A vista do escritório do Broto, a plataforma digital do Banco do Brasil dedicada ao agronegócio, revela a icônica Ponte Estaiada sobre o Rio Pinheiros, um dos cartões postais da cidade de São Paulo. A cena parece distante do universo rural e agrícola que o marketplace representa, mas é só a vista mesmo.
De acordo com dados do Banco Central (BC), o Banco do Brasil é responsável por quase metade (49,54%) do total de crédito disponível no país para o setor agropecuário.
O Broto foi criado em julho de 2020, como um dos braços da Brasilseg, a seguradora do Banco do Brasil, com foco na contratação de seguros agrícolas, voltado, desde o início, ao pequeno e médio produtor rural, sobretudo o familiar.
No Brasil, inclusive, dos 5.073.324 estabelecimentos agropecuários e aquicultores, 76,8% são de agricultura familiar, totalizando 3.897.408 unidades, de acordo com o último levantamento sobre o tema do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reportado em 2019.
Foi durante o ano da pandemia, quando feiras e eventos em todo o mundo, incluindo os do setor agro, estavam suspensos, que a plataforma decidiu inovar, como afirma à EXAME, Francisco Martinez, diretor-executivo do Broto.
“Lançamos o Broto no Plano Safra de 2020/21. Inicialmente, começamos com máquinas e implementos, contando com a colaboração de 13 grandes fabricantes que ajudaram a viabilizar a operação. Dessa forma, realizamos, ainda naquele ano, a primeira feira digital da história do Banco do Brasil”, afirma Martinez.
O diretor destaca que com o primeiro evento 100% digital o Broto realizou R$ 800 milhões em negócios — o sucesso, diz ele, fez com que o projeto fosse expandido e continuasse. Foi em 2022 que o Broto começou a integrar as linhas de crédito e os seguros do Banco do Brasil e, no ano passado, foi anunciada a criação de uma nova empresa, a Broto S.A.
Antes, a plataforma funcionava principalmente como uma vitrine virtual para máquinas e implementos, permitindo que os usuários solicitassem orçamentos online. Hoje, é um espaço com um portfólio maior.
“Atualmente, contamos com quatro linhas de negócios, incluindo um marketplace completo com 19 categorias e mais de 1.500 empresas. Nosso portfólio abrange desde startups até gigantes globais como John Deere e AGCO, entre outras. Desde a criação, acumulamos um valor bruto de mercadoria (GMV) de R$ 7 bilhões, dos quais cerca de R$ 3 bilhões foram registrados no ano passado”, diz Martinez
Além de maquinário, a plataforma agora entrega produtos como insumos, tecnologias para agricultura de precisão, soluções de conectividade e internet, energia solar, irrigação e armazenagem. O Broto também disponibiliza conteúdo informativo e técnico, criado por uma empresa terceirizada, sempre com foco nas necessidades dos produtores, reforça Martinez.
As outras três linhas de negócios são soluções financeiras, como linhas de crédito e seguros; soluções de parceiros com foco na oferta de tecnologias e conhecimento; e comercialização, que, ainda no segundo semestre, será incrementada com o lançamento da comercialização via barter.
O barter é uma operação tradicional de negociação utilizada entre produtores rurais e empresas de insumos. Em linhas gerais, a revenda ou distribuidor fornece os insumos de que o agricultor necessita, como sementes, fertilizantes e agroquímicos, e ele paga pelos produtos com a sua produção em sacas. O Broto pretende digitalizar e simplificar esse processo, integrando todos os atores envolvidos.
Segundo o diretor, a plataforma do Broto já recebeu mais de 6 milhões de acessos e conta com 190 mil produtores cadastrados, mas a meta é chegar a um milhão de agricultores cadastrados até 2028. Para a plataforma, diz o diretor, “é crucial ter acesso a dados e protocolos dos produtores para oferecer soluções personalizadas”.
Clube Broto deve ser lançado 2º semestre
Além da comercialização em barter, o diretor-executivo afirma que no segundo semestre será lançado o Clube Broto, um fundo que oferecerá acesso à tecnologia em um único local e com uma curadoria especializada.
“O Clube quer facilitar o acesso às melhores soluções tecnológicas para pequenos e médios produtores, que frequentemente não têm tempo para avaliar todas as opções disponíveis no mercado. Acreditamos que essa iniciativa será um avanço significativo para o setor”, diz Martinez.
Sem abrir os números, o diretor-executivo diz que o Broto chegará no segundo trimestre de 2025 em seu breakeven, o ponto em que uma empresa não tem lucro nem prejuízo, ou seja, quando as receitas de vendas cobrem exatamente as despesas de produção e comercialização, deve chegar.
Conectividade no campo
Mas ainda há desafios a serem superados e um deles envolve a principal forma de comunicação do Broto: a conectividade no campo. Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) de 2022 revelam que mais de 70% das propriedades rurais no país ainda permanecem offline, sem qualquer conexão com a internet, o que dificulta a adoção de tecnologias digitais.
“O Brasil é uma referência em tecnologias e melhores práticas, mas a desigualdade de acesso é muito grande. Enquanto grandes e mega produtores geralmente têm acesso a agrônomos, consultores e atendimento personalizado, o mesmo não se pode dizer dos pequenos e médios produtores. Muitos desses pequenos produtores não têm o mesmo nível de suporte ou acesso a tecnologias avançadas”, afirma o diretor-executivo.
Reconhecendo o problema, o Broto busca oferecer educação e soluções de conteúdo com curadoria para os produtores. Segundo Martinez, fornecer acesso a informações e tecnologias não apenas aumentará a produtividade desses agricultores, mas também contribuirá para a riqueza do país. “Embora isso não seja a nossa principal fonte de lucro, acreditamos que é essencial para o sucesso geral. Sem essa contribuição, o restante do trabalho não teria o mesmo impacto”, afirma o diretor.
Quando questionado sobre a direção futura do Broto, o diretor-executivo revela que o objetivo é expandir além de um simples marketplace. “Nem plataforma e nem hub, o Broto quer ser um ecossistema para o agro brasileiro. Nosso desafio é operar uma ecossistema digital de negócios no setor agro, que conecta produtores rurais e toda a cadeia do agronegócio nacional”, diz.
Fonte: Exame