligação do Banco do Brasil com a escravidão fica mais estreita, segundo os pesquisadores que procuraram o MPF.

Eles descobriram, por exemplo, que grandes traficantes de escravizados fizeram parte do grupo de empresários que assinaram o termo de refundação da instituição.

Embora tenha renascido como um banco privado, o BB tinha finalidades públicas, como o controle do mercado de crédito e o monopólio da emissão da moeda.

Um desses empresários que fundaram o BB era José Bernardino de Sá, que se tornou seu maior acionista em 1853. Um dos homens mais ricos do Império, o magnata tinha fazendas, inúmeros imóveis e até um teatro no Centro do Rio de Janeiro.

Mas sua principal atuação era o tráfico de africanos, diz o historiador Thiago Campos Pessoa, da UFF, que há anos estuda a vida do contrabandista e há poucos meses se deparou com o nome dele entre os fundadores do Banco do Brasil.

“Esse era um mercado muito complexo e envolvia muitas pessoas dos dois lados do Atlântico. Mas também era extremamente lucrativo, porque, na época, um escravizado valia muito dinheiro. Uma única viagem de um navio negreiro podia enriquecer um traficante”, afirma.

Segundo Pessoa, Bernardino de Sá tinha um barracão ao norte de Luanda, capital de Angola, onde deixava os africanos sequestrados até o embarque. Eles chegavam ao litoral de São Paulo e Rio de Janeiro e, depois, eram deixados em fazendas do empresário até serem negociados. Estima-se que o traficante tenha contrabandeado 20 mil africanos entre 1825 e 1851.

Essa operação, porém, era considerada ilegal desde 1830, quando o comércio transatlântico de pessoas foi proibido por lei sob pressão da Inglaterra. A questão é que a proibição “não pegou” no Brasil e ficou conhecida como “lei para inglês ver”.

Nos anos seguintes, o tráfico se intensificou com anuência e participação do Império. Calcula-se que cerca de 753 mil africanos foram trazidos ilegalmente ao Brasil em apenas duas décadas, entre 1830 e 1850.

Como comparação, em todo o período da escravidão no Brasil, que durou cerca de 300 anos, 5 milhões de pessoas foram trazidas ao Brasil.

“Nessas duas décadas, o Brasil foi responsável pelo maior crime contra a humanidade do século 19”, diz Bruno Rodrigues de Lima, doutor em História e o Teoria do Direito pelo Max Planck Institute, em Frankfurt, na Alemanha, e especialista na história da escravidão desse período.

“A lei assinada pelo imperador D. Pedro 2º tem efeito contrário. O tráfico se torna massivo, em escala industrial. O Rio de Janeiro se tornou na época a capital mundial da escravidão. E, para esse mercado dar certo, era preciso muito dinheiro, crédito, operações bancárias e documentos oficiais”, explica Lima, organizador das Obras Completas de Luiz Gama.

Era nesse contexto que atuava José Bernardino de Sá.

“Não era segredo o que ele fazia, ele era uma pessoa rica e conhecida, com muitos investimentos. Mas foi o tráfico que o enriqueceu. Esse ‘comércio ilegal’ era naturalizado, era conduzido pelo Estado e tinha o Estado como parceiro”, diz.

Segundo os historiadores, em 1855, José Bernardino de Sá possuía 5.216 ações do Banco do Brasil, o que representava um montante de cerca de mil contos de réis, fortuna maior do que a de muitos fazendeiros do Vale do Paraíba, região cafeeira entre o Rio e São Paulo e morada dos homens mais ricos do Brasil na época.

Mas havia outros nomes conhecidos da escravidão entre os fundadores do Banco do Brasil, inclusive em sua diretoria.

Um deles era João Pereira Darigue Faro, vice-presidente do banco em 1855. Visconde do Rio Bonito, Darigue Faro era membro de uma das famílias mais ricas do Vale do Paraíba fluminense. Segundo o documento do MPF, sua família possuía 540 escravizados, “certamente dos maiores proprietários de escravos no Império”, diz o texto.

Outro nome era João Henrique Ulrich, diretor do BB por uma década a partir de 1854. Sua história com a escravidão também é conhecida. Em 1842, ele foi flagrado pelo governo de Angola comandando um barracão de escravizados em Luanda. Segundo jornais da época, Ulrich fez fortuna com o tráfico e intermediando negócios do café.

Ligações do BB com a escravidão

Embora entre os fundadores do BB estejam traficantes de escravizados, até que ponto o banco estava ligado à escravidão e quanto de seu dinheiro vinha desse sistema?

Para Clemente Penna, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que também assina o documento, o sistema financeiro da época “dependia da escravidão”, mas ainda faltam mais pesquisas acadêmicas para determinar o papel de cada instituição.

“Era uma economia que tinha pouca moeda oficial circulando. O que havia era um sistema baseado em títulos de créditos, hipotecas, letras de câmbio… Quem tinha muito dinheiro em caixa eram os traficantes. Então, foram eles que financiaram o Estado, os títulos da dívida e o capital societário dos bancos”, explica.

A pesquisa do historiador, que analisou 3 mil execuções de dívidas no Rio de Janeiro entre 1830 e 1860, aponta que escravizados eram utilizados inclusive como garantia do pagamento de empréstimos.

Quando havia uma débito não pago, a Justiça determinava que escravizados pertencentes ao devedor fossem enviados a um depósito no antigo Cais do Valongo, na Zona Portuária do Rio, onde eram “armazenados” até que o dinheiro fosse devolvido. Se isso não acontecesse, o cativo era leiloado e o valor era usado para saldar a dívida.

Segundo Penna, 65% das execuções de dívidas no período tiveram ao menos um escravizado levado a esse depósito – algumas dessas negociatas tiveram participação dos bancos.

Para o historiador, todas as operações financeiras da época tinham ligação com a escravidão. “Quem fazia dinheiro no século 19 estava ligado com a escravidão, porque ela estava em toda a sociedade, em toda esquina. Todo o sistema financeiro dependia dela”, explica.

O Banco do Brasil também concedeu empréstimos a fazendeiros proprietários de escravizados.

Segundo a tese de doutorado de Thiago Campos Pessoa, da UFF, o banco emprestou 800 contos de réis para José e Joaquim de Souza Breves, conhecidos como Irmãos Breves, em 1871.

A pesquisa aponta que, além de acionista e com membros na diretoria do BB, a família Breves era conhecida como uma das maiores proprietárias de escravizados do país, com cerca de 5 mil pessoas espalhadas em suas fazendas no Rio e em São Paulo.

“O que acontecia era que o banco financiava a escravidão e a escravidão financiava o banco. O dinheiro que entrava e o que saía faziam parte desse sistema”, explica Pessoa.

Movimento internacional

O inquérito do MPF segue um movimento global por reparação histórica de grandes instituições que participaram da escravidão.

Na Inglaterra, por exemplo, o caso mais emblemático é do Bank of England, fundado em 1694, que foi proprietário de centenas de escravizados no século 18. Recentemente, o banco reconheceu seu papel na escravidão e, por meio de pesquisas históricas, encontrou descendentes de escravizados, iniciando um processo de reparação financeira às famílias.

Já nos Estados Unidos, universidades como Harvard e Brown University também reconheceram o papel que proprietários de escravos tiveram em sua fundação e crescimento. A partir daí, as entidades financiaram pesquisas acadêmicas de longo prazo e em projetos voltados à comunidade negra afetada.

Para o procurador Julio Araujo, o inquérito contra o Banco do Brasil pode ser o pontapé inicial das discussões sobre reparação histórica no país.

“É preciso encarar essa discussão, porque esse passado e essa memória fazem parte e ainda afetam nosso presente, por meio das desigualdades sociais e do racismo estrutural. A sociedade e as grandes instituições brasileiras precisam se olhar no espelho e enfrentar esse assunto”, diz.

Já o historiador Bruno Lima afirma que “todas as instituições brasileiras com mais de 150 anos, sejam elas bancos, universidades e até tribunais de Justiça, têm em suas mãos o sangue e as digitais da escravidão.”

“Elas enriqueceram com a escravidão, compraram e venderam pessoas. É preciso um esforço institucional e uma pressão da sociedade para que essa história seja escavada, seja reconhecida, e que a gente consiga finalmente compreender como foi formado o Brasil”, afirma.

Fonte: BBC Brasil